Alguém pode me explicar porque novela de época sempre tem um núcleo ambientado no bordel? Não venham me dizer que é porque todos os freqüentavam pois isto não é justificativa suficiente... fosse assim os grandes romances também deveriam traze-los e não me recordo de algo no gênero em "Crime e Castigo", por exemplo.
Mas é claro que não ouso tentar equiparar clássicos da literatura a Gilberto Braga, que apesar de excelente novelista está longe de ser genial. Foi talvez só um exemplo infeliz.
Vou me centrar no que interessa. A Globo lançou nesta semana "A Força de um desejo" e realmente espero que não seja apenas mais uma novela ambientada no período pré-abolicionista, com escravos bondosos, mocinhos idealistas, mulheres sofredoras e "coronéis" malévolos. Para isto já tivemos Escrava Isaura (z?).
E falando em novela de época... vocês já repararam que sempre que as coisas vão mal a melhor fórmula é lançar uma novela ou minissérie de época? A audiência não andava lá estas coisas e então veio "Hilda Furacão", seguida quase que imediatamente por "Chiquinha Gonzaga". Parece que o povo gosta de um passado e a Globo agradece. Dá pra repetir figurino e adereços adoidado.
Mas não serei injusta... até o momento as coisas vão bem. Elenco bonitinho, com Malu Mader e Fábio Assunção retomando a parceria de uma minissérie recente e tão relevante que nem lembro o nome. Fotografia e cenários bacaninhas. Nada mal. É claro que isto é o início e como diria a avó do meu sábio amigo Fabiano Kubrusly, "vassoura nova sempre varre bem".
E sem qualquer preconceito, é apenas uma associação de idéias... falando em vassoura nova... vocês viram a Sônia Braga? O pior não é ela estar, digamos, pouco "inteiraça". Isto é normal e para lá todos caminhamos. Mas precisava falar
com aquela vozinha tão doce, meiga e forçada? Pode ser exigência do personagem mas Sônia Braga não é atriz suficiente para sufocar sua própria personalidade e forte presença.
Há quem diga que a idéia é fazer com que o público lembre dela, numa espécie "esquentamento" da regravação de "Dancing Days", um de seus maiores sucessos... sob a capa protetora de Gilberto Braga.
A história não é de todo ruim. Fazendeirão maltrata a mulher por conta de algo feito, ou supostamente feito por ela no passado. Filho herói e revoltado, rebela-se contra a situação e sai de casa. Encontra então a "mocinha", que foge um pouco aos padrões pois é Malu Mader liderando o bordel citado lá em cima. E segue por aí.
É claro que esta boa impressão causada pelas primeiras imagens deverá ruir por volta do 40º capítulo, momento em que o fôlego dos novelistas parece sucumbir ante as exigências de uma produção industrial. Aí começa a encheção de linguiça, a baba, o melodrama e o tédio.
Tédio igual ao que anda mergulhada a novela das 8, com seus 20 pontos no Ibope. Número de tirar o sono de qualquer executivo acostumado com antigos 60, 70 pontos.
Qualquer hora a Globo vai fazer novelas de época ambientadas nas décadas de 70 e 80. Tempos em que dominava a telinha de forma indiscutível e em qualquer horário.
Duro vai ser agüentar merchadising dela mesma nas telinhas dos personagens.