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Outro dia perguntaram qual seria meu método de trabalho e expliquei... passo os dias em frente ao World com TV, pilhas de jornais e revistas, rádio e telefones ao alcance das mãos e dos olhos. De quebra ainda fico conectada na Internet pois neurose pouca é bobagem.


Outro dia perguntaram qual seria meu método de trabalho e expliquei... passo os dias em frente ao World com TV, pilhas de jornais e revistas, rádio e telefones ao alcance das mãos e dos olhos. De quebra ainda fico conectada na Internet pois neurose pouca é bobagem.


Então, entre zapeadas, telefonemas, sites e notícias vou escrevendo, entrevistando e resolvendo pepinos. Uma vida normal, diria. Só percebo eventuais distúrbios quando consigo lembrar dos sonhos que tenho à noite... invariavelmente ligados ao que passou durante o dia ou semana.


Quinta-feira à noite, seguramente tomada pela avalanche de (des)informação que recebo diariamente, misturei televisão e computadores em meus sonho. Sonho não... pesadelo. E daqueles.


Sonhei que poderosos vírus atacavam minha televisão, ao molde do que fazem estes pestinhas nos PCs. Os vírus eram visíveis na telinha da TV, que funcionava em aparente normalidade. Mas não... enquanto eram transmitidas suas imagens... os vírus corroíam o tubo de imagem e as válvulas (no caso do meu Telefunken 76), criando efeitos aterrorizantes.


O pior destes vírius adentrava minha TV durante a exibição do programa Roberto Leal. Lembram dele? Aquele portuguesinho mala que agora tem programa na CNT/Gazeta. Ele apresenta a Família Lima e enquanto o grupo canta e rebola numa imitação barata de Michael Jackson entro em desespero ao ver meu estimado aparelho se desfigurando.


Tento fazer download do novo McAfee e  “acesso” a TV Cultura (para alguns Educativa). Não consigo pois a versão de Antunes Filho para Vestido de Noiva, por mais “cultural” que seja, é teatro gravado... muito antiga para combater o vírus que me aborrece e que ganha novos formatos, se multiplicando em grande velocidade.


A TV, num descontrole total, cria sozinha uma sucessão de imagens desconexas, como um clip  ensandecido. Todas as homenagens que registravam o primeiro aniversário da morte de Leandro estouravam como pipoca no vídeo. Era Leandro no Jornal Nacional, na Marília Gabriela, no Serginho Groissman, no próprio Roberto Leal... ufa!!!


O suor toma conta do meu corpo e saco o controle remoto para sintonizar na MTV. “Aqui não terá Leandro e nem Família Lima para acabar com meu winchester”, penso. Mas que nada... como em um filme de Hitchcock, se tratava apenas da tradicional trégua que precede o pânico final.


Não... não era Phill Collins, que eu até preferiria nesta situação.


"Nosso amor foi feito pra ficar, vou te amar... Fernando”... era o vírus Perla entrevistado por João Gordo. O rosto da cantora paraguaia ganha a tela num close que chega até a boca. E dela sai, em voz gutural como no filme O Exorcista, a última frase... no estertor: “você se ferrou... você se ferrou... hahahahahaha”.


Eu já avisei. Um dia ainda processo as emissoras de TV por perturbarem meu sono. E não me venham dizer que vejo esta droga toda por que quero.


Os tabagistas conhecem o perigo do fumo mas ganham rios de dinheiro processando as indústrias norte-americanas.

Janaína, entre o espanto e o pânico, não soube o que fazer ante a frase acima, gritada da porta.

Segunda-feira à noite, fugindo ao habitual, fui procurar um restaurante para jantar com “velhas” colegas de trabalho. Depois de percorrer alguns quilômetros atrás de uma casa aberta na metrópole em que vivo, encontramos um buffet de sopas que viria muito bem considerando-se o frio que fazia. Na chegada ao restaurante encontramos Janaína e então, ao seu melhor estilo, Juliana grita: “Oh my God! They killed Kenny”!


Janaína, entre o espanto e o pânico, não soube o que fazer. Ela jamais assistiu ao mais politicamente incorreto desenho animado da televisão mundial, South Park. Nada sabe sobre Cartman, o glutão; Kenny, o tartamudo eternamente morto ao final de cada episódio; Kyle, o esperto judeu; e Stan, líder do grupo e proprietário de um cão gay.


E não sabendo de tudo isto também não poderia saber que a resposta à frase “Oh my God! They killed Kenny” seria “You bastard.


