Ok, vou confessar. Vocês são meus amigos e saberão compreender meu surto. Ontem eu comprei um par de sapatos Crocs. Tá. Falei! Não me trucidem por isso. Há uma explicação razoável para eu ter cometido este ato de extremo mau-gosto. Pensei que com eles poderia molhar meu jardim mais confortavelmente, sem deixar úmidos ou sujos meus chinelinhos ou tênis. Minha amiga Juliana, se é que ainda se manterá como minha amiga, disse que eu queria os Crocs e que, por isso, elaborei por meses esta justificativa. Falou que fiquei matutando, matutando até a decisão tresloucada da compra. Argumenta que precisa repensar nossa amizade e pediu um tempo. Ela pode ter razão, afinal, o ápice da moda dos Crocs já passou há um bom tempo e eu mesma sempre olhei para as vitrines da Kippling com um misto de desejo e policiamento. Acostumada às maravilhas do couro curtido com maestria, me render a sapatos sintéticos seria o cúmulo da decadência consumista, pensava. Mas então me veio à mente as cadeiras plásticas do Phillipe Stark. Se o mundo se maravilha com todo aquele acrílico incolor horroroso, achando chiquérrima a padronização que este cara promoveu nos restaurantes "mudernos" de Paris, porque diabos não posso ter meus sapatos Crocs? Sei que tanto meus Crocs quanto a cadeiras do Stark contribuem para o aumento do preço do petróleo e provavelmente incentivam a produção dos biocombustíveis responsáveis pela falta de alimentos no mundo mas... danem-se! Comprei e estão comprados. Agora só falta a greve dos Correios permitir a entrega.
Dá o tapa, esconde a mão
É sabido por todos que certo, certo ninguém é. Já vi doidos de todos os formatos mas aqueles que mais me assustam são os que apresentam quadro de perversão. É difícil conviver com eles, impossível argumentar. Ante a possibilidade de um embate, o perverso desqualifica, abstrai ou distorce. Anula, de alguma forma, o outro. De todos os malucos, o perverso é o que mais me incomoda. Conheci alguns destes tipos. Da maior parte consegui manter distância, tão logo detectados. Com alguns, por questões profissionais ou pessoais, sou obrigada e manter relações no minimo cordiais, o que me faz ferver o sangue muitas vezes. No momento "convivo" (destaque para as aspas) com duas completas pervertidas. A primeira tem sintoma absurdamente irritante. Não sei se porque mente ou porque não gosta que se entre em seu mundo, quando perguntada sobre coisas que para a maioria das pessoas são básicas, finge não ouvir, jogando para o outro sua própria maluquice. "Ah, você estudou engenharia em Moscou"? "O que você fazia lá"? Sei lá por qual motivo ela olha para o lado ou baixa a cabeça falando qualquer coisa em volume inaudível. E muda de assunto. O perverso nunca erra, jamais se equivoca, bola fora não é com ele e sempre sabe tudo. Por conta desta característica, uma perversa anda me fazendo quase perder a cabeça. Depois de dizer que eu falo coisas que podem escandalizar moralistas, depois de criticar uma colega por se mostrar de biquini (quem é moralista mesmo?), depois de criticar todo mundo com sua verborragia pseudo-psicanalítica... quando alguém a interpelou e deu um basta na falação qual foi sua resposta? Reclamou que a estávamos tolhendo. Apagou tudo o que disse, vitimizou-se. Mas a internet guarda tudo. Quem infernizou quem? A resposta está no hd.
Tucanos
Sem comentários...
Natureza falcatrua
Este papinho de que a natureza é mãe não me convence. Por vezes é madrasta. E daquelas bem perversas. Sabe aquela mulher de voz maviosa, gestos generosos e olhar angelical que no decorrer da trama vira um exú? Pois é assim que hoje eu vejo a natureza aqui pro meu lado. Estou quase acreditando que Charton Heston estava certo e que a venda de armas deve ser liberada.
Veja bem...
Há quase dois meses terminamos de construir uma casa num paraíso urbano. Um vasto terreno com muitas árvores e gramados aos quais chamo de "pradarias". No início, como que para nos recepcionar, acordávamos com tucanos, pica-paus e bandos de pequenos papagaios (caturritas para os gaúchos). Um desfile multicolorido de aves até então para mim inimagináveis. Mas durou pouco.
Estas aves até aparecem ainda. Menos e mais cedo, de forma que não as vejo com a frequência desejada. No lugar delas vieram, dia e noite, a qualquer horário, os quero-quero.
Céus!!!! As ONGs que me perdoem, os ornitólogos que me poupem de seus argumentos, mas não existe nada mais chato que estes Vanellus chilensis.
Eu quero dormir e eles não deixam. Gritam e cantam ininterruptamente. É muita alegria para um ser sorumbático feito eu. E, para piorar, meu cachorro se estressa e late o tempo inteiro por conta destas praguinhas que em levantamentos das espécies têm sua possível extinção apontada como "pouco preocupante".
Opa... pouco preocupante? Quer dizer que se proliferam como os cangurus na Austrália? Hummm... tá liberada a caça?
