A escola pública está abandonada. O Governo leiloa diplomas universitários país afora. Nem toda escola particular é uma maravilha, além de proibitiva para muitos. Todos estes argumentos de pais preocupados com a educação de seus filhos caem por terra quando conversamos (?) por dois minutos com qualquer um de seus pimpolhos no MSN, ICQ ou seja lá o software de comunicação eletrônico que se use. Se a gramática já estava morta há décadas, chegou a hora de terminar o serviço e matar de vez a ortografia.
“O que importa é que estão comunicando”, dizem alguns em defesa da série de neologismos como “naum” e “axim” que fere olhos minimamente puristas. “Quandu pricisa eskrevemu direitu”, argumentam os usuários de tais aberrações.
Quando necessário escrevem corretamente? Causa-me risos este argumento, tanto pela improbabilidade quanto pela não percepção de que SEMPRE é necessário escrever corretamente. Ou nossa vaidade começa pelos pés, que precisam estar calçados com um Nike Shox de 500 reais, passa por pernas e nádegas trajadas com uma Fórum de quase 300, sobe por um tronco coberto de Zoomp e termina no cabelo, com o corte e cor da moda?
Gostaria que nosso exército de meninos e meninas dedicasse aos neurônios a mesma atenção que oferece ao tecido adiposo, cuja mínima variação, para cima, é claro, capaz de levá-los à depressão e à anorexia.
Tudo bem, sei que sou de um tempo e lugar em que adolescentes desfilavam com livros para impressionarem meninos e meninas na cantina da escola ou faculdade. Não peço tanto pois entendo a revolução tecnológica pela qual estamos passando, sei que o saber está a um clique e que “Assim falou Zaratustra” é reconhecido hoje como uma banda de rock. Não ousaria pedir que conhecessem Nietzsche, muito embora não fosse má idéia.
Não sou contra a Internet e muito menos a culpo pelo que acontece. É um veículo fantástico. Lamento, contudo, que a mesma supervalorização da imagem percebida nas ruas e shoppings seja transferida de forma equivocada para o mundo virtual, de uma forma na qual o que vale é a estética das letras e não da escrita, por isso tantas maiúsculas e cores.
E se isto tudo é criatividade e eu estou por fora, lastimo. De minha parte, prefiro deixar a criação de palavras nas mãos de mestres como o poeta Manoel de Barros.
"O sentido normal das palavras não faz bem ao poema.
Há que se dar um gosto incasto aos termos.
Haver com eles um relacionamento voluptuoso.
Talvez corrompê-los até a quimera.
Escurecer as relações entre os termos em vez de aclará-los.
Não existir mais rei nem regências.
Uma certa luxúria com a liberdade convém".**
** Manoel de Barros em Retrato Quase Apagado em que se Pode Ver Perfeitamente Nada
* Nome de uma comunidade no Orkut