Ante a perplexidade de Janaína eu e Juliana, que sempre tivemos grande prazer em implicar com tão doce criatura, perguntamos: “Em que mundo você vive? Você não conhece South Park”? Ao que ela respondeu: “eu não tenho TV por assinatura.


Foi o quanto bastou para que começássemos a discorrer sobre o vasto universo da qual nossa colega está afastada. Para deixá-la um pouco mais sintonizada (e dar vazão ao nosso talento histriônico), iniciamos um verdadeiro bombardeio de informação sobre o mundo dos seriados norte-americanos.


Explicamos a ela que Felicity (Keri Russel) é uma mocinha que, ainda no “high school”, apaixona-se por um rapaz que vai estudar em Nova York e que, por isso, decide mudar seus planos e para seguir o jovem Ben (Scott Speedman). Informamos que Felicity deixa pra trás, contra a vontade da família, os planos de cursar medicina e que logo ao chegar a NY vê seus sonhos românticos ruírem. Mas que tudo bem... logo se envolveria com o monitor da espécie de “Casa do Estudante” em que vive, Noel (Scott Foley). Vamos além... contamos até o episódio da sua “primeira noite.


Ela também nada sabia sobre Felicity e então passamos para Friends. Cruzes!!! Para nosso espanto Janaína não apenas jamais assistiu as aventuras de Monica, Rachel, Ross, Chandler, Joey e Phoebe, os seis companheiros que desde 1994 dão a seus intérpretes prêmios e mais prêmios nos EUA. Pra falar a verdade, nossa amiga sequer conhece Courteney Cox, que faz Monica no seriado. Tentamos lembrá-la de seu trabalho em Ace Ventura, Cocoon ou o mais recente Razão e Sensibilidade... nada.


Sendo bem clara... nossa amiga não conhecia também a família Salinger, de Party Of Five, e menos ainda as crônicas adolescentes de Dawson’s Creek, baseadas nas experiências de juventude do roteirista Kevin Williamson (Eu vi o que você fez no verão passado), vivida na Carolina do Norte.


Mas nem nosso animado empenho em esmiuçar cada um dos seriados comoveu nossa interlocutora, que agora não apresentava mais um olhar de desculpa por não receber o canal Sony em sua casa. Ela agora mostrava um olhar de incredulidade ante nossa cultura televisiva.


Não era um olhar de crítica pois Janaína não é capaz de detonar qualquer pessoa... por qualquer motivo. Sempre foi a mais boazinha do grupo.


Era até um olhar de admiração por nossa capacidade de decorar roteiros, nomes, biografias e fichas técnicas.


Só que este olhar foi o mais cruel de todos pois me fez pensar na serventia de tudo isto. Possivelmente tanto “conhecimento” só serviu mesmo pra eu matar a coluna da semana.


We bastard!

Tenho uma amiga que costuma dizer, quando estou um pouco chateada com algum comentário feito, “liga não, Márcia... ele fala porque tem boca”. E é impressionante como existem muitas pessoas que falam porque têm boca.

Tenho uma amiga que costuma dizer, quando estou um pouco chateada com algum comentário feito, “liga não, Márcia... ele fala porque tem boca”. E é impressionante como existem muitas pessoas que falam porque têm boca.


Já é notória a quantidade de besteiras que fala Galvão Bueno, tanto que é até conhecido, créditos para o José Simão, como “Magdo”. Estava assistindo o jogo entre São Paulo e Corínthians, aquele em que o convidado era o Meligeni. E o Galvão, lá pelas tantas decide explicar para os telespectadores o que é o Grand Slam, formado pelos quatro maiores torneios de tênis do mundo.


Bem... então ele enumera os quatro e diz que “sem dúvida alguma Rolland Garros é o mais charmoso”. Deve ter dito isto para valorizar os feitos de Guga e Meligeni. É a única explicação para que nosso maior ufanista dissesse tal besteira. O torneio mais charmoso do Grand Slam é Wimbledon, meu caro.


Ele jamais deve ter sequer ouvido falar no que significa comer uma taça de morangos com nata nos jardins do famoso clube inglês nos intervalos das partidas. Mas classe não deve ser o forte de alguém que “criou-se” nos boxes engraxados do circuito mundial de Fórmula 1.


Mudando radicalmente de assunto, uma leitora desta coluna comenta a entrada da Band no mundo do sitcom... dos seriados de televisão ao molde do que fazem os norte-americanos. Ela acredita que não vai dar certo pois só os americanos sabem fazer grandes tolices alcançarem bons resultados e cita Dawson, Friends, Felicity, Party of Five, Barrados no Baile e por aí a fora.


