Vou escrever sobre tênis mas não é de tenis. É sobre empatia em grau máximo.
Nesta noite/início de madrugada Alize Cornet venceu Simona Halep num jogo de 3 sets em 2h35min sob sol de 32 graus, que na pista chegava a sabe-se lá quanto. Um jogo que venceria quem chegasse em pé ao final, diga-se, e que valia vaga nas quartas, feito inédito pra Alize que alcançava seu 60⁰ slam consecutivo.
Pois bem… a francesa Cornet venceu merecidamente e aí começa o melhor. Depois de uma entrevista emocionante, antes de se despedir pediu o microfone e cumprimentou a entrevistadora Jelena Dokic, mencionando sua capacidade de seguir em frente e que foi uma incrível jogadora e agora é uma também incrível comentarista. Ambas se abraçaram e choraram.
E porque isto foi sensacional? Sororidade na veia.
Jelena Dokic, pra encurtar, nasceu na Croácia mas fugindo dos conflitos a família se mudou pra Servia/Montenegro e finalmente pra Australia. O pai, seu treinador, um sérvio louco, abusava da tenista física e emocionalmente. Espancando, chicoteando até a perda de sentidos (uma vez ao menos) após derrotas e não a deixando entrar em casa. Ela livrou-se dele finalmente e está tudo narrado no livro da moça, lançado em 2017.
Aposentada das quadras, não sem motivos desenvolveu depressão e outras doenças mentais que não especifica. Pra completar, neste mês chegou ao fim seu casamento de anos.
E o que os seres queridos das redes sociais fazem com ela? Passam os dias em ataques gordofóbicos. Sim… ganhou peso.
E por isso tudo Cornet simplesmente fez questão de abraçar a antiga adversária e fazê-la sentir-se amada em plena Rod Laver Arena, a principal quadra do Australian Open.
Alize Cornet compensou anos e anos de pitis e tretas que protagoniza com frequência em quadra.
Ele! O maravilhoso, descomunal e inigualável... Federer.
Finalmente encontrei Roger Federer. Na primeira tentativa, se lembrarem, ele caiu do Sony/Miami um dia antes da minha chegada. Trairagem. Mas veio ao Brasil. E eu fui a São Paulo vê-lo. E em que pese o tititi do custo dos ingressos posso afirmar que valeu cada centavitcho.
Ele é de fato o melhor jogador de tennis do circuito e não importa se a colocação do ranking é alta, média ou baixa. E só discordará disso quem jamais o viu jogar. Ou quem é cego pela paixão. Uma pessoa pode não ir com a cara dele. Pode não apreciar a personalidade. Pode achar o que quiser. Mas ninguém na quadra joga com a mesma graça, leveza e variedade. Virou lugar comum dizer isso, mas o que ele faz com a raquete é arte pura.
E ainda por cima é um cavalheiro.
Ah, e não faz a linha "tudo por um fã" de alguns de seus pares. Não coloca nariz vermelho de palhaço para conquistar.
E mais uma coisa: ela ama muito o que faz. Ninguém cumpre a agenda doida desta Gillette Federer Tour com a paciência e dedicação aos compromissos como ele vem fazendo. Tudo bem que ganhou (dizem) mais do que lhe renderam os torneios deste ano, que não foram poucos, mas convenhamos... ele ganharia a mesma quantia sendo bem mais comedido na confraternização.
Tudo bem se "todo mundo" conhecia isso e só eu que não... mas fiquei absurdamente surpresa com o que "descobri" em pleno Grand Central Terminal, em Nova York, uma das mais movimentadas e famosas estações de trens e metrô do mundo.
Pois lá, subindo um elevador direto ao quarto andar, encontrei o Vanderbilt Tennis Club, conjunto composto por uma quadra de tênis para jogos e aulas e mais duas para treinamentos, com canhões lançadores e gravação do seu jogo para posterior análise em slow motion.
Fiquei imaginando uma coisa destas na Estação da Luz, no Mercado Municipal de Curitiba... sei lá. Que delícia.
Hoje descobri o que atravancou minha "carreira" no tênis e ainda atrapalha: sou uma espécie de café com leite.
