Os outros são safados, ladrões, corruptos e corruptores. Nós somos aqueles que lutamos pelo que queremos, usando as armas que estão ao alcance. Este é o mundo que estamos testemunhando com lente de aumento na Internet e suas redes sociais.
E calma! Não culpo o meio, ao contrário. É graças a ele que podemos perceber esta hipocrisia com olhar microscópico. Ali as pessoas se colocam. Mostram o que pensam e o que defendem, mesmo quando não é esta a intenção.
Reclama-se do policial que chega com o pé na porta do casebre na favela, atirando em quem estiver pela frente. Mas julgamos em rito sumário qualquer escorregadela de um incauto. Depois a gente vê se ele de fato cometeu "o crime" que imputamos a ele.
Falamos mal da imprensa manipuladora e perversa mas somos ávidos em espalhar boatos em #140. Em replicar maledicências de todo tipo.
Malhamos Bolsonaro quando se manifesta homofóbico e racista mas gargalhamos quando Rafinha Bastos justifica estupro de forma até apológica.
Exigimos comportamento minimamente correto, livre de preconceito, mas detonamos aquele que ousa aparecer na mídia com uns quilos a mais ou trajando algo que julgamos inapropriado. Ou feio.
Execramos Sarney e seus métodos eleitorais mas assistimos impassíveis a robôs manipulando votações de BBB. Até achamos bacaninha quando uma banda tenta conquistar vaga em festival de rock usando artifícios nada lícitos.
Fico realmente impressionada com nossa capacidade de regular a balança conforme nossos interesses.
Falamos, falamos, falamos dos nossos pais mas nos especializamos na arte de pregar moral de cuecas.