Concordo e discordo dela ao mesmo tempo. Temos algumas experiências neste sentido no Brasil. “Confissões de Adolescente” e “Malhação”, são mais recentes mas há ainda “Malu Mulher”, “Plantão de Polícia”, “Amizade Colorida” etc.


Desta forma acredito que a iniciativa da Band é interessante mas, se olharmos para o setor de teledramaturgia nacional e o encararmos como uma empresa, eu diria que se trata de uma distorção de vocação. E explico.


Os melhores produtos da televisão brasileira são as minisséries, que me parecem a verdadeira vocação nacional. E há uma razão para que sejam nosso melhor produto. Vejamos o que acontece com as novelas. As novelas são muito bem feitas mas longas demais e por isso se perdem no meio do caminho. Para encompridá-las é necessário colocar o que popularmente se chama de “encheção de lingüiça” e os roteiros são alterados de acordo com a repercussão de determinado personagem ou tema.


Nas minisséries nada disso acontece. Aproveitam a técnica desenvolvida na indústria das novelas mas por terem poucos capítulos não há o período de “banho-maria”. E por serem obras fechadas, que só vão ao ar depois de concluídas, são bem mais autorais.


Neste sentido os seriados se assemelham com minisséries e podem dar certo. O que me faz também concordar com minha leitora é que enquanto ela me falava sobre sua descrença no sucesso dos seriados é que eu ia ouvindo e associando tudo isto com literatura.


Seriados são curtinhos. Cada episódio tem início, meio e fim, ainda que exista uma ligação entre eles. Isto é mais ou menos como são os contos. E ninguém bate os americanos em short-stories.


Talvez seja mesmo um desvio de vocação.

Há dias nos quais acordo com sentimentos tão... humanos. E refiro-me obviamente, ao pior sentido da palavra.

Há dias nos quais acordo com sentimentos tão... humanos. E refiro-me obviamente, ao pior sentido da palavra. Noite destas, assistindo a um trecho de Suave Veneno, vibrei ao ouvir de Luana Piovani a seguinte frase: "isto é pra aprender que não tinha nada que vim fazer aqui". Eu, que em geral não sigo qualquer credo ou mantenho qualquer crença, me vi agradecendo a Deus pela oportunidade de ver que ela não é perfeita. Sentimento pequeno e típico da "mulherzinha" que sou.


Fico mais feliz ainda (outro estranho e mesquinho sentimento) ao dar uma olhadela nas manchetes da semana e constatar que não estou sozinha em minha pequenez. Vejam o exemplo do que aconteceu com Gustavo Kurten, o Guga, em Rolland Garros.


Guga vinha bem no Aberto Francês. Estava embalado e feliz com seus resultados. A mídia exultava com a possibilidade de ver novamente nosso tenista erguendo a "bacia". Mais do que isto, a mídia já fazia os cálculos para mensurar os pontos que nosso "herói" precisaria para chegar ao Olimpo, ao primeiro lugar do ranking da ATP. E o que aconteceu então? No dia em que Guga entraria na quadra para tentar vaga nas quartas-de-finais, os jornais, as TVs... até o Baguete... todos... saem-se com esta manchete: "Guga não pode mais ser o nº 1". Bacana! Animador! Que grande incentivo ao jogador.


Neste dia, acordei às 7 da manhã para ver a transmissão da ESPN, e o que pude ver foi um jogador apático, sem garra, sem qualquer tesão. Um cara que entrou derrotado na quadra. De que vale um título no Gran Slam se não há a possibilidade de ser o nº 1? Introjetaram no nosso garotão esta porcaria de sentimento e não me venham dizer que um atleta do porte dele deve ter equilíbrio suficiente para superar estas situações. Tênis, muito mais do que aparenta, é um esporte individual. Nem com o técnico é permitido falar durante a partida. E nesta hora de extrema solidão, um ânimo derrotado não reverte nada.


Marília Gabriela, a que um dia já foi considerada nossa Oriana Fallacci (grande repórter italiana, musa de uma geração de jornalistas), é capaz de perceber a miudeza humana como poucos. Só que por alguma estranha razão abandonou a boa prática do jornalismo e caiu em um mundanismo primário inqualificável. Quarta-feira à noite, durante minha "zapeada" habitual, paro um pouco para ver SBT Repórter (que original nome!).


