Parece paradoxal o fato de Fernando Collor de Mello voltar a Brasília e ocupar a cadeira deixada pela Senadora Heloísa Helena. Mas não é tanto assim. Ambos são verborrágicos, destemperados e cheios de frases de efeito. E cá pra nós, não há nada mais semelhante em métodos que um politico de extrema esquerda e outro de extrema direita. Se é que isso existe. Se é que não são a mesma coisa. Mas isso não é o que mais me interessa, visto que já superei polarizações ideológicas inconsistentes ou fictícias. Estava aqui a pensar sobre uma velha estratégia de marketing usada por Fernando Collor de Mello. Quando candidato e posteriormente presidente, o "caçador de marajás" costumava usava camisetas com mensagens. Tinha várias, uma para cada ocasião. Quando “foi saído” da presidência do país ficou célebre uma que dizia: “o tempo é o senhor da razão”, insinuando que um dia ainda seria inocentado das acusações sofridas. 14 anos decorridos e ele está de volta ao Planalto Central. Não ainda aos jardins onde construi as famosas cascatas, mas ao Senado. O abdômen tanquinho se foi para dar lugar a uma barriga razoável. As palavras aparentemente estão mais comedidas (ainda). Não sei por quanto tempo a velha persona ficará oculta e muito menos quais os ardis da nova persona adotada Também não sei se o tempo é o senhor da razão. Mas se o povo elegeu recentes mensaleiros, porque continuaria a castigar Collor? O tempo não é senhor da razão... é que com o tempo a gente nem lembra mais as razões. A não ser eu, que sou chata.
Feito inédito no debate do PR
Seis candidatos ao governo do estado participaram do debate na noite de 26 de setembro. E todos conseguiram a proeza de perder votos. Enquanto Rubens Bueno balançava sua cauda de pavão ilustrado e bem intencionado, Osmar Dias, visivelmente pouco à vontade, tentava mostrar seriedade e algumas propostas. Roberto Requião mais uma vez se segurava para aparentar serenidade pouco associada a sua imagem. Flávio Arns estava patético com aquele eterno ar de seminarista conciliador, que inclusive não cabe mais tão bem a um senador petista. Melo Viana usava o modelito mais moderno da noite mas tudo o que deixou registrado foram os constantes apelos para que a população votasse em deputados do PV, bons e sérios "como Fernando Gabeira", dizia. Tinha ainda Luiz Felipe Bergmann, que precisa tomar umas aulinhas de verborragia com sua correligionária Heloísa Helena. Dava pena ver o moço tirando forças sei lá de onde para falar. E tentando reger isso tudo, na redundante tarefa de mediar a mediocridade, Sandra Annenberg não tinha muito o que fazer. As regras do debate favoreciam o marasmo que retrata uma campanha na qual tudo o que temos é mais do mesmo.
Vote no Bilal
E já que político só f... a gente mesmo. Vote no "Bilal" para Deputado Federal. É fato, não é piada. Veja na página do TRE. Eleições 2006 - Divulgação de Dados de Candidatos Candidato(a) a Deputado Federal - PR Nome: BILAL BRAYTIH Nome para urna eletrônica: BILAL BRAYTIH Número: 3600 Partido Político: Partido Trabalhista Cristão Coligação: RENOVA JÁ Composição da Coligação: PTN / PMN / PTC / PRONA / PT do B Data de Nascimento: 27/08/1972 Sexo: Masculino Estado civil: Solteiro(a) Ocupação: Bancário e Economiário Grau de Instrução: Superior completo Nacionalidade: Brasileira nata Naturalidade: CURITIBA - PR Situação da Candidatura: Deferido Valor Máximo de Gastos: R$ 500.000.00 Outras informações podem ser obtidas na Secretaria Judiciária dos Tribunais Eleitorais. Sobre candidatos à presidência e vice-presidência da Republica, no TSE; e sobre os demais candidatos, nos Tribunais Regionais dos respectivos estados.
Morre Oriana Fallaci
Oito entre 10 meninas que estudavam jornalismo no início da década de 80 queriam ser Oriana Fallaci. As duas restantes apenas fugiam da matemática. Eu estava entre as oito e hoje, dia 15 de setembro de 2006, a jornalista italiana que celebrizou-se ao entrevistar personalidades como Deng Xiaoping, Yasser Arafat, Lech Walesa, Golda Meir ou o Aiatolá Khomeini, morreu de câncer. Em Florença. No Brasil frequentava as páginas da inesquecível revista Realidade. É... as eras se sucedem. Nem sempre pra melhor... nem sempre pra pior.
