Caiu-me às mãos o livro A Negação do Brasil - O Negro na Telenovela Brasileira, do cineasta Joel Zito Araújo, que enfoca a participação do negro na TV brasileira desde sua criação (da TV, é óbvio). Ainda não li mas o farei. Mas antes de ser contaminada pelo conteúdo da obra decidi pensar algumas coisas sobre este interessante tema.
Este negócio de "minorias" sempre me fascinou. Tenho, confesso, um certo fascínio pelo patético e não há nada mais patético que o preconceito de qualquer natureza. Começa que só os medíocres são preconceituosos pois qualquer pessoa que consiga exercer um pensar minimamente elevado saberá que gente é o produto mais diversificado que há e que existe espaço para todos. Mais do que isso... que a convivência pacífica e civilizada entre estes tipos todos é a única forma viável para uma vida com qualidade.
E cá pra nós... de todas as diferenças existentes entre os homens, origem étnica é das
mais insignificantes a não ser que esteja associada a um juízo político-religioso-cultural como ocorre no Oriente Médio, por exemplo.
Pessoalmente orgulho-me por conviver muito bem com todas as cores e sexos do zodíaco.
Há um bom tempo venho comentando, neste e em outros espaços, que a TV brasileira, mesmo quando tenta acertar, só faz besteiras nesta área. No caso específico dos negros os erros são gritantes.
Há dois tipos de personagens negros na ficção televisiva brasileira: o negro subalterno, aquele que interpreta escravos, empregados domésticos ou trabalhadores braçais; e o negro socialmente melhor situado mas vítima de preconceitos diversos.
Isto é... ou temos a empregada simpática e servil de Laços de Família... ou aquela família de A Próxima Vítima, que comprou um novo apartamento mas não foi bem recebida pela vizinhança, que temia pela desvalorização do imóvel.
O primeiro exemplo corresponde ao estereótipo que formamos do negro. O segundo é chato pois geralmente mostrado de forma didática e/ou panfletária.
Acredito que o ser humano aprende por exemplos. A mídia, tão hábil em criar modelos e padrões, deveria usar esta sua capacidade para tratar o assunto de maneira que penso mais eficaz. Se colocasse um negro num papel de destaque e se o fato de ser negro jamais fosse mencionado ao longo da novela ... isto sim seria um grande serviço à causa. Toda noite teríamos negros dentro de nossa casa sem que isso representasse um "acontecimento". Com o tempo este conceito estaria incrustado em nossas vidas.
O mesmo acontece com os gays. Ou gay de novela é um clichê ambulante... ou uma pobre vítima de preconceitos familiares, profissionais ou comunitários (quando não todos). Jamais aparece um homossexual, homem ou mulher, que simplesmente acorde, trabalhe, namore e tenha apenas os problemas comuns a qualquer cidadão.
Adotar estas medidas não corresponderia à realidade, pensarão alguns leitores. Imagine mostrar negros em situações corriqueiras a qualquer ser humano... sem questionamentos quanto a sua raça!!! E onde fica a política?
Ora... corresponderia a como eu encaro o gerente do banco em que tenho conta... o gerente de peças da multinacional para a qual trabalho... o editor da revista a quem me reporto... o mecânico do meu carro... pouco me importa a cor deles e gostaria que a TV, sobretudo, desse a esta irrelevância o destaque que ela merece: nenhum..
Repetindo-me... modelos são impostos todos os dias pela mídia e como não tenho qualquer esperança ou crença que isto venha a ser modificado, gostaria que ao menos os modelos fossem mais edificantes.
Mas aí vai começar a discussão sobre quem decide quais são os exemplos edificantes ou não. Diria que a lógica, evidentemente.
Só que lógica é exatamente o que falta no mundo. Não seria diferente na mídia.
Obs.: Vale registrar um vacilo de Laços de Família. Nesta novela o personagem Laerte corresponde ao que eu penso que deveria ser a regra na TV brasileira. Laerte era médico e em capítulo algum, que eu tenha assistido, isso foi mencionado. Ele acordava, trabalhava, cuidava do filho e namorava. Seu problema era voltar ou não para a ex-mulher. Esqueceram de colocar uma paciente se negando a ser atendida por um negro para dar mais uma lição de moral na galera. Ainda bem.