A idéia do programa, me pareceu, era mostrar um pouco da história do Brasil Imperial via história de príncipes e princesas. E então deu-se um gancho (era preciso linkar) maravilhoso. Depois de mostrar Caroline, Stephanie, Lady


Di e a nova esposa do príncipe Edward, Marília sai-se com esta: "no mundo, milhares de mulheres sonham com a possibilidade de se tornarem princesas. Ninguém melhor do que um príncipe para nos contar o que é necessário para conseguir isto". E corta para nosso modelo mais próximo de príncipe... D. Joãozinho, que diz: "ela deve ser discreta, blá, blá, blá, blá...".


Que vergonha de mim, da mídia e de Gabi.

Leitor defende que o barateamento dos aparelhos levaram ao empobrecimento da programação.

Um leitor escreve mencionando o desenvolvimento industrial dos últimos anos e, de certa maneira, credencia a transformação a má qualidade do que nos é apresentado hoje na televisão. Em resumo ele defende que, com o barateamento dos aparelhos, eles se popularizaram e que, com isso, a programação também teria seguido este rumo.


Hum... pode ser. É uma teoria interessante e defensável, muito embora eu não goste de associar o termo "popularizar" a mau gosto. Fosse assim, algumas manifestações absolutamente populares não seriam maravilhosas. Mas isto é outra história, vou adotar o termo "popularizar" como quase sinônimo de má qualidade.


Em primeiro lugar, não estou tão certa assim que a TV de outros tempos seria melhor que a de hoje. E não porque a de hoje tenha mais gabarito, não é isto o que quero dizer... mas acho que são igualmente boas e ruins. Tudo bem, O Bem Amado era melhor que Suave Veneno, mas as minisséries feitas atualmente são tão boas quanto.


Lembro que há mais ou menos duas décadas eram feitos experimentalismos em novelas, o que hoje não é sequer cogitado. Houve uma novela, Espelho Mágico, que não apresentava linearidade alguma. Os atores interpretavam atores que faziam uma novela e uma peça de teatro dentro da novela. Muito interessante e de pouca valorização. Houve ainda a novela Sinal de Alerta, meio futurista, e O Rebu, cuja trama transcorria em a “couple of hours”, que as traduções insistem em verter erradamente para "duas horas".


Mas neste tempo os televisores ainda eram caros e nem assim estas foram novelas de grande audiência para os padrões da época, o que pode derrubar a teoria do meu caro leitor e que no momento defendo.


Da mesma forma associar industrialização e qualidade é perigoso. Se por um lado havia O Sítio do Pica-pau Amarelo, Vila Sésamo e todos os musicais infantis maravilhosos que já foram produzidos... é bom não esquecer que Balança Mas não Cai, Escolhinha, A Praça é Nossa, Hebe Camargo etc não são invenções dos 90's.


Achar que a popularização do aparelho exerce a maior influência no baixo nível da programação pode simplificar demais as coisas. Dentro desta linha, contudo, penso que três fatores relacionados a este fato contribuem para que nós, que de um modo geral não gostamos do que é feito, larguemos paulatinamente o veículo:


1. Apesar de tudo, da falta de investimentos e incentivos públicos, ao menos a classe média está mais escolarizada;


2. A industrialização - videocassetes, CDs, Internet, publicações etc - melhorou muito o processo de informação no país. Houve um avanço tecnológico que não foi acompanhado pelo artístico;


3. Trata-se de um veículo de massa e, por ser assim, é feito para o telespectador médio. Jamais agradará aos mais exigentes no Brasil, na Inglaterra ou em qualquer lugar do mundo. E nunca foi tão "de massa" quanto é hoje.


Pode mesmo ser que algumas pessoas não estejam mais gostando de televisão porque, como disse meu "missivista-eletrônico", antes poucos tinham TV. Se ele estiver certo, imagino que estes poucos talvez hoje estejam saturados de ver sempre a mesma coisa, já que vêm a mesma coisa há mais tempo.


Raciocínio elitista? Não. Se tudo der certo, daqui a alguns anos todos estarão igualmente saturados.

O mais interessante do patético é que ele é tão... patético.

O mais interessante do patético é que ele é tão... patético. Estava noite destas, era uma terça-feira, visitando uma amiga cujos telefones não paravam de tocar. Como as crianças dela estavam já dormindo, não me restou outra alternativa a não ser prostrar-me diante da televisão. Pego o controle e canal up e canal down... "estaciono" no programa da Hebe Camargo. Ops, desculpem-me. Era o programa do Fábio Júnior.


Gente, que gracinha! Tem sofá igual ao da Hebe, entrevistas que nem na Hebe, apresentador-cantante como a Hebe... e os mesmos eternos convidados da Hebe. Estavam lá Tiazinha, Monique Evans, Adriane Galisteu e os "famosos" Joel Moreno e outro que nem sei o nome.