Deixo de lado a polêmica que a jornalista protagonizou mais recentemente, quando criticou duramente o Islã, para apenas registrar que desde seus 21 anos esteve presente nos maiores acontecimentos da humanidade, primeiro combatendo Mussolini, depois como correspondente de guerra. Esteve no Vietnã e Caxemira, nos conflitos e guerrilhas latino-americanos e nas encrencas do Oriente Médio.
Papa lamenta ofensa ao Islã
Domingo é dia de relaxamento, lazer etc. Então pego minha Folha de São Paulo na portaria, visto que o porteiro também merece tudo isso e está descansando em casa, e dou minha primeira folheada investigatória. Gente... o ser humano chegou a um estágio de involução que eu julgava inatingível. Na capa vejo que noivas aceleram dietas e lipos para estarem como deusas no dia do casamento. Faz de conta que o noivo já não viu as gordurinhas antes. Que diferença faz? Pra quem? Logo abaixo a Folha tasca as manchetes seguintes: “PT pagou para ter dossiê contra Serra, diz preso”, “1º emprego favorece ONGs ligadas a petistas” e “Sem sonegação, carga fiscal iria a 59% do PIB”. Passo batido para os cadernos internos, só as capas, e leio que “Plano de saúde muda ordem de médico para baixar custos”, e logo a seguir vejo que “Bento 16 LAMENTA ter ofendido o Islã”. Como assim, “lamenta”? Quem lamenta seu ato sou eu! Ele deveria ter vergonha... purgar... se auto-flagelar... aplicar-se qualquer castigo que sua religião já tenha sugerido a (in)fiéis deste ou de outros tempos. Ó céus!!! Até no caderno “Ilustrada” não encontro a paz pretendida no repouso dominical. O caderno cultural apresenta blog criado pelo sociólogo norte-americano Frank Warren ( postsecret.blogspot.com ), para abrigar confissões de internautas. Uma espécie de grande confessionário laico.
Porteños são gente boa
Estava em Buenos Aires no dia 03 de setembro, data do amistoso em que o Brasil venceu a Argentina por 3 x 0. Foi tudo muito espirituoso e tranqüilo, ao contrário da lenda.
Era um domingo de frio e vento. O sol estava pra lá de acanhado, quase macambuzio. Mesmo assim entrei em um táxi e me dirigi a tradicional feira de antiguidades da Plaza Dorrego, mais popular como Feira do Bairro de San Telmo. Em situação normal imaginaria estar entrando em uma daquelas roubadas das quais só turistas são capazes. Em dia de jogo Brasil x Argentina supunha que seria ainda pior.
Já no táxi a notícia de que o Brasil vencia por 1 x 0. Notícia dada com muita tranquilidade pelo já quase-idoso condutor. Lá na muvuca, em que pese a movimentação de turistas ser enorme, nem parecia dia de jogo.
Entrei em um bar e a televisão mostrava o jogo. Agora o escore era de 2 x 0 e tudo corria calmo. Não vi garçon algum mais mal humorado que o usual para um argentino. Mais tarde, jogo encerrado, outro motorista diz, simpaticamente reconhecendo meu sotaque brasileiro: "Parabéns pela vitória" .
Ao chegar no hotel ligo a TV e assisto a uma série de piadas sobre a atuação pífia do selecionado Argentino e muitos elogios a Elano, Robinho & cia. Não vi qualquer comentarista argentino fomentar a "rivalidade" insistentemente apregoada por Galvão Bueno. Vi, sim, cairem de pau em Tevez, Massi, Riquelme e, sobretudo, no técnico Basile.
Parem de implicância com os vizinhos, pô.
