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A casa ali ao fundo é onde moro. E a quadra em primeiro plano fica bem na diagonal e poucos metros as separam. Poucos metros, 8 meses, 80 sessões de fisioterapia e uma aplicação de PRP.

Mas estou boa. Tenho todos os movimentos do cotovelo, coisa inimaginável há pouco. O exame clínico, o mais eficiente para detectar tennis elbow (epicondilite lateral), deu ok. Sem que o médico pedisse, e precavida que sou, fiz uma ultrassonografia que nada apontou. Zerada.

Mas o cotovelo ainda dói e, segundo o médico, é uma tal de memória da dor. E mandou eu fazer fortalecimento muscular e voltar a jogar de uma vez. Retomei o personal e marquei o instrutor. Vai ser amanhã minha volta às quadras.

E pasmem? Está doendo o cotovelo. Doendo sem perda de movimentos, sem perda de força, sem perda de nada. Só doendo.

Ok. Enlouqueci. "Medrei". A idéia de dar meu primeiro golpe e a dor real voltar me apavora. Mas me apavora ao ponto de eu me boicotar a fazer o que mais gosto. Tudo de novo, dor e tratamentos, seria (será?) de matar.

Resiliência tem limite.

Quem me dera ser a causa deste seu coração disparado que já tantas vezes nos fez correr para o ambulatório em madrugadas curitibanas e até uma tarde baiana. Que medo intermitente aflige esta alma e me impede compreendê-la?  Não há tempo e nem espaço para seu temor. Ele apenas persiste e às vezes parece existir por si mesmo, havendo se perdido da causa. Somente “um medo do medo que dá”.

E enquanto isso seu olhar me busca, noite após noite, meio que suplicando uma resposta: “isso vai passar”? “Você acha que vai ser sempre assim”?

Com sempre respondo positivamente a todas suas perguntas. Para acalmar seu apavoramento e porque acredito mesmo que vai passar. Porque acredito em você e na sua capacidade de se reinventar. E, sobretudo, porque não sei todas as respostas mas quero ser aquela pessoa que está ali para ser questionada. Porque eu quero estar ali, como tenho estado.

Este meu desejo basicamente parte do saber que a pessoa ofegante, taquicárdica, trêmula e de olhar e atos suplicantes não corresponde a sua totalidade. Não define quem você é. É só uma parte. Um período. Um estágio. Prolongado, talvez? Quem me conhece, como você, sabe que não me faço estas perguntas. Simplifico.

Acredito que depois de tanto elaborar, remoer, mastigar, conviver, sofrer, chorar, não chorar... de tanto viver este medo, um dia você vai olhar para seu reflexo num espelho qualquer e se jogar. Enfrentar definitivamente aquilo que assusta você. Simbolicamente, que seja. Ou não.

Eu não tenho as respostas que você busca mas quero que você continue me perguntando.

E se um dia você, para superar seu medo, decidir saltar da Pedra da Gávea em uma asa delta, desafiando tudo, a coisa mais certa de todas as coisas é que estarei na areia de São Conrado esperando você com uma água de coco. Ainda que no bolso esteja um Frontal, por garantia.

Porque afinal, onde está escrito que não se pode ter medo?

Eu tenho medo de dentista, de trânsito e de injeção. Vou ao dentista com Dormonid, ando no trânsito freando no carona e quase desmaio pra tirar sangue. Mas faço os três.

E acabo de perceber que talvez a resposta que eu posso dar a você, além do meu amor e suporte, é a seguinte: desista de curar o medo. Aprenda apenas a enfrentar. A viver “apesar” dele. Não dê tanta moral que ele um dia talvez fique quieto no canto dele.

Até cair no ostracismo.

Duas vezes por ano recebo requisição para exames de sangue. Não um ou dois. Muitos. Vamos estabelecer que a colheita feliz rende uns 10 tubetes do meu sanguinho.

E eu morro de medo de agulha. Eu vou porque mais do que medo de agulha, tenho medo de ficar doente de verdade. Então um dia acordo e vou lá.

Chego no laboratório e aviso que tenho medo e que, por favor, me entreguem às mãos mais experientes da casa. Conto que minhas veias somem e que em geral a primeira tiradora amarela, sendo necessário chamar a fod*na do pedaço.

Peço pra otimizarmos o processo sugerindo que já chamemos a mestre.
Mas nunca... jamais me dão ouvidos.

Hoje não foi diferente. Fiz o discurso introdutório, entrei na sala, expliquei que chego a desmaiar, em vão. Mandou eu deitar e tentou braço esquerdo, braço direito. Nada. Mandou abrir e fechar as mãos. Nada.

Saiu e foi buscar a tal poderosona. Tenta aqui, tenta ali. Deu. Lá se vão os 10 tubetes.

Fico branca e tonta. Não desmaio. Mas porque diacho não acreditam no que falo e me economizam? Sou medrosa mas não ao ponto de perder a percepção da realidade.