Ao fundo dança, um bando de moças trajando maiôs, com faixas de misses, ladeadas por rapazes em black-tie. E uma orquestrinha ao fundo para acompanhar as cantorias do apresentador e de seus convidados.


Enquanto Tiazinha cantava (???), um dos famosos olhava insistentemente para bunda da moça. E Fábio Júnior com cara de tédio no sofá. Depois foi a vez de cantar o tal Joel Moreno. Fábio Júnior levantou para dançar, mas percebendo que ninguém mais o acompanhava teve um súbito ataque de consciência do papel ridículo que fazia e decidiu sentar novamente, voltando à cara de tédio já mencionada.


A observação mais consistente do programa foi do apresentador, que comentou a "coincidência" de todos os convidados vestirem preto enquanto ele, somente ele, estava totalmente de branco. Uau!!! O sequer-traço-no-Ibope que assistia ao programa nem havia percebido.


Mas isto não foi o pior. Calma. Lá pelas tantas, o programa saiu do auditório e passou a apresentar um esquete cômico.


Acho que percebi que era cômico quando ouvi as risadas eletrônicas. Brincadeirinha, nem lembro se havia isto.


O programa é muito medíocre, "brega", "cafona", "kitsh" ou seja lá o nome que queiram dar. Não consigo entender as opções de cada um. Fábio Júnior, a despeito de não ser sua fã, seria mais respeitável se continuasse apenas cantando, que seu repertório também mereça os adjetivos acima. Ou então fazendo o galã em novelas da Globo, algo que só não faz atualmente, imagino, por não querer.


Deve ser aquela mania de querer chutar o balde e tentar novos veículos que vez por outra acomete a gente para nosso próprio e posterior arrependimento.


E mudando de conversa... e o Dias Gomes? Pois é, coitado. Que azarão. Quando vi as 3.952 entradas ao vivo durante o Jornal Nacional e mais as 4.934 matérias em jornais do dia seguinte não pude deixar de me lembrar do livro "O Furo", cujo personagem central é um jornalista especializado em escrever necrológios e que os têm em arquivos, à espera do momento de serem publicados.


Confesso que mais do que lastimar a morte do grande autor que efetivamente era, fiquei pensando em algumas hipóteses. Será que se a TV não falasse tanto no acidente, tantas pessoas estariam no velório? Será que se a TV tivesse feito uma retrospectiva do trabalho de Luiz Armando Queiroz, morto um dia antes de Gomes, seu enterro não teria sido tão concorrido quanto?


Pensem bem... mostra ele de Tuco (A Grande Família), mostra ele como o mendigo de O Estúpido Cupido etc. Será que se em enterro de artista não houvesse tantos artistas vivos eles seriam tão concorridos?


Por favor, não me acusem de morbidez. Penso nisso com sinceridade.


Eu também acho que Dias Gomes foi responsável por alguns dos momentos mais felizes da TV brasileira, por pelo menos um grande momento do cinema nacional e por boas peças de teatro. Mas não consigo me comover ao ponto da histeria.


Não consigo olhar tudo isto sem enxergar um grande show com participação popular orquestrada.

Alguém pode me explicar porque novela de época sempre tem um núcleo ambientado no bordel?

Alguém pode me explicar porque novela de época sempre tem um núcleo ambientado no bordel? Não venham me dizer que é porque todos os freqüentavam pois isto não é justificativa suficiente... fosse assim os grandes romances também deveriam traze-los e não me recordo de algo no gênero em "Crime e Castigo", por exemplo.


Mas é claro que não ouso tentar equiparar clássicos da literatura a Gilberto Braga, que apesar de excelente novelista está longe de ser genial. Foi talvez só um exemplo infeliz.


Vou me centrar no que interessa. A Globo lançou nesta semana "A Força de um desejo" e realmente espero que não seja apenas mais uma novela ambientada no período pré-abolicionista, com escravos bondosos, mocinhos idealistas, mulheres sofredoras e "coronéis" malévolos. Para isto já tivemos Escrava Isaura (z?).


E falando em novela de época... vocês já repararam que sempre que as coisas vão mal a melhor fórmula é lançar uma novela ou minissérie de época? A audiência não andava lá estas coisas e então veio "Hilda Furacão", seguida quase que imediatamente por "Chiquinha Gonzaga". Parece que o povo gosta de um passado e a Globo agradece. Dá pra repetir figurino e adereços adoidado.


