...fosse hoje, só restaria a seus proprietários uma mudança planetária. As redes sociais viraram a praça pública de apedrejamento. Poucos tentam olhar os dois lados e os julgamentos são sumários. Dois fatos recentes me fizeram pensar nisso: a exigência do uso de uniforme e crachá para as babás que acompanham crianças no Clube Pinheiros de São Paulo e o atropelamento dos ciclistas em Porto Alegre.
Esta questão do Clube Pinheiros e as babás não é nova e muito menos restrita a esta entidade em particular. Sou filha do Dr. Victor Hugo Ribeiro, talvez a maior autoridade brasileira em questões relacionadas a clubes e associações. Tenho alguma experiência herdada no tema desde que há muitos anos digitei seu Manual de Clubes e Associações e discuti muitos de seus verbetes ao longo da vida.
Os clubes são entidades privadas e o uso de suas dependências é restrito aos sócios. É isso que seus associados defendem com a exigência. Pessoalmente acho a "instituição clube" uma bobagem e se ainda faço parte de uma única é porque jamais pedi descadastramento e sou considerada dependente de sócio-remido. Mas compreendo a preocupação do clube.
Ao contrário de "n" tuiteiros que foram às redes sociais gritar contra a medida, consigo olhar por dentro da sala de reuniões da diretoria e ver que tem um monte de associados trazendo para dentro do clube a prima, a vizinha, a namorada, a sei-lá-quem, como se fosse a babá. Acham que não? Gente... neste país neguinho rouba papel do escritório pra levar na escola do filho. Levam o cartucho da impressora pra casa. Acham que não encaram um papel de babá pra desfrutarem o almoço domincal do Harmonia?
Ai a babá de verdade se ferra, inevitável. Lastimável, claro. Que ruim que nem todos podem ser sócios dos clubes mas, por favor, não estamos aqui falando de acesso à saúde, educação e moradia. Acho bem defensável, ainda que patética pelo que carrega em seu bojo, a posição do clube.
O outro fato é o ignóbil atropelamento dos ciclistas em Porto Alegre. Antes de qualquer coisa deixo aqui claro que o sujeito que faz aquilo (de acordo com o video amplamente divulgado) é um cretino completo. Não há justificativa para tal ato, mesmo considerando o quão assustador possa ser um bando de pessoas batendo em um carro como ele argumenta. Mas o ato em si já faz dele um criminoso, não precisamos demonizá-lo ainda mais. Ao menos não sem checagens mais apuradas. E cito a tal menção a seu "histórico de multas graves".
Ora. Eu tenho uma multa gravíssima por estar dirigindo na contramão em rua da região central. Perdi recursos em todas as instâncias e tenho provas de que não estava lá. Provas documentais e testemunhais. O DETRAN, todos sabemos, tem também um histórico de invenção de multas considerável. Claro que não atropelei pessoa alguma mas se um dia me meter em uma enrascada e vasculharem minha vida?
Este achincalhamento público é um perigo. Eventualmente o pensamento coletivo pode estar correto, mas há sempre um grande risco de estar pautado na paixão, e não na verdade. Depois será tarde para correções.
Não vejo solução para esta loucura generalizada de justiçamento. A humanidade não vai aprender a pensar antes de falar/postar. Saibam, contudo, que estas atitudes pulverizadas irão ficar sem reparação pois isto não será tão simples quanto conseguir um dano moral contra FSP ou Veja.