Ronaldo perderá contratos sim
Ronaldo é um cara de relativa sorte. Primeiro que nasceu no Brasil, onde os "escândalos" sexuais não recebem a mesma atenção que em outros lugares do mundo. O cara flagrado em adultério por aqui ganha fama de garanhão, ao invés de comprometer seu mandato, como nos EUA. Um ator flagrado com a botija na boca (não foi com a boca na botija), como Hugh Grant, nem chega a responder inquérito por ligações com redes de prostituição. Nada disso. Mas agora o jogador licenciado volta às manchetes e... sujou. Não ganha as capas por envolvimento com alguma gostosa de plantão. Desta vez o assunto é baixaria em motel de 5ª, com travestis de 7ª categoria. Não sou moralista e pouco se me dá os gostos do rapaz. George Michael é um autêntico Deus grego e poderia ter quem quisesse em sua cama quando preferiu curtir um boquete em banheiro público do Central Park com um qualquer. Tudo bem. Gosto e fantasia não se discute. Não vou jogar pedra em Ronaldo por isso. Mas acho que vai perder contratos sim. A imagem dele está um horror. Qual empresa quer associar sua marca a ele hoje? A minha não faria isso. E nem estou falando dos supostos envolvimentos com mocréias, drogas ou travestis. Eu cancelaria qualquer contrato com um cara que fosse ao Fantástico tentar limpar sua barra com o visual abaixo. Olha a camiseta velha e amassada. Olha o penteadinho desgrenhado do cara. É assim que este moço entra na minha casa pra dizer que é de bem e que está arrependido? Preconceitos à parte... não é o melhor jeito de se expor nesta hora. Se a idéia era passar uma imagem de "estou deprimido com tudo isso"... não deu certo. Só ficou um "quê" de negligente.
Sou insuportável
Não sou uma pessoa que sente saudade. Nunca fui. "Soy una mujer que mira adelante" e, por isso, não consigo me enquadrar em certas situações e grupos. Encontrei velhos colegas de escola no Orkut e a partir daí fizemos contatos esporádicos. Mais recentemente descobri que havia um grupo de discussões desta turma e lá fui me inscrever. Aliás, Xico intercedeu por esta inscrição. Mensagens vão, mensagens vêm... dou meus pitacos aqui e ali. Percebo que meus posts fogem ao padrão "olha como fomos felizes na escola... nosso time de futebol era bacana... as olimpíadas do colégio eram sensacionais...". Daí para mais uma vez ter certeza de que sou um ser insuportável foi um pulo. Ora, ora, ora... é claro que lembro com carinho das caminhadas com Adri da escola até a casa dela, que ficava bem em frente ao ponto do ônibus que me levava para casa. Da mesma forma outras recordações me agradam. Mas paro por aí. Não acho que a comum idéia de nossos pais terem nos matriculado na mesma escola seja afinidade suficiente para uma vida de contatos. Isso só me serviria se, com ou sem afinidade, esta lista servisse para sabermos no que viramos. Mas quem quer saber disso? Só eu. Ok, ok, ok... já temos a vida e nossas relações cotidianas para esta troca de realidades... não vamos transformar nosso grupinho em um grande divã. Não vamos fugir das amenidades. Perfeito. Concordo plenamente. Ou aceito. Só que eu sou mesmo insuportável e não consigo só brincar.
Moro na Belíndia
Quando criança aprendíamos na escola que o Brasil era uma Belíndia, não sei se ainda se fala nisso. Belíndia seriam aqueles países que reúnem o melhor e o pior dos dois mundos: a riqueza da Bélgica com a miséria da Índia. Pois na semana passada descobri que mudei para o microcosmo da Belíndia. E explico. Depois de todas as agruras famosas entre aqueles que decidem construir uma casa, finalmente ela ficou pronta e liberada para nos recepcionar com todo conforto que conseguimos concretizar. Uma semana antes da dita mudança fiz o pedido de transferência da linha telefônica e ADSL. Começou o calvário. Há uma semana integro a faixa dos excluídos da era digital. Não tenho telefone e nem Internet. Moro em meio a casarões “empiscinados”, com lago, fiações subterrâneas, quadras esportivas, bosques nativos, BMWs e Mercedes nas garagens lindeiras... e nada de telefone e menos ainda de ADSL. E Net não chega aqui para me dar a opção do Virtua. Esta realidade faz com que o IDH – Índice de Desenvolvimento Humano, por aqui seja considerado abaixo da linha do aceitável neste século XXI. Destaco que tive probleminhas também com água e luz mas como já foram superados... deixemos para lá. É a Belíndia que aprendi na escola. Temos as belezas e o dinheiro da Bélgica... que de nada servem se a infraestrutura é da Índia.
Dai-me paciência!