Mas não serei injusta... até o momento as coisas vão bem. Elenco bonitinho, com Malu Mader e Fábio Assunção retomando a parceria de uma minissérie recente e tão relevante que nem lembro o nome. Fotografia e cenários bacaninhas. Nada mal. É claro que isto é o início e como diria a avó do meu sábio amigo Fabiano Kubrusly, "vassoura nova sempre varre bem".


E sem qualquer preconceito, é apenas uma associação de idéias... falando em vassoura nova... vocês viram a Sônia Braga? O pior não é ela estar, digamos, pouco "inteiraça". Isto é normal e para lá todos caminhamos. Mas precisava falar 


com aquela vozinha tão doce, meiga e forçada? Pode ser exigência do personagem mas Sônia Braga não é atriz suficiente para sufocar sua própria personalidade e forte presença.


Há quem diga que a idéia é fazer com que o público lembre dela, numa espécie "esquentamento" da regravação de "Dancing Days", um de seus maiores sucessos... sob a capa protetora de Gilberto Braga.


A história não é de todo ruim. Fazendeirão maltrata a mulher por conta de algo feito, ou supostamente feito por ela no passado. Filho herói e revoltado, rebela-se contra a situação e sai de casa. Encontra então a "mocinha", que foge um pouco aos padrões pois é Malu Mader liderando o bordel citado lá em cima. E segue por aí.


É claro que esta boa impressão causada pelas primeiras imagens deverá ruir por volta do 40º capítulo, momento em que o fôlego dos novelistas parece sucumbir ante as exigências de uma produção industrial. Aí começa a encheção de linguiça, a baba, o melodrama e o tédio.


Tédio igual ao que anda mergulhada a novela das 8, com seus 20 pontos no Ibope. Número de tirar o sono de qualquer executivo acostumado com antigos 60, 70 pontos.


Qualquer hora a Globo vai fazer novelas de época ambientadas nas décadas de 70 e 80. Tempos em que dominava a telinha de forma indiscutível e em qualquer horário.


Duro vai ser agüentar merchadising dela mesma nas telinhas dos personagens.

No Baguete, ao contrário do que pensam alguns colegas (leiam réplica recebida e publicada no Baguete), eu escrevo em geral sobre televisão... e o que quero escrever. O que me dá na cabeça.

- Triiiimmmm
- Alô!
- Bom dia. Por favor, eu gostaria de falar com o Sr. Daniel Filho?
- E quem deseja falar com ele?
- Meu nome é Márcia, sou colunista do Baguete.


Segundos depois, dada a importância do veículo que represento, me atende Daniel Filho, um dos todos poderosos da Globo.


- Sim Márcia... em que posso ajudá-la?
- Seguinte Sr. Daniel Filho... eu gostaria de saber se quando vocês escrevem o roteiro de Mulher é aquilo mesmo que querem dizer ou se na verdade só jogam palavras fora? Ou então... se fazem seriamente... por que a gente entende como bobagem ainda assim?


E então ele começa a responder e eu vou registrando o que ele diz. Depois sento em meu computador e começo a escrever minha coluna, com base no que ele me respondeu.


Isto seria jornalismo e não é o que faço no Baguete. No Baguete, ao contrário do que pensam alguns colegas (leiam réplica recebida e publicada no Baguete), eu escrevo em geral sobre televisão... e o que quero escrever. O que me dá na cabeça.


Querem alguns exemplos do que posso fazer nesta condição? Vamos lá:


- Este país deve estar com algum problema para ter o Hugo como um dos programas preferidos dos jovens. Este moço, hábil em vender seu peixe, é totalmente sem graça, chato e sem imaginação. Agora que Tiazinha está iniciando carreira solo descolou uma tal de Feiticeira que nada mais é do que um similar da outra. De olhos encobertos e tudo. Hugo é burro... vai acontecer com ele o mesmo que com o Tchan... não dá pra inventar outra Carla Perez.


- Marília Gabriela torturou os brasileiros na última quarta-feira. Fez um programa sobre devotos da Virgem Maria e conseguiu reunir as duas mais insuportáveis cantoras brasileiras: Fafá de Belém e Simone. 


- Hebe Camargo, na segunda-feira, extrapolou qualquer limite ao dedicar seu programa a Andrea Bocceli (é assim que se escreve?). Não que eu tenha algo contra o italiano... e nem a favor. Mas Hebe babava no ombro do cara como se fosse um Deus. Insistia tanto que ele é o máximo que o próprio cantor pareceu constrangido.


- Jô Soares está pior do que nunca. Na entrevista com o psicanalista Magno não deixou que o entrevistado falasse e a toda hora puxava a conversa para o lado do fetiche... mesmo sem gancho algum para fazê-lo. A ego-trip do Jô está cada vez pior.