Entre a cruz e a espada
Compra de votos é coisa antiga, novidade alguma nisso. Cresci ouvindo histórias de políticos que distribuiam botinas em troca de mandatos. Davam um pé antes da eleição e outro depois, caso eleitos. Havia toda uma técnica para marcar as cédulas e identificar o eleitor. Sei lá como isso funcionava mas sabe-se que funcionava. Em uma das primeiras eleições pós-ditadura, no interior do Paraná, lembro da Justiça Eleitoral apreendendo um caminhão de sacolinhas com gêneros alimentícios, saídas de um depósito para distribuição a eleitores pobres. Claro que junto seguiam santinhos-cola do generoso candidato. Material de construção, óculos... uma série de itens formava o leque de regalitos com os quais candidatos garantiam, ou não, suas eleições. E por mais que isso enojasse espíritos limpos e democráticos, reconheçamos... era nada perto do que vemos hoje. Estes atos eram feitos na surdina. O caminhão das sacolinhas, por exemplo, foi apreendido na madrugada que antecedeu o pleito. Hoje não. A safadeza está institucionalizada e faz parte do planejamento da família brasileira. O que é este Bolsa Família se não uma compra de votos descarada, paga mensal e antecipadamente? Podem chamar como quiserem, mas pra mim é isso mesmo. Repito: safadeza institucionalizada. Mas não sou daquelas que vêm os políticos como demônios ou ETs que pousaram no Brasil para pilhar nosso patrimônio. Antes disso, acho que são brasileiros pinçados da nossa sociedade e alçados ao poder por nós mesmos. Nos retratam e representam. São a nossa cara e nosso caráter. Porque convenhamos... a sacanagem (perdão) está em tudo quanto é lugar. Nos cerca desde que acordamos até o último piscar do dia. A gente que se acostumou e não dá mais bola. Cedo toca o telefone, a cobrar, e é um cretino tentando fazer com que eu caia no golpe do acidente de um parente, golpe este que costuma terminar em pedido de resgate de um suposto sequestrado, dependendo do grau de desinformação do receptor. Tomo meu café e vou aos Correios despachar correspondência. Estaciono na frente do prédio e já salta um cara que faz meu carro refém em troca de uns trocados (chamamos a isso "flanelinha"). Como sempre vou ao Correio, fico com medo e... pago. No trabalho, orço um ou outro impresso, e invariavelmente a pergunta: "com ou sem seus 20%"? É a gráfica querendo me dar uma graninha para eu fazer com eles um trabalho pelo qual já recebo do meu cliente. O popular "toco". Hora do almoço... passo no mercado e vejo uma senhora velhinha, aparentemente respeitável, esperar na fila com um cestinho de compras. Escolho justamente esta fila por achar que andará mais rápido. É quando a filha da respeitável senhora chega com carrinho repleto, para meu desespero. Fui iludida! A velhota tinha toda uma estratégia para se dar bem, pouco importando se a otária aqui seria penalizada ou não. Volto ao trabalho e tento mais uma vez cobrar aquela antiga cliente que me deve e que, coitada, está tão sem dinheiro para me pagar. Claro... como vai me pagar se precisa morar em um casarão no bairro mais chique da cidade, andar em um carrão importado, vestir as mais caras grifes e ainda por cima pagar sua última ida a New York? Eu que sou gananciosa. Fim do expediente e um pequeno engarrafamento numa avenida. Obras afunilam o tráfego. Passa voando ao meu lado um carro conduzido por um tipo que acredita que o tempo dele vale mais do que o de qualquer outra pessoa. Passa na frente de uns 20 carros que aguardam pacientemente na fila e, bem no gargalo da obra, força a entrada na frente de todos. Esperto ele. Só isso. Não é um mau caráter. Visito uma amiga e ela me conta que a imagem da sua TV a cabo estava ruim e que chamou o técnico da companhia para reparar o problema. Só que o técnico detectou um "gato" no instalação. Que bom... seu vizinho é um cara econômico e gosta de socializar os bens. Dos outros, registre-se. Este é um dia comum. Como outro qualquer. Depois de tudo isso ligo a televisão para assistir o telejornal e vou me surpreender com o quê? Com os sanguessugas? O mensalão? O policial que roubou o som do carro? O pai que matou 3 filhos? A sogra que levou ao extremo o folclore da relação e mandou matar a nora? Com Tevez dando exemplo supremo de "profissionalismo"? Vou me surpreender com o Bolsa Família ganhando espaço no programa de governo do candidato da oposição? Está lá! Ele diz: "em meu governo não só manterei o Bolsa Família como o ampliarei". Traduzindo: votem em mim que vou pagar mais. E assim ficamos, entre a cruz e a espada, achando tudo normal.
Bem estar mal. Comunicação da Natura peca!
Uma das mais premiadas equipes de comunicação e marketing do país, a da Natura, comete erro básico ao ignorar a realidade da presbiopia. É o que pude perceber ao abrir o folheto que acompanhou o Chronos, creme anti-sinais (rugas), produto da empresa. Com fundo branco ou verde bem clarinho, letras desbotadinhas em corpo minúsculo (6, 7,5?), quantas mulheres de 35 anos em diante conseguem ler com tranqüilidade o folder tão bonitinho criado pelos gênios da publicidade que atendem a empresa? E convenhamos, não é justamente esta a idade das consumidoras da linha Chronos? Não seria isso um total desconhecimento sobre quem é o cliente, algo inconcebível para quem tanto se coloca focado no consumidor? A eles uma explicação breve: "(presbiopia) É o nome dado à diminuição da capacidade do olho focalizar de perto em função da idade. A presbiopia se inicia, na maioria das pessoas, a partir dos 40 anos de idade. Os sintomas iniciais são de cansaço e cefaléia (dor de cabeça) e as pessoas procuram afastar os objetos para ver melhor. A compensação é feitas através de lentes bifocais ou multifocais (...). A presbiopia é um fenômeno inevitável. Com o avançar da idade, o cristalino perde elasticidade, e o seu poder de acomodação reduz-se. Além disso, o músculo ciliar perde a capacidade de se contrair para movimentar as cartilagens do cristalino". http://www.filadelfianet.com.br/simulador/presbiopia.html Corrijam-se! Mesmo a quarentona mais gostosa da parada... mesmo ela tem presbiopia.