Café com leite é a criança que participa da brincadeira dos maiores, por exemplo, como uma concessão. Sem que esteja de fato concorrendo nos jogos. Na disputa.
Pois eu sou assim.
A mim interessam os pontos bonitos. De efeito. A bola na paralela. A devolução na linha. O contrapé. O swingvolley. E quando os acerto são lindos. Mas... o número de vezes em que a mente envia a mensagem mas braço, pernas e joelhos não a executa são muitas. Erros. Erros. Erros. Bolas fáceis que se eu fizesse o básico passariam, param na rede ou saem da quadra. Uma inhaca.
E então o que eu faço? Grito, sapateio, me emendo? Nada. Dou risada por saber que fiz o "quase" bonito. E não me incomodo de perder assim.
Semana passada tive uma das melhores experiências da minha vida: fui ao Sony Ericsson Miami, torneio Master 1000 do tênis. Master 1000 quer dizer que acima dele, só um Grand Slam (Australia Open, Roland Garros, Wimbledon ou US Open). Era um desejo antigo. Um sonho, diria.
Sempre pensei em ir a um destes torneios para ver os atletas top. Não me interessava por finais pois nelas só cabem dois jogadores, queria mais. Depois de pensar bastante optei por buscar ingressos para quarta rodada (ou oitavas de final, como preferirem). A chance de um top 10 cair antes disso é pequena.
Próximo passo veio da Bê, do blog Meninas Vodca. Foi ela quem indicou a Faberg Tennis Tour para facilitar o processo, com pacotes personalizados para eventos do circuito de tênis.
E vamos ao que interessa.
Este é o mapa do área de tênis do Parque Crandon, um lugar muito bonito na ilha de Key Biscayne. Na quadra central, o estádio grandão, cabem 13.800 confortavelmente sentadas. Há ainda o que chamam de Grandstand, que seria a quadra 1, e mais duas quadras com arquibancadas móveis (mas também com cadeiras). Fora estas, as partidas ainda são realizadas em 10 outras quadras. Os treinos contam com 6 quadras disponíveis e mais duas são reservadas para as atividades do público, no que chamam de "Day tennis". Se quiser ver em maiores detalhes, há um PDF aqui.
A estrutura do complexo é um escândalo. Olha, lá não tem espaço para gracinhas do tipo "imagina na Copa". Tudo funciona com enorme respeito ao público. Muitos e limpos banheiros, ampla e diversificada área de alimentação dentro e fora do estádio principal. Com opções para todos os gostos e bolsos. Do (ótimo) cachorro quente a buffets em ambientes refrigerados.
Há estandes dos patrocinadores e lojas de artigos esportivos. Tudo caro, claro. E não porque é em dólar pois isso deixou de ser problema grande para brasileiros... mas porque fora do evento tudo podia ser conseguido a preços bem menores. A não ser esta bela raqueteira Heads que comprei pela bagatela de $20.
E pra constar... tinha achado esta raqueteira meio coisa de perua, com o dourado etc. Mas ai dei de cara com o estande da Cortiglia, marca italiana de bolsas para tênis. Deus do céu! Confesso que as achei lindas mas não tenho coragem de chegar na quadra com a mais simples delas. Vale a pena visitar o site.
Confesso que chorei
Aos jogos, pois. Antes uma breve narrativa triste.
Na véspera da nossa "estréia" no torneio Roger Federer, motivo número um da ida, caiu ante Andy Roddick. Perdeu. O cara teve um dos melhores inícios de temporada de qualquer jogador em todos os tempos e perdeu para o semi-aposentado Roddick. Na manhã que sucedeu a esta derrota o clima geral no hotel e na chegada ao torneio era de uma tristeza sem fim.
Não importa se o cara é nadalista ou o que for. Ninguém vai a um torneio destes, investindo tempo e dinheiro, para não ver Federer em seja qual for a posição no ranking que estiver. Federer em um mal dia faz mais jogadas geniais (e elegantes) que a maior parte dos jogadores em um temporada inteira. Confesso que tive inicialmente que tirar alegria das profundezas para me animar.
Não foi difícil. Já no primeiro momento o jogo disponível era Rafael Nadal x Kei Nishikori. Primeiro set bom, segundo nem tanto. 6-4 6-4 para Nadal, visivelmente não em sua melhor forma.