- Faustão, no domingo anterior, promoveu a maior "volta dos mortos vivos" que a TV brasileira já patrocinou. Desfile de atrações em comemoração aos dez anos de programa. Mal editado, apelativo... deixou claro porque Faustão tem levado sustos de Sílvio Santos e Gugu no Ibope.


- Termina a novela Pecado Capital e parece que ninguém está percebendo. Desta vez a dupla Du Moscovis-Carolina Ferraz não deslanchou. A idéia do remake, se não foi totalmente infeliz, foi totalmente mal elaborada.


- Angélica não precisava ser uma imitadora da Xuxa. Aquela coisa de sofazinho e entrevistados é pura cópia do programa da tia-loira. Quando falta imaginação e sobra preguiça só resta investir na fórmula já conhecida.


Viram só? Isto é o que eu faço no Baguete. Vejo TV e comento o que se passa por lá. Da mesma forma posso assistir a vida e comentar o que se passa nela.


E isto não é jornalismo. É só meu deleite.

É em homenagem a meus críticos que escrevo nesta semana só para ter o prazer de, mais uma vez, contrariá-los.

Recebo semanalmente algumas mensagens de leitores que acompanham meus escritos e de um modo geral eles estão divididos em duas categorias: os que concordam comigo sobre a baixa qualidade da televisão nacional (tem um que consegue detestar Mulher mais do eu)...e outros que reclamam que eu jamais gosto de programa algum.


É em homenagem aos últimos que escrevo nesta semana, talvez só para ter o prazer de mais uma vez ser do contra... e contrariá-los.


Você já viram um programa chamado Ponte Aérea, que vai ao ar por volta da meia-noite na TV Cultura/Educativa? Se entendi direito o programa é dividido entre o Caderno 2000 e a Rede Brasil Revista. O primeiro é um programa de variedades e o segundo é um telejornal.


Pois Ponte Aérea é de uma honestidade impar no cenário da TV brasileira. Com produção paupérrima mesmo para os padrões estatais (é bem mais modesto que Vitrine, por exemplo), Caderno 2000 diferencia-se de tudo o que há nos canais abertos.


Imagine que em apenas 30 minutos conseguiu, na última quarta-feira, abordar com rara inteligência cinema, literatura, música e balé. E sem a "literatice" pela qual algumas vezes resvalam iniciativas do gênero.


A abertura do programa foi uma reportagem sobre Orfeu, o filme de Cacá Diegues, com depoimentos de figurinhas carimbadas e outras nem tanto. É claro que abriu espaço para Caetano, o autor da trilha, consolidar-se como a mais verborrágica figura nacional (depois de Wally Salomão, que não ganha tanto espaço por razões óbvias). Mas até nisso foi eficiente.


Democrático, colocou ao lado de comentários sobre programas que são feitos com exclusividade para os países lusófonos e de uma reportagem sobre Dom Casmurro de Machado de Assis, assuntos tidos como "elevados"... uma matéria sobre o hip hop, gênero considerado por muitos uma espécie de submúsica.


Aproveitando o gancho da estréia do balé O Armário, da Bem-vinda Companhia de Dança de Minas Gerais, citou ainda a autora da obra em que o espetáculo se baseia, Clarice Lispector.


E finalmente, não esqueçam que o programa tem só meia hora, enquanto as televisões brasileiras nos empurravam duas mil e quinhentas matérias sobre os 499 anos do Descobrimento... sobre o centenário de Hitler... Caderno 2000 nos brindava com belíssimos comentários de Nando Gabrieli sobre Duke Ellington, que também estaria completando 100 anos por agora.


Viram só?! Eu não sou tão má assim. O problema é que é difícil ser engraçada quando o programa avaliado é bom. Via de regra minhas colunas são bem melhores quando eu dou risada da cretinice geral.


É por isso que às vezes eu, Dra. Estigma, tenho medo de mim mesma. 

Eles estão por tudo. Nos camelôs, nas conversas, nas rodinhas. Eles são... os Teletubbies.

No trabalho não falta uma mãe que repete-repete-repete seus bordões, em uma lista de discussão recém-pós-teenager-mas-nem-tanto da qual participo, volta e meia, o assunto são eles. Eles estão por tudo. Nos camelôs, nas conversas, nas rodinhas. Eles são... os Teletubbies. Seres coloridinhos, gordinhos, meigos, repetitivos e telemaníacos como quase todas as crianças de idade entre 2 e 5 anos. E, para o meu gosto, chatinhos como quase todas as crianças desta faixa etária.