Diário de Cuba
Domingo - 30/11/2003
Viagem longa. Ainda pior com a espera em São Paulo e a conexão no Panamá. O aeroporto do Panamá, chamado Tocomen, é uma versão em miniatura do Paraguai. Vende-se de tudo, de bebidas a quinquilharias eletrônicas, algumas coisas bem caras. Chamou a atenção que vendem sandálias Havaianas por 9 dólares. Se soubéssemos disso teríamos levado algumas. Hehehe.
A passagem pelo aeroporto Jose Marti, em Havana, teve suas peculiaridades. Inclusive revista.
Enquanto Deni esperava pelas malas fui ao banheiro. Chegando lá uma senhora me entregou um pequeno pedaço de papel higiênico, já enroladinho e pronto para o uso, nas mãos. Ao sair da minha "cabine" a mulher veio me puxar até a pia, abriu a torneira e, pegando minhas mãos, colocou sabonete nelas. Quando terminei de me lavar, sem ter qualquer chance de fugir da tal, ela pega novamente minhas mãos e coloca no ar quente para secá-las. Ao final olha para mim e diz: "mona"!
Estávamos em Cuba, definitivamente, mas a longa jornada ainda não havia terminado. No aeroporto mesmo pegamos um ônibus para Varadero, em uma viagem de aproximadamente 2 horas. Ah... enquanto esperávamos a saída do ônibus eu fumava um cigarrinho na rua. Neste meio tempo chegou para embarque um casal de velhinhos canadenses. Eles não tinham comprado o transfer e tiveram que pagar na hora. Estava escuro mas, pelo que eu e um outro brasileiro vimos, o bolinho de dinheiro entregue por eles ao motorista daria para ter comprado o ônibus inteiro. Isso para o cara nem colocar as malas dos velhinhos pra dentro.
No caminho do aeroporto para a estrada, atravessamos Havana. Vimos algumas coisas mas o que mais nos chamou a atenção foram os outdoors com mensagens de louvor à revolução, a Fidel, Che, Marti... Não dava, contudo, para ver muito pois iluminação pública não é exatamente o forte dos cubanos. Escuridão geral.
Quando chegamos ao hotel Meliá em Varadero só não ficamos mais surpresas com a qualidade do hotel e do quarto porque já o tínhamos visto em fotos na Internet. Com fome, pedimos um lanche no quarto. O lanche não é cobrado pois nossa hospedagem neste hotel corre em sistema "all inclusive" mas há uma taxa de 5 dólares para que levem até os aposentos.
Segunda-feira - 1º/12/2003
Logo cedo Roberto, agente de turismos responsável pela nossa hospedagem, translados e afins, ligou para nosso quarto reclamando que não comparecemos ao encontro que ele marcou sozinho e do qual nem sabíamos. Quando chegou vimos um belo cubano de pele morena e dentes branquíssimos. Compramos, a 139 dólares por pessoa, um passeio a Cayo Largo, belíssima ilha com locais perfeitos para mergulho. Viajaremos na quinta-feira.
Engraçado ver um bando de "gringos" circulando pelo hotel com camisetas de Che Guevara.
Fizemos reconhecimento pelo hotel. Fomos a uma exposição de pinturas e esculturas e conversamos com uma funcionária da galeria. Ela nos contou que artistas e atletas de ponta vivem bem em Cuba. Podem comprar carro e casa. Um artista que venda um quadro, por exemplo, entrega 20% para o governo, 20% para a galeria e fica com o restante. Ela deve ser bem fidelista pois depois pensei: "governo e galeria não são a mesma coisa?". Além desta evidência, apressou-se a dizer que além dos 60% que ficam, há ainda a vantagem de não precisarem pagar médicos, dentistas etc. Contou ainda que água, luz e telefone são subsidiados. Um quadro muito legal que vimos custava 700 dólares.
Deni tomou seu primeiro daiquiri e eu minha primeira pina colada. Não vimos nenhuma farmácia no centro da cidade.
