57 mensagens Como faço todos os dias, sábado último, às 9 horas da manhã, liguei o computador para ver as mensagens enviadas por parentes e amigos. E por eventuais devedores, por supuesto. Adoro receber mensagens dizendo: “Depositei no banco aquele dinheiro...” Clicando “caixa de entrada”, notei que havia 57 chasques à minha disposição, 54 deles Peguei papel e caneta e fiz minha estatística, apurando que as mensagens diziam: Anotei tudo e fiquei pensando: “O que devo fazer para não receber mais todos estes chasques, particularmente os escritos em inglês?”. Talvez eu possa programar meu computador para rejeitar mensagens que tenham as letras K, W e Y. Como eles não aceitam o nosso Ç, nós poderíamos rejeitar o ipissilone e o dobrevê deles. Vou falar hoje mesmo com meu técnico Mas não dá... Logo agora que o K, o W e o Y estão voltando para o nosso alfabeto? E sem o Y eu não poderia falar com a Cybertech... Temos que aprender a conviver com essas letras. E tirar delas a maior proveito possível. Como disseram algumas de nossas mais altas autoridades: “Se o estupro é inevitável, relaxe e aproveite”. Victor Hugo Ribeiro (ou Boleslau Chispa)
Design na pele
Ando muito envolvida com decoração. E isso tem revelado a mim algumas surpresas interessantes. A pasteurização, por exemplo, não é mais sinônimo de produção industrial para as massas. De um modo geral as pessoas consideram inaceitável ir a uma festa e encontrar alguém com roupas iguais às delas. Mas, se esta roupa for de grife, tudo bem. Aí passa. Neste caso a coincidência serve apenas para determinar identidade a um grupo. O grupo dos ternos Armani, a turma do jeans Diesel, a galera do telefone Prada. No universo da arquitetura e decoração ocorre o mesmo. Tenho olhado centenas de revistas e as variações são ínfimas. A moda hoje é transformar a casa em verdadeiros museus do design. A coisa chegou ao absurdo registrado na foto ali do lado. Que tal uma tatuagem do conjunto Charles & Eames no braço? Se não for montagem, isso sim é querer se identificar com um produto, um grupo ou seja lá o que for.
Conhece Francis Hime?
Na última quinta-feira a novela Paraíso Tropical mostrou mais um music-jabá no Hotel Duvivier. Desta vez uma apresentação da cantora Simone. Ok. O problema é que acompanhando Simone ao piano estava Francis Hime, que sequer foi apresentado. É claro que poucos sabem quem é Francis Hime pois quem teria a oportunidade de apresentá-lo, não o faz, como percebi. Mas só para registrar, é um "compositorzinho" de mais de 200 músicas gravadas, parceiro de gente fraca como Chico Buarque, Cartola, Toquinho, Vinícius de Moraes, Geraldo Carneiro, Abel Silva etc. Aí o cara morre e lá vem o William Bonner, com cara de consternado, dizer que "o país perde um de seus maiores compositores".
As coisa que me acontecem
Hoje, 20 de setembro, quando abri meus e-mails encontrei quatro mensagens de confraternização pelo dia em que o Rio Grande do Sul celebra o aniversário (ou o que for) da Revolução Farroupilha. Em primeiro lugar acho engraçado que o Rio Grande do Sul inteiro celebre a data com unanimidade, como se jamais tivessem se dividido entre chimangos e maragatos. Ou seja, entre vitoriosos e derrotados. Mas relevo pois já sei que lá é tudo assim mesmo. Gaúcho é esquisito pra caramba. Porto-alegrense sonha em sair de Porto Alegre, fala mal da "carroça", entope Santa Catarina no verão e, no dia em que consegue comprar uma casinha nas praias catarinenses ou onde quer que seja, passa a vida a lastimar que lugar nenhum é bom como "os pagos". Vai entender? E olha que eu atestei esta tese em praticamente todos os estados brasileiros onde a gauchada tenha aberto fronteira agrícola ou abastecido de talentos as agências de propaganda. Para corroborar ainda mais minhas teorias, registro que as quatro mensagens recebidas partiram de rio-grandenses "expatriados" (sem separatismos na intenção do uso do termo, por favor). Uma delas é uma ode ao chimarrão. Chega ao cúmulo de dizer que a bebida é o rito de passagem definitivo da infância para o mundo adulto. Descreve o choro de um pai ao ver seu filho tomar o