Desde o início do ano ando afastada deste espaço. Não por desdém, com certeza. Ocorre que, devo confessar, nada tive a dizer neste período. Ninguém haveria de ter paciência de me ler narrando as agruras do término de uma obra, sobre o AVC da sogra, a síndrome de pânico que mora ao lado ou acerca do suposto tumor pulmonar da minha contra-comadre. Nem eu aguentaria, para além de viver, comentar tudo isso. Mas hoje, ao receber a Folha de São Paulo, leio já na capa que a "Igreja Católica lista manipulação genética e uso de drogas como novos pecados". Ah... este assunto me faz subir nas tamancas. Quero aqui dizer que este tema me incomoda por dois aspectos. Primeiro que sou absolutamente favorável à pesquisa com células-tronco, células embrionárias e tudo o mais que se apresente. Não matando criancinha pra tirar o rim, tô dentro. Mas aquilo lá que estão pesquisando, acredito cegamente, não são criancinhas. Todos sabem que pensar assim me convém. Portadora de doença auto-imune (rhupus = lupus + artrose), sou grande interessada nos avanços das pequisas na área. E fico louca por saber que aquele bando de velhinhos reacionários fica sentadinho lá no Vaticano a soltar comunicados que visam me tirar o sonho de parar com o Reuquinol, o Artrolive e tudo o mais que tenho ou terei que tomar pro resto da vida (ainda bem que existem, não estou reclamando). Pior... que tentem acabar com minha esperança de voltar a ter um corpo bronzeado, coisa que me é absolutamente proibida. Isso sem falar em uma existência livre das dores provocadas pelo talzinho. Pode parecer bobagem mas pergunte a um diabético o que ele faria por um tequinho de pudim no almoço de domingo? Ah... que egoismo o meu! Pensar em pudim e sol quando estarão em jogo embriões de vidas humanas. Bem... pra mim vida humana só existe depois que vinga. Desculpem os crentes. O segundo incômodo que me causa esta posição católica tem a ver com algo mais genérico. Odeio discutir obviedades. Detesto perder tempo com aquilo que é inexorável e que foge à razão. Ora, ora, ora... vejamos. A Igreja Católica, e em geral todas, é campeã em ditar regras que a desmoralizam pelo descumprimento. Desde a condenação de Galileu, a Igreja perde para a ciência. E desde sempre perde para a vontade popular. Ou não seria ela contra o adultério, o divórcio, o homosexualismo, o sexo fora do casamento e sem fins procriativos bla bla bla bla. Qual destes recebe real atenção da galera? Quem não comete ao menos um destes pecados, mesmo que secretamente? Nem o mais carola dos seres. Sequer o próprio corpo da instituição máxima cristã. Então fico impressionada como ainda não aprendeu que suas tentativas de manter o controle total são inúteis. Cedo ou tarde sucumbiram e sucumbirão todas. Tem sido assim ao longo de milênios, ao menos dois. Só que enquanto isso fico eu aqui, esperando que absorva o inevitável. Dai-me paciência!
After Hours
No meio da década de 80, precisamente em 85, Martin Scorcese lançou o filme After Hours (Depois de Horas). Toda vez que entro em uma roubada, pesadelo ou que sou vítima de um dos enunciados da Lei de Murphy, lembro desta película que nada mais é que uma narrativa sobre os horrores pelos quais a pacata personagem de Griffin Dunne passa durante uma, apenas uma, madrugada nova-iorquina.
Dunne é um tranquilo trabalhador que sai para encontrar um "mulherão". A partir daí tudo dá errado. Uma sucessão de trapalhadas e apuros tomam conta da vida do sujeito, numa espécie de trem fantasma real pelo bas-fond moderno de então. O cenário montado por Scorcese é tão angustiante e perigoso que Paul, a tal personagem, só nos mostra um momento de contentamento: quando roto, sujo e acabado finalmente, ao amanhecer, consegue retornar para seu cotidiano medíocre no escritório. Ó céus! Tudo o que ele queria era voltar para sua modorrenta e confortável vidinha.
E porque fui me lembrar deste filme em tempos tão festivos?
Não sei se pelo menisco em vias de operar, o AVC da sogra, a síndrome de pânico que mora ao lado ou o recém descoberto tumor de uma amiga. Seria o estágio final da construção da casa (obra) o que me jogaria neste universo dantesco?
Não sei mesmo.
Mas eu quero que passe logo este feriado de pânico. Pra mim e pra todo mundo.
Divagações semânticas
Não vou aqui usar coisa batida do tipo "a palavra cão não morde"... só que os tempos mudam e com eles as palavras. Ou melhor, o significado delas. Vejamos a palavra marginal. Hoje ouvi na CBN que "marginais invadiram uma casa às 10 horas e fizeram seis reféns".
Oras, marginais não eram aqueles que estavam à margem da sociedade? Se hoje a sociedade está, digamos, apodrecida, marginal não seria eu? Você? Marginais não seriam todos aqueles poucos que, com sua retidão, estão à margem do bloco que rouba, mata, suborna, espanca, sevicia, engana, explora ou enrola os outros?
Posso estar pensando uma grande besteira mas, na dúvida, não vou mais usar esta palavra para designar a bandidagem.
Como há anos prefiro não usar os termos "coitado" ou "enxotada", que, diga-se, são bem complementares em sua essência.