Terça-feira - 2/12/2003
Saímos do hotel e fomos até o centro de Varadero em um "Coco", espécie de triciclo motorizado e todo aberto, com uma carenagem em fibra de vidro e pintura em verde e amarelo (7 dólares). Não há nada lá que valha a pena. Nem cubanos.
Na verdade Varadero não é Cuba. É uma espécie de Ilha da Fantasia. Só há hotéis, restaurantes e campos de golfe. O povo vive bem por conta das gorjetas.
Legal ver as crianças com seus uniformes de escola. Conversei com dois meninos muito espertos. Me explicaram que as cores dos lenços que usam variam conforme o ciclo. Pelo que entendi eles tem um primeiro grau de 5 anos, depois mais 3 do que seria o ginásio e mais 4 de ensino médio.
No centro da cidade vimos um ônibus todo pintado com frases anti-bloqueio. Infelizmente não deu tempo de fotografar. Passamos pela Clínica Internacional (para os turistas) e por uma farmácia.
Tentamos passear nas bicicletas que o hotel disponibiliza mas desistimos por duas razões: para irmos ao centro da cidade teríamos que pedalar pela estrada e as empunhaduras das bikes eram de uma borracha dura demais... nossas mãos doeram muito e Deni até fez calo em uma das mãos.
Não há sujeira alguma nas ruas.
Tinha muito sol mas o tempo fechou. Voltamos para o hotel e fomos inspecionar as instalações. O hotel tem muitos bares, restaurantes e atividades de recreação iguais ao que se vê em filmes americanos. Aulas de salsa, merengue, rumba... estas coisas. Há uma biblioteca para os hóspedes mas, por incrível que pareça, não há livros cubanos... só encontrei livros em alemão, inglês e francês. E de autores estrangeiros.
Será que querem que a gente compre ou não querem que a gente leia mesmo? Aposto mais na segunda hipótese pois ao lado do hotel há um shopping e nada de jornais ou livros cubanos.
A TV cubana tem suas peculiaridades. O esporte nacional deles é o beisebol mas mostram de todas as modalidades e categorias. Desde jogos escolares até competições de alto nível. Achei muito interessante eles colocarem notícias de medicina e fisioterapia esportiva dentro dos programas de esporte. Ah... toda hora eles mostram homenagens a pessoas que se destacam em suas áreas. Há um grande culto às personalidades locais, sejam elas políticas, artísticas ou esportivas.
No quarto do hotel não tem bíblia, obviamente. E fazem shows artísticos. Hoje tivemos um "Musical da Broadway".
Como não para de chover, cancelamos o passeio a Cayo Largo. O tempo está horrível e sem luz... mergulhar para ver nada? Roberto disse que vem devolver o dinheiro amanhã.
Com o tempo ruim ficamos circulando pelo hotel. Experimentamos a trinca daiquiri, piña colada e mojito. Preferi o daiquiri e Deni a piña.
Quinta-feira - 04/12/2003
Como já disse, Varadero não é Cuba. No hotel há muitos europeus e canadenses e alguns sul-americanos. Não há japoneses (só um casal) e americanos são raros mas existem. Os funcionários são todos cubanos e pouco simpáticos até a primeira gorjeta. Aí tudo aparece mais facilmente. O segredo é colocar a "tip" sobre a mesa e sair pedindo. Correm pra atender. As gorjetas vão para uma caixa e eles dividem ao final do dia, imagino.
A comida é muito ruim. Os caras conseguem estragar lagosta. Apesar de tudo muito farto... não comemos qualquer coisa saborosa.
Conversamos com uma senhora que atende numa espécie de cyber-café. Deni estava curiosa sobre o sistema judiciário em Cuba. Ele existe, acreditem. Cuida de divórcios, de pequenos litígios sobre a posse de imóveis em casos de morte (posse... não propriedade) e coisas assim.
Descobrimos que ao terminarem os 12 anos de escola, os cubanos escolhem o curso que desejam cursar na universidade. Os que possuem melhores notas ao longo da vida escolar entram na universidade. Há também uma universidade para trabalhadores. Neste caso eles prestam uma espécie de vestibular e, se aprovados, freqüentam aulas apenas um dia por semana.
Roberto veio nos devolver o dinheiro do pacote para Cayo Largo mas tentou nos dar 50 pesos em lugar de 50 dólares. Não aceitamos e, ao oferecermos 12 dólares de gorjeta para ele, o dinheiro apareceu rapidinho. Pesos não servem para nada. Estrangeiros devem pagar em dólar e ponto.