primeiro mate. Deve ser por isso que meu pai ainda me considera criança e me chama de "nenéia". NAs raras vezes em que tomei chimarrão, jamais o fiz na companhia dele. Aliás, há anos fui proibida por minhas amigas Rosângela Gloeckner e Cristine Meyer de me aproximar de uma cuia. Obediente que sou, acatei completamente tal ordem e, assim, fiquei em uma ou duas tentativas de tomar este treco. Nas poucas vezes em que me arrisquei a tomar o líquido quente e amargo deixei cair das mãos o aparato, que estatelou-se no tapete da casa de não lembro qual das duas. Lembro, isso sim, que foi uma lambança fenomenal. Uma "caneca" redonda, quente e sem alça foi feita pra escorregar das mãos, oras. Não venham me culpar. Outra mensagem recebida reproduz o que seria um texto do Arnaldo Jabor tecendo loas ao caráter do gaúcho. Tá bom que Jabor teria dito que os gaúchos serão os responsáveis pelas mudanças que virão neste país. Procurando na internet encontrei não só o texto recebido mas vários "escritos" por Jabor, sempre louvando a gauderiada em uma verdadeira demonstração de bairrismo sem critérios, como é natural no bairrismo, diga-se. E como ser bairrista sem sequer ser do bairro? Perdoe-os, Jabor. A paixão cega e faz com que até o nome alheio seja utilizado para justificar megalomanias regionalistas. Gente estranha mesmo. Mas... como não acho que sou suficientemente boa para fugir a esta carga genética ou cultural, busquei em mim um resquício de gauchismo pra tentar me adequar ao grupo. Não encontrei mas reconheci algo bom em tudo isso. O mesmo bairrismo que é chato pra danar e capaz de gerar fantasias de superioridade, fez criar um universo paralelo onde gente totalmente desconhecida no resto do país consegue sobreviver do que gosta, produzindo para seus iguais. Isso é raro no mundo. Os caras têm uma música só deles, uma literatura só deles.. enfim... toda uma produção cultural (urbana e rural) só deles. E lá todo mundo fala mal, é claro. E lá todo mundo consome, é claro. E vão vivendo. Uma vez por ano saem da toca e me mandam estes e-mails absurdos. Não pelo conteúdo mas pelo equívoco de me associarem ao grandioso momento histórico da Guerra dos Farrapos, já que eu nada tenho de Ana Terra.
Criatividade e loucura
Hoje visitei a página do Manu Chao e a explosão de cores que ela ostenta me fez lembrar um velho amigo dos tempos de faculdade, ainda em Porto Alegre. Não vou mencionar o nome por razões óbvias, mas foi um grande amigo a seu tempo. Éramos grudados. Querendo um, era só buscar o outro. E vice-e-versa. Eu o achava o cara mais inteligente e criativo do mundo. Foi ele quem me apresentou muitas coisas boas. Arthur Rimbaud e os beatniks, por exemplo. Gostávamos de encarnar personagens da literatura e era comum nos tratarmos por nomes "dostoievscados" como Marchiuska e afins. Isso sem falar nas mundanidades do Marcel Proust. Apesar de termos a mesma idade eu o admirava como a um velho guru. O velho sábio da tribo. Que tola, eu. Um belo dia fui cantar num festival de rock meio "riponga" que rolou em Caxias do Sul, o "Cio da Terra". Após a apresentação da minha pseudo-banda, recebo a notícia que meu fiel escudeiro havia sido levado às pressas para o pronto socorro. Diagnóstico: tinha injetado conhaque nas veias. Não pensem que não me compadeci. Fiquei com muita pena e prestei minha solidariedade de primeira instância. Mas depois disso, confesso, quando via este antigo amigo andar em minha direção numa calçada, atravessava a rua. Isso mesmo. Desencantei. Saquei que ele era um embuste. Que pessoas inteligentes, como eu pensava que fosse, não faziam aquilo. Achava, e ainda acho, que pessoas inteligentes dão conta da vida. Seja lá a vida que tenham ou queiram ter para dar conta. Nunca mais o vi. Vim para o Paraná e parece que ele conseguiu seu intuito suicida de alguma forma, foram as notícias que recebi. Esta lenga-lenga toda porque pensei, olhando o ultra-colorido site do Manu Chao, como o mundo propagou a idéia de que seres criativos e geniais são "doidos". Que criatividade está diretamente ligada à loucura. Não concordo. Não que eu acredite na existência