E não poderia deixar de mostrar aqui a real dimensão da puxada de cueca do Nadal em espetacular flagrante obtido pela Deni, que gentilmente me cedeu a foto.
Lá pra frente, depois deste dia, Nadal joga com Tsonga. O perfil de cada um fica evidenciado em suas cadeiras. Nadal, o obssessivo focado, disciplinado... travado, eu diria, é o dono da cadeira mostrada na primeira foto. Tsonga, o molecão, o dono da segunda. Olha a primeira, com camisa penduradinha e tudo guardadinho, e a bagunça da segunda.
Antes disso Jo-Wilfried Tsonga e Florian Mayer jogaram na Grandstand (quadra 1).
E ai vieram outros jogos em que pude ver em ação...
Na ala feminina...
Aliás, Bartoli é a mais engraçada das jogadoras com seus movimentos rápidos na preparação dos golpes. Algo como a "guitarra invisível". Aqui, "raquete invisível". Nunca vi tanta comemoração como a dela neste dia.
E ele, o indiscutível número 1...
Que fez um jogaço contra o espanhol David Ferrer.
Que antes disso ganhou do Del Potro.
Ah, o jogo anterior do Djokovic, que também vimos, foi com o francês Richard Gasquet.
E começam as moçoilas. Primeiro, Maria Sharapova e Na Li. Olha, aqui vale destacar. Este povo do tênis é muito magro, em geral. Nadal parece ser um "tronquinho" mas não é. Claro que não é fraco, mas é um cara normal. Djokovic é um fiapo humano. E Sharapova... gente... Sharapova de lado é um varapau.
As campeãs do torneio de duplas femininas Maria Kirilenko e Nadia Petrova.
Ah... vale registrar que eu não sei o que acontece com estas meninas. A Petrova é uma parede na rede. Porque insiste em ficar batendo no fundo da quadra quando joga simples? Fiquei abismada.
E voltando ao tema da magreza, Venus Williams, no jogo contra a campeã Agnieszka Radwanska, parecia que iria quebrar. Os bracinhos mais magrinhos que os da Sharapova e um cansaço visível. Por motivos pessoais fiquei emocionada ao ver a Williams mais velha em quadra. Para quem não sabe, Venus ficou um longo período fora das quadras após descobrir-se com Síndrome de Sjögren, doença autoimune (da família do lúpus) que provoca ressecamento de olhos e saliva, artrite reumatóide, artrose, doenças renais e o que mais der na "telha" da enfermidade.
E aqui mais um break. No estande da Tennis Plaza, loja que por ser parceira da Sony Ericsson no evento tinha dois espaços, um de equipamentos e outro de roupas, as roupas da Eleven, marca da Venus, se destacavam. A linha é bem legal. Sem frufrus em rendinhas com as da Stela McCartney, as repetições e variações sobre o mesmo tema da Nike e Adidas, ou a falta de imaginação de Yonex, Fila e Lacoste. Usaria qualquer uma das blusas, shorts, vestidos e saias da Eleven.
E falando em Williams, agora Serena, que fez contra a ex-número 1 Caroline Wosniacki o que considero um dos melhores jogos que vi no torneio. O fato é que a gente não tem idéia, olhando na TV, no quanto corre a bola deste povo. Homens ou mulheres, não importa, a bola é muito mais acelerada do que a gente vê na TV. A bichinha leva um nada de tempo pra chegar do outro lado. E neste dia, acreditem, Caroline bateu muiiitoooo.
Mais um aparte. Em cada sessão do estádio há um/uma fiscal para impedir movimentação de torcedores durante os pontos. Só se pode entrar ou sair do lugar nas trocas de lados. Ocorre que ao menos 90% destes "cuidões" são mulheres... negras. E ai, meus caros, não tem quem controle a torcida delas quando entram em ação as irmãs Williams. Torcem e gritam descaradamente. Algo que seria impensável no Brasil, onde se tem a noção de que quem está no local a trabalho não pode se manifestar.
O público, em sua maior parte latino-americanos (brasileiros e argentinos), gargalhava a cada manifestação.
