O mais interessante do patético é que ele é tão... patético. Estava noite destas, era uma terça-feira, visitando uma amiga cujos telefones não paravam de tocar. Como as crianças dela estavam já dormindo, não me restou outra alternativa a não ser prostrar-me diante da televisão. Pego o controle e canal up e canal down... "estaciono" no programa da Hebe Camargo. Ops, desculpem-me. Era o programa do Fábio Júnior.
Gente, que gracinha! Tem sofá igual ao da Hebe, entrevistas que nem na Hebe, apresentador-cantante como a Hebe... e os mesmos eternos convidados da Hebe. Estavam lá Tiazinha, Monique Evans, Adriane Galisteu e os "famosos" Joel Moreno e outro que nem sei o nome.
Ao fundo dança, um bando de moças trajando maiôs, com faixas de misses, ladeadas por rapazes em black-tie. E uma orquestrinha ao fundo para acompanhar as cantorias do apresentador e de seus convidados.
Enquanto Tiazinha cantava (???), um dos famosos olhava insistentemente para bunda da moça. E Fábio Júnior com cara de tédio no sofá. Depois foi a vez de cantar o tal Joel Moreno. Fábio Júnior levantou para dançar, mas percebendo que ninguém mais o acompanhava teve um súbito ataque de consciência do papel ridículo que fazia e decidiu sentar novamente, voltando à cara de tédio já mencionada.
A observação mais consistente do programa foi do apresentador, que comentou a "coincidência" de todos os convidados vestirem preto enquanto ele, somente ele, estava totalmente de branco. Uau!!! O sequer-traço-no-Ibope que assistia ao programa nem havia percebido.
Mas isto não foi o pior. Calma. Lá pelas tantas, o programa saiu do auditório e passou a apresentar um esquete cômico.
Acho que percebi que era cômico quando ouvi as risadas eletrônicas. Brincadeirinha, nem lembro se havia isto.
O programa é muito medíocre, "brega", "cafona", "kitsh" ou seja lá o nome que queiram dar. Não consigo entender as opções de cada um. Fábio Júnior, a despeito de não ser sua fã, seria mais respeitável se continuasse apenas cantando, que seu repertório também mereça os adjetivos acima. Ou então fazendo o galã em novelas da Globo, algo que só não faz atualmente, imagino, por não querer.
Deve ser aquela mania de querer chutar o balde e tentar novos veículos que vez por outra acomete a gente para nosso próprio e posterior arrependimento.
E mudando de conversa... e o Dias Gomes? Pois é, coitado. Que azarão. Quando vi as 3.952 entradas ao vivo durante o Jornal Nacional e mais as 4.934 matérias em jornais do dia seguinte não pude deixar de me lembrar do livro "O Furo", cujo personagem central é um jornalista especializado em escrever necrológios e que os têm em arquivos, à espera do momento de serem publicados.
Confesso que mais do que lastimar a morte do grande autor que efetivamente era, fiquei pensando em algumas hipóteses. Será que se a TV não falasse tanto no acidente, tantas pessoas estariam no velório? Será que se a TV tivesse feito uma retrospectiva do trabalho de Luiz Armando Queiroz, morto um dia antes de Gomes, seu enterro não teria sido tão concorrido quanto?
Pensem bem... mostra ele de Tuco (A Grande Família), mostra ele como o mendigo de O Estúpido Cupido etc. Será que se em enterro de artista não houvesse tantos artistas vivos eles seriam tão concorridos?
Por favor, não me acusem de morbidez. Penso nisso com sinceridade.
Eu também acho que Dias Gomes foi responsável por alguns dos momentos mais felizes da TV brasileira, por pelo menos um grande momento do cinema nacional e por boas peças de teatro. Mas não consigo me comover ao ponto da histeria.
Não consigo olhar tudo isto sem enxergar um grande show com participação popular orquestrada.