do gênio normal, nada disso. Eu não acredito é na figura do "normal", seja ele mediocre-normal ou um abaixo-da-crítica-normal. Por consequência não posso crer no gênio-normal. E em sendo todos doidos, há gênio doido, cretino doido, medíocre doido... E ponto. VanGogh não cortou a própria orelha porque era genial. Cortou porque era uma alma atormentada e doida de pedra. E tá cheio de maluco igual a ele se cortando e produzindo patavinas. O que não prova nada As grandes invenções nada têm a ver com cérebros irriquietos. Penso, por exemplo, que a preguiça foi responsável pela invenção da ãgua encanada. O carinha que pensou nos canos e tubulações era apenas um coitado que não aguentava mais a mulher pedir pra bombar água no poço e carregar balde. E antes dele foi outro que não suportava mais ir ao rio... e outro que antes disso pensou no balde... e por aí vai. A idéia de que os artistas e criadores são, necessariamente, malucos é tão estapafúrdia quanto acreditar que as grandes obras precisam seguir o mesmo rumo. Acho tão criativos os prédios mirabolantes de Frank Gehry quantos as linhas retas de Niemeyer ou Walter Gropius. Não vejo onde o ensandecido Pollock é mais "artista" que os "mínimos" Volpi ou Mondrian. Fugindo disso... dos grandes... não sendo genial, para fazer loucuras basta umas tequilas e um baseado na cabeça. Difícil é desenhar um iMac. Sóbrio ou alterado. Limítrofe ou nos eixos.
Vintage é tudo…
De uma hora pra outra tudo virou vintage. Está na moda. Minha amiga Adriana Arioli, que há quase 30 anos se apropriou do conjunto estofado pé-de-palito da sua recém falecida avó deve estar gargalhando desta mania de acharem que tudo o que foi produzido entre os 50 e 70 é cult. É vintage. Fui ao Mercado Livre e busquei a palavra vintage. Confiram... 367 produtos que vão de guitarras Fender a discos do Sérgio Mendes, passando por bonecos velhos e industrializados, camisetas fake, óculos de qualidade duvidosa e equipamentos de som obsoletos. Tem até uma única oferta que faz justiça ao termo, uma supostamente original cadeira de escritório Charles & Eames. O mundo da picaretagem é hábil em criar nomenclatura. Usado virou semi-novo... e semi-novo virou vintage. E eu sou a ranzinza.
Lítio já!
Lítio já! A depressão aqui desceu a níveis abissais. Vou passar o feriadão inteiro lendo De Profundis ao som de Schöenberg em busca das tais molas que dizem existir no fundo do poço.
Hoje a Apple lançou vários novos produtos e meu iPod Nano, comprado há cerca de um ano, já está duas gerações atrasado. Ainda é dos altinhos, não mostra vídeos e é dos branquelos sem sal. A única coisa que faz é tocar músicas, coisa mais arcaica.
Da mesma forma meu celular. Ele até toca MP3 mas não é widescreen e nem obedece a comandos touch. Isso sem falar que não é wi-fi.
É o fim. O que meus amigos vão pensar de mim?
Óleo de peroba
O Prêmio Comunique-se é uma iniciativa bacana do portal que leva o mesmo nome. Ao invés de premiar jornalistas por trabalhos específicos, concede láurea pelo "conjunto da obra" e através do voto direto dos próprios jornalistas cadastrados no site. Louvável. Tudo corre bem em todas as diversas categorias da competição. O mico rola na categoria Agência de Comunicação, que neste ano coloca frente a frente as empresas CDI - Casa da Imprensa; CDN - Companhia de Notícias; e Máquina da Notícia. Acostumadas e formadas para a divulgação (ou não) das ações de seus clientes, não medem esforços para um espacinho aqui e ali na mídia. E este hábito fez com que, por vezes, abandonassem alguns critérios. O do bom senso, por exemplo. Nos últimos dias recebi pedidos de votos das 3 concorrentes. Diante disso me questiono sobre a validade de receber votos não expontâneos. Os jornalistas conhecem muito bem o serviço destas três grandes agências e não será por causa de uma campanha que invade meu email, registre-se, que votarei nesta ou naquela empresa. Pra mim seria o mesmo que eu pedir aos amigos que espalhem por aí que eu sou bonita. Eles podem até fazer... mas saberão como foi que esta "verdade" se fez e não darão crédito algum. Só os desavisados levarão fé.