Eles são muito educativos, temos que convir. Ensinar crianças a soma de 1 + 1 realmente justifica sua produção milionária. Brincadeirinha. Outro dia até vi algo interessante sobre as formas geométricas, com uma bola se transformando em quadrados, triângulos, retângulos...


Há também aquela espécie de televisão que eles carregam na barriga e que, como sempre, repete tudo quantas vezes for acionada para tal. Na verdade este é o melhor achado do programa. Você já levou seu irmãozinho na videolocadora para escolher uma fita? Não importa quantos lançamentos as prateleiras exibam... ele sempre vai querer o mesmo desenho, num ato que desconfio ser absolutamente deliberado para enlouquecer pais, mães e irmãos.


Outro ponto até bacaninha destas televisões é que, apesar de serem uma criação inglesa, os Teletubbies abrem espaço para que, a partir das telas abdominais saiam reportagens sobre temas locais. Lembre-se que o programa é comprado por mais de 20 países e sempre é interessante permitir, com uma simples edição, a inclusão de conteúdo local.


Os Teletubbies diferenciam-se por cor, por estranhas formas que prolongam suas cabeças e alguns adereços. Tinky Winky, o roxo, carrega uma bolsinha vermelha; Laa-laa, a amarela, brinca com uma bola; e Po, o vermelho, tem um patinete; e Dipsy, o verde, um chapéu estilo vaca holandesa. Impossível não decorar quem é quem.


Também como crianças de 2 a 5 anos, não andam... correm. Não conseguem simplesmente caminhar. O cenário, bem, não lembro como eu via as coisas quando era criança, mas aquele mundinho chapado, de vastas planícies gramadas e flores arrumadinhas parece corresponder ao que imagino, fosse minha visão naqueles dias. E falo isto baseada na minha crença em que, depois da morte, nos sentamos em nuvens e ficamos comendo moranguinhos.


Outra semelhança com as crianças pequenas é a eterna luta para dormir. Sempre ao final do programa sai do gramado um periscópio-falante que repete algumas vezes "é hora de dar tchau". É claro que os pequenos seres não se deixam comover de primeira e só não prolongam a "cerimônia do adeus" porque trata-se de um programa de televisão, com tempo de duração rígido.


Sobre os Teletubbies muito se tem falado e escrito nos últimos tempos. Há quem veja na bolsinha vermelha de Tinky Winky uma espécie de referência gay. Pode ser... vai se saber as referências do criador deste personagem. Mas não seria impossível também simplesmente tratar-se de mais uma reprodução do universo infantil. Posso dizer que muitos machos de camisa xadrez que andam por aí, quando criança, vez por outra se travestiram por brincadeira. Normal.


Imaginar conteúdo gay no programa pode muito bem ser obra de gays, que adoram lembrar que grandes nomes da história eram homossexuais... até como forma de mostrar à sociedade que gays também brilham (sem trocadilho, por favor). Da mesma forma, esta colocação pode ter partido da patrulha anti-gay. Irrelevante portanto a discussão, visto que infrutífera.


Olhando Teletubbies assim, rapidinho, o que dá para perceber é sua clara intenção de colocar na telinha o jeito das crianças. É um pouco forçado nesta infantilidade, pois acho que criança não gosta de ser tratada como imbecil, não fosse assim, Vila Sésamo, Sítio do Pica-Pau-Amarelo e Rá-Tim-Bum não teriam feito tanto sucesso.


Mas na verdade o que mais me interessou, depois de assistir, o programa foi a avaliação do meu amiguinho Lucas, de 9 anos.


Lucas, quando perguntei o que ele achava dos Teletubbies, começou a cantar e dançar pela sala, do jeito desengonçado e rodopiante do quarteto televisivo. Seu rosto lindo de Leonardo di Caprio transfigurou-se. O queixo foi para a frente e o olhar ganhou um caráter alienado. A voz, normalmente rouca e forte para um garoto de sua idade, tornou-se um pouco mais aguda e infantil.


Ao final daquela estranha dança, ele virou pra mim, ainda com as feições e voz encarnadas, e disse: "é completamente débil, é completamente débil, é completamente débil”.


Aí fiquei tranqüila. Isto passa. Agora... se você conhece alguém de mais idade que consiga curtir os Teletubbies, encaminhe a um tratamento. Se seu filho abandonar o programa para passar a ver e ouvir Sandy & Júnior... o caso pode ser grave.


Já as crianças de 2 a 5 anos... bem... estas a gente só vai saber daqui a um tempo.


É hora de dar tchau, é hora de dar tchau, é hora de dar tchau.