Ah, antes do primeiro jogo do dia a gente pode ver um aquecimento do que seria o segundo jogo. Entraram, em quadra, em roupas de treino, o style de Janko Tipsarevic contra a total falta de style do Andy Murray. Olha só:
Os dois lado a lado batendo bola com seus preparadores
E Andy Roddick, o algoz do meu queridão Federer, perde para Pico, o galã argentino conhecido como Juan Monaco.
Tanto que no dia seguinte, mesmo de folga, foi dar uma sacolejada pelo complexo a serviço do patrocinador. Distribuindo autógrafos e sorrisos.
E ele. O Galã de Praga, o muso da mulherada...
É isso. Vontade de mais. Mas aqui em casa chegamos a uma conclusão. Não iremos a Grand Slam. Pode ser muito bom e tudo... reconhecemos que são os mais mais... mas não damos conta de jogos em 5 sets nem para olhar.
Apesar da derrota do Federer, continuo achando que oitavas de final são os melhores jogos para vermos todos. Ou quase, em caso de "catástrofes" com a citada.
E, finalmente, dá pra ir sem pacote algum. É fácil. Mas o serviço da Faberg é muito bom. Recomendo a quem quiser uma viagem destas.
Um detalhe mais. Fomos no terceiro anel. E a visão era bem boa.
Dois vídeos toscos para verem como era a visão:
Já ia esquecendo!!!! No hotel em que estava havia tenistas. Segundo ou terceiro escalão, claro. E estavam todos os árbitros hospedados com a gente.
No café da manhã troquei palavras com o árbitro mais cool que existe, Kader-Nouni.
A casa ali ao fundo é onde moro. E a quadra em primeiro plano fica bem na diagonal e poucos metros as separam. Poucos metros, 8 meses, 80 sessões de fisioterapia e uma aplicação de PRP.
Mas estou boa. Tenho todos os movimentos do cotovelo, coisa inimaginável há pouco. O exame clínico, o mais eficiente para detectar tennis elbow (epicondilite lateral), deu ok. Sem que o médico pedisse, e precavida que sou, fiz uma ultrassonografia que nada apontou. Zerada.
Mas o cotovelo ainda dói e, segundo o médico, é uma tal de memória da dor. E mandou eu fazer fortalecimento muscular e voltar a jogar de uma vez. Retomei o personal e marquei o instrutor. Vai ser amanhã minha volta às quadras.
E pasmem? Está doendo o cotovelo. Doendo sem perda de movimentos, sem perda de força, sem perda de nada. Só doendo.
Ok. Enlouqueci. "Medrei". A idéia de dar meu primeiro golpe e a dor real voltar me apavora. Mas me apavora ao ponto de eu me boicotar a fazer o que mais gosto. Tudo de novo, dor e tratamentos, seria (será?) de matar.
Marcos Bagdathis, tenista cipriota de quem sempre fui fã, hoje encerrou nossa parceria. Ao encontrar dificuldades ante Stanislas Wawrinka durante partida da segunda rodada do Aberto da Austália, enfureceu-se, surtou (seja lá o que for) e quebrou quatro raquetes sucessivamente.
Bonito. Muito bonito. É bem este equilíbrio que se espera de um atleta de alto nivel.
Este video tosco eu produzi só para demonstrar como anda minha recuperação após a aplicação da PRP - Plasma Enriquecido de Plaquetas, já comentada aqui.
O mundo deu muitas voltas desde o finalzinho de junho, quando a dor se instalou em meu cotovelo, fosse diagnosticado um tennis elbow (epicondilite lateral), passasse por 3 sessões iniciais de fisioterapia, tivesse uma cirurgia prescrita, usasse medicamentos vindos do Japão, fosse a São Paulo para me submeter a tal aplicação, voltasse a Curitiba e já tivesse completado dois lotes de 10 novas sessões de fisioterapia. Ufa!!
Tudo isso para que, desde ontem, eu consiga fazer sem dor aqueles três simples movimentos mostrados no video ali de cima: pegar o roupão no cabide, puxar um livro na estante e me servir em um bufê usando o pegador de massas ou saladas. Tem ainda o manuseio do hashi. Pra encurtar, todo e qualquer movimento de pinça, com pouca ou média força associada.