O novo parachoque
Imagino que exista muita gente que até goste de falar que vê algum encanto nas frases de parachoque de caminhão, reconhecendo ali uma espécie de manifestação da cultura popular mas que, na verdade, acha isso de uma breguice incrível. "Kitsch", pra ficar mais "cult". Só que o Messenger liberou geral o palavrório. Tem de tudo. Meus amigos e conhecidos escancaram geral e mandam ver frases que ficariam perfeitas percorrendo estradas. Minha sobrinha, numa demonstração de que a fruta realmente não cai longe do pé (um provérbio pra ficar no clima) escreveu simplesmente "não enche". Espero que não seja pra mim recado tão direto e que seu alvo seja mesmo merecedor de tamanha delicadeza. Meu ex-colega André saiu-se com esta pergunta: "Na sua vida, você é motorista ou passageiro"? Tudo a ver com ele, que adora carros, corridas e o que mais tenha a ver com isso. Normal a associação que faz e em plena sintonia com minha teoria sobre o novo veículo de expressão das massas. É democrático também. Tenho aqui o Wagner anunciando um Clio SI 200 e o Thiago babando com o novo filho: "e você me acha lindo... espere até conhecer meu filho"! Tem o Fábio dizendo que" he has to got a feeling to loose a feeling". Ai ai ai... adoro a mania que ele tem de se fazer de freak quando na verdade é um quindinzinho fofo. Aí vem uma fila de revoltadas com a natureza humana, dos quais destaco fala da Simone quando acha que "bom seria se as pessoas soubessem amar tanto quanto sabem fingir". Mas rebato dizendo que nem tudo está perdido. Veja que lindo o Duca falando "minha bela Isa amo vc" e a Tati ressaltando que ela sempre busca o lado bom da vida (always look on the bright side of life). Ainda há jeito, viram desolados de plantão? Estou adorando este negócio de new-parachoque. Tem até espaço pra exibir erudição, como através da frase que Ala tomou emprestada de T.S.Elliot: "This is the way the world ends / Not with a bang but a whimper". Uau!! Nada como usurpar uma ferramenta popular para demarcar casta superior!! Eitcha moça sabida. Este negócio é curioso e até engraçado. Um dia vai virar daquelas teses esquisitas de mestrado. Pelo sim e pelo não vou cuidar das minhas frases doravante. Brincadeiras ou sérias, elas podem delatar quem somos.
Chatos e loucos
Eu e minha amiga Deb Bee trocamos algumas impressões pelo Messenger, vez por outra, e um dos nossos pontos de concordância é a existência de artistas bons mas... chatos. O cara até é bom músico, cantor, compositor... mas é chato. Caso emblemático é o Ed Motta. Agora descobri uma sub-categoria. Artistas que além de chatos são... loucos. "Sem noção" pra usar termo em voga. Vejam só Ana Carolina. Primeiro a favorita-das-trilhas-da-Globo lançou um Cd duplo chatérrimo e caro, com direito a experimentalismos no hospício e letras "profundas" como a de "Chevette" (Se mandou / Bateu com meu Chevette / Pôs fogo na quitinete / Me traiu com mais de sete / Fez comigo um bafáfá / Voltou / Mandando um bate-boca / E bate porta e quebra louça / E troca tapa e rasga a roupa / Fez comigo um mafuá / To batendo no pandeiro pra não bater em você). Não bastasse ter perpetrado esta e outras "pérolas", agora está com show anunciado para o Teatro Guaíra, em Curitiba, aos custos "simbólicos" de R$ 240,00 (platéia), R$ 200,00 (1º balcão) e R$ 160,00 (2º balcão). Ufa! Que alívio saber que estudantes e idosos têm desconto de 50%. Isso viabiliza muito a ida desta gente ao espetáculo. Quem vai ao show? Eu não. Não gosto de chatos e menos ainda de loucos que rasgam dinheiro alheio. E ela nem comeu a Madonna pra valer tanto assim.