Às 15 horas o ônibus que nos levaria chegou e partimos de Varadero. Durante a viagem um guia ia explicando coisas e respondendo perguntas feitas pelos turistas. Tudo é "uma das sete maravilhas da arquitetura cubana". O ônibus parou em uma roubada para tomarmos refrescos. Pura armadilha pra turista deixar mais uns dólares. Deni ficou revoltada com o preço do sorvete. Por uma casquinha do tipo Cornetto pagou 3 dólares. A estrada até que é boa e tem pouco tráfego.
Na chegada a Havana fomos deixando os turistas em seus hotéis. Tememos que o nosso não fosse legal mas não. O novíssimo LTI Panorama (8 meses) é um luxo só, com uma bela decoração. O serviço, claro, segue o padrão cubano... horrível. Mas a comida é melhor... pedi massa com salmão e
Deni pediu massa com lagosta. Quando os pratos chegaram, olhamos e imediatamente percebemos que uma havia gostado mais da cara do prato da outra. Trocamos, então.
Sexta-feira - 05/12/2003
Dia de passear. Acordamos, tomamos café e tentamos pegar um ônibus para Havana Velha. Já na saída sofremos a abordagem de um jineteiro, termo que já conhecíamos de matérias publicadas em revistas de turismo. São pessoas que abordam turistas oferecendo charutos, rum e passeios... todos de qualidade duvidosa.
Desistimos do ônibus e fomos de Coco para o centro, direto para a Plaza de Armas e depois até a Catedral.
Havana está acabada. Nas proximidades do hotel as ruas e prédios estão legais pois estamos no bairro da embaixadas e escritórios internacionais. Passamos pela embaixada dos EUA. Não entendemos duas coisas: se os dois países não mantêm relações diplomáticas, o que os EUA fazem lá? Muitos policiais cubanos em torno do enorme prédio americano. Segundo o motorista do Coco, o policiamento é para impedir que cubanos pulem para dentro da embaixada.
Fora disso... tudo muito bonito mas sem qualquer conservação. Tem quarteirões que parecem abrigar destroços de guerra. Fios correm por fora das janelas em gambiarras assustadoras. E por aí vai.
Além de prédios fomos a uma tabacaria. Uma caixa de Romeo y Julieta custa 170 dólares. Uau!!! Optamos por comprar charutos Montecristo para os amigos que apreciam de verdade um bom charuto e uma caixa de charutos de boa procedência, mas mais baratos para distribuir como regalito aos demais.
Visitamos o Hotel Ambos Mundos pois minha literatice queria ver onde viveu e, dizem, Hemingway teria escrito "Por quem os sinos dobram". 2 dólares por pessoa para visitar o quarto dele. Ele devia ser bem duro naquela época, para viver naquele quartinho.
Passamos por vários cinemas e observamos filas quilométricas. Está acontecendo o Festival do Cinema de Havana. Interessante que eles passam na TV alguns filmes que concorrem. Um filme por dia.
Nos deixamos ser vítimas de um casal de jineteiros que se fazia passar por irmãos. Bem... ao menos nos contaram algumas coisas de Fidel. Que ele é conhecido como "Papito Piernas Longas" (não disseram o motivo). Contam que os carros que vemos são do governo... as pessoas compram o direito de usar o carro por um ano e ao término deste período devem renovar o aluguel.
É preciso ter claro que conseguiram construir uma Havana dentro de outra Havana... sem muro algum. Nos lugares que vamos só há os cubanos que lá trabalham... e os bares e lojas deles não são frequentáveis.
Se me perguntarem se é melhor ser pobre em Cuba ou no Brasil... não sei. Nunca fui tão pobre a ponto de trocar minha liberdade por uma libreta de alimentação. As crianças são saudáveis, espertas e todos, crianças e adultos, se vestem com simplicidade mas de forma digna. Ninguém descalço, por exemplo. E não se vê crianças na rua em dias de semana, a não ser de uniforme, indo ou vindo da escola. Mas a cada pergunta que fazemos para um cubano a reação inicial é a mesma. Um olhar ao redor, voz baixa... hum... parece que liberdade faz falta mesmo.
Em cada quarteirão há uma placa apontando para um tal "Comitê de Defesa da Revolução". Nossos jineteiros nos informam que isso não é uma coisa ruim. Que seriam como nossas associações de bairro. Seus dirigentes são o elo com o governo, para reivindicações. Cuidam também de delatar as crianças que não vão à escola (os pais vão em cana). Não acreditamos muito pois em Varadero soubemos que os vizinhos delatam se um começa a aparecer com muitas novidades em casa, sobretudo aqueles que recebem muitas gorjetas dos turistas. Em um país onde todos são funcionários públicos... os chefes dos tais comitês devem ser bem chegadinhos ao poder. Chefe é chefe em tudo quanto é lugar.
Como Miami está a 142 km de Havana... é de lá que recebem notícias mais facilmente. A idéia de capitalismo que têm é esta, pois. Ah... jornais e noticiários cubanos pouco falam do exterior. Apenas quando é uma notícia favorável a Cuba (algo sobre a medicina cubana, por exemplo) ou que mostre a decadência do capitalismo e suas conseqüências éticas e morais.
Célia Cruz, Gloria Estefan e Andy Garcia jamais são lembrados. Devem ser considerados traidores da revolução. De Célia Cruz dizem que Fidel não gosta por ela ter pintado o cabelo de loiro. Em compensação, Sílvio Rodrigues (Yollanda) está em todas. Deve ser unha e carne com Fidel. E Che Guevara... bem... este deu a sorte de ter morrido antes de virar um ditador acomodado e por isso é ainda idolatrado.
As mulheres cubanas falam em novelas quando sabem que somos brasileiras. Está passando lá uma novela chamada ¿Aquarela Brasileira¿. Pelo que nos falaram deve ser Terra Nostra ou Esperança.
O ponto fraco do dia foi nossa ida até a famosa sorveteria Coppelia. Fica em um parque lindão... mas há vários quiosques. Fomos nos sentar em um animadinho mas o garçon não deixou. Turistas e seus dólares para lá. Um casal de cubanos bem que tentou interceder em nosso favor mas não deu em nada. Eles disseram que se tivéssemos pesos pagaríamos 1 peso por dois sorvetes de duas bolas. Como não somos... acabamos pagando 6 dólares pela mesma quantidade de sorvete e uma água mineral. Na sorveteria o problema foi mais visível mas percebemos isso o tempo todo e, confesso, me incomodou muito, apesar do sorvete ser bom mesmo.
Em todos os lugares do mundo há turismo para todos os bolsos. Em Cuba não. Aqui não há a possibilidade de você viver como os cubanos, almoçar nos restaurantes deles, andar de ônibus... nada disso. É a tal Havana dentro de outra Havana que já falei. Uma chatice. Neste dia comecei a me referir aos turistas como ¿os otários¿.
Fomos também a outro ícone cubano... a Bodeguita Del Medio. O bar é tombado pela ONU como patrimônio da humanidade. Lá comemos comida criolla... um frango saboroso com um tempero que eles não revelam e que não consegui distinguir o sabor. Não é maravilhoso mas bem melhor que o usual por aqui.
Depois do almoço fomos até o Museu da Revolução mas não entramos. Imagino que fosse interessante mas já estava irritada por ter que pagar para tudo. Nada é de graça... nem o sorriso do cubano. Isto cansa.
Na saída do museu pegamos um táxi alternativo. Um daqueles carrões antigos e que soltam um gás legal para fora e para dentro dele. O táxi foi parado por um policial, que multou o motorista em 30 pesos. O motorista disse que foi flagrado transportando turistas mas não estou bem certa. Ele pode ter dobrado a esquina em local impróprio e ter contado isso para nos comover e ganhar mais gorjetas. Se for verdade... deve querer nos matar por conta de nossa máquina fotográfica. Mas o táxi ilegal foi bem mais barato para nós que os regulares.
Paulo Coelho é o único escritor brasileiro encontrado em Cuba. Há todos os livros dele menos O Peregrino e O Alquimista, que estão esgotados. Não sei porque odeio esta informação. Mas entramos em uma livraria que tinha livros de diversos autores e países, inclusive best-sellers americanos traduzidos para espanhol. Os latinos, contudo, predominam. A vendedora queria que eu comprasse um livro de poesias... mas como era um presente para meu pai, optei por um de crônicas. Pedi algo em prosa mas que o autor fosse um clássico cubano. Veremos.
Observações:
1. Como podem pegar ingredientes normais e deixarem tudo horrível? O jantar no buffet do hotel estava pior que comida de quartel. Os caras comem arroz al dente;
2. ao falarem mal do governo dão a impressão de tentarem se fazer de coitadinhos para ganharem mais gorjeta;
3. Se o troco é de 20 dólares, por exemplo, o garçon dá um jeito de trazer todo o dinheiro em notas bem trocadinhas para não correr o risco de ficar sem grojeta; e,
4. Vimos um linguicinha preto e Deni ficou com saudade do Happy.
Sábado - 7/12/2003
Acordamos tarde e pedimos café no quarto. Quiseram os cobrar 17 dólares mas pagamos 5. Tínhamos direito a ele... só pagamos a taxa de serviço.
Dia de chuva forte e muito vento. El Malecón é invadido pelas ondas e interditado. Vamos de táxi a Habana Vieja e paramos em uma feira de artesanato para comprarmos recuerdos e regalitos. A qualidade dos artistas plásticos é boa, mesmo nestes locais públicos. Mas há uma série de quinquilharias que acho que são feitas em uma grande fábrica na China e vendidas para o mundo inteiro como artesanato local.
Sentamos no El Pateo, um restaurante muito bacana, para fugir da chuva. Como em todos os lugares, a música ao vivo é de excelente qualidade. Tanto os conjuntos de música cubana quanto os pianistas de música ambiente.
Finalmente descobrimos uma outra cerveja que não a Cristal (muito ruim). A Bucanero é bem melhor. Mas a tal Tucola prevalece. Não é tão ruim. Demos pão no restaurante para pessoas que chegavam pela sacada.
Após o lanche visitamos o Gran Teatro. Uma construção maravilhosa que, como tudo em Cuba, sofre a ação do tempo e da má conservação (ou nenhuma). Uma guia muito simpática nos leva a conhecer o teatro, coisa rara. Ela trabalha de graça como guia, em troca da escola de idiomas. Pelo que ouvimos, fala inglês, italiano, alemão e francês. Nada mal.
É neste teatro, construído em 1838, que trabalha a lendária Alicia Alonso, já com 85 anos. Ela é diretora artística do Balé de Cuba, que naquela noite estrearia um espetáculo baseado em Shakespeare. Tentamos comprar ingressos mas estavam esgotados. Quando fomos ao ateliê de confecção dos cenários os artistas nos ofereceram desenhos e esboços ¿originais¿. Não se pode culpá-los... com salário que ganham... (7 dólares por mês é o salário de um motorista de Coco, por exemplo). Isso é... ele ganha por mês o preço de uma corrida.
Quando saímos do teatro demos uma gorjeta para a guia. Ela exultou e gritava: "uma propina, uma propina". Nos arrependemos de não termos dado mais.
Em compensação, fomos roubadas no famoso restaurante El Floridita. 9 dólares por um daiquiri e um cafezinho. Ok... é o preço da fama.
Hoje, sábado, crianças e velhos pedem dinheiro nas ruas e restaurantes. Uma mulher pediu roupas e batom para a Deni, que desconversou. Mas parecia meio doida.
Domingo - 08/12/2003
Enquanto esperamos o ônibus que nos levará ao aeroporto para a viagem de volta, conhecemos uma brasileira que nos fez concluir algo: só é possível conhecer Cuba se você for para lá fazer um curso ou algo assim. Ela fez doutorado através de uma bolsa sanduíche (metade no Brasil e metade em Cuba). O orientador era Cubano. Não há como eles esconderem tudo de alguém que fique num vai-e-vem por 4 anos e que conviva mais amiúde com os cubanos.
Vejamos o que ela nos contou:
1. O orientador dela não podia entrar no hotel para trabalharem. Só conseguiu permissão após apresentar uma carta do reitor da universidade para a gerência do hotel;
2. a vice-reitora da Universidade de Havana ganha 40 dólares por mês e mora num apartamento caidaço, sem luz e longe demais;
3. A tal caderneta de alimentos (libreta) tão exaltada pelos governistas, só dura 15 dias. Ela dá direito a feijão, arroz, uma barra de sabão, um frango... Famílias com crianças de até 7 anos têm direito a 1 litro de leite por dia, depois necas;
4. Um pacote de absorvente custa 1,5 dólares. As mulheres não ganham e nem conseguem comprar;
5. Mesmo que tenham dinheiro das gorjetas... não há muito a comprar. Não existe comida, material hidráulico e elétrico, lâmpadas, estas coisas; e,
6. Ela levou para eles uma mala cheia de sabonetes, biscoitos, balas, absorvente e coisas do gênero. E levou, pasme, papel e cartucho de impressão. Na universidade os caras não têm sequer papel disponível. Levou modem e outros componentes de computador para melhorar as coisas no departamento em que estudou.
Na saída para o Panamá maior fila e controle. Nos cobraram 25 dólares por pessoa para deixar sair. Seria um imposto de turismo. Se não tiver dinheiro... sem problemas. Eles não são socialistas ao ponto de desconhecerem o cartão de crédito.
Idéia sensacional
Olho a chamada da notícia abaixo, publicada na capa da Folha de São Paulo em 1º/08/06, e fico estarrecida. Nem preciso ler a matéria completa pra saber que este é mais um caso de cretinice deslavada. Desnecessário ser gênio para deduzir que não daria certo uma lipoaspiração feita clandestinamente no porão de uma casa. Claro que não deu. A "paciente " morreu e o "médico" nem permissão para atuar nos EUA teria.