Quando passo na rua e vejo um automóvel com aqueles riscos que parecem feitos por prego, rasgando a lataria de ponta a ponta, logo penso que foi obra de alguém que nunca ralou para comprar um radinho de pilha sequer. Não passa por minha cabeça que alguém que conheça o valor do trabalho e do dinheiro cometa tal ato de vandalismo.
Então logo lembro que há uma parcela, não pequena, de pessoas que associam conquistas a sorte ou safadeza. O proprietário daquele carro ou o ganhou de alguém ou explorou alguém para tê-lo. A maldade (inveja?) humana dissocia trabalho x resultado. Criatividade, planejamento e ação x resultado.
E penso nisso hoje por um motivo completamente dona-de-casa-classe-média. É que vejo crescer o número de pessoas que, ao saberem que Cândida trabalha aqui em casa há 12 anos, arregalam os olhos e dizem: "que sorte"!
Sorte de quem? Minha? Dela?
Conheci Cândida através de uma amiga que a tinha como diarista, modo como os paranaenses chamam faxineiras. Naquela época, recém separada do segundo casamento, morava em um pequeno apartamento e só podia pagar pelo trabalho quinzenal da Cândida. Ela sempre foi "mulé cara", diferenciada.
Na medida em que as coisas foram melhorando, e um novo casamento veio, chegamos a ter duas visitas semanais. Um luxo. Bem que eu dava umas cantadas para ela ficar só com a gente, em vão. Cândida tinha como objetivo a construção de uma casa e, para isso, faxinas eram mais lucrativas que um emprego fixo mensal. Assim seguimos.
Cândida um dia quase perdeu o dedão do pé cortando grama na casa em que morava e ficou dois meses recolhida. Enquanto todas demais patroas trataram da reposição "da peça", eu fui lá no hospital onde ela estava, carregando uma sacola de guloseimas, e disse que ela não se preocupasse que continuaríamos pagando como se ela estivesse vindo aqui em casa. E assim fizemos.
Os sonhos foram caminhando em paralelo, cada qual do seu tamanho e dificuldade. Cândida começou a fazer a casa dela, e nós a nossa. Ao mesmo tempo quase. Com as duas quase prontas demos a derradeira cartada. Não oferecemos mundos e fundos e nenhuma grana que fugisse à realidade da sua categoria profissional. Lembramos simplesmente que o trabalho de diarista é extenuante. Que nossa nova casa era grande mas que o trabalho seria diluido ao longo da semana. Salientamos que estava na hora dela se acomodar um pouco. Deu certo.
Cândida não é "como da família". É uma das pessoas a quem mais respeito e admiro no mundo. Mulher dentro do real, nunca a vejo falar uma besteira, o que é muito mais do que encontro em 90% das demais pessoas. Mas tudo nos limites do certo. Ela entra às 9h e sai às 17h, de segunda a sexta. Tem férias anuais de 30 dias e, obviamente, todos os encargos recolhidos.
E tem umas regalias. Ou regalitos, como chamamos. Quando viajamos ela não precisa estar aqui todos os dias. E quando recebemos hóspedes, compensamos com folgas extra. Praticamente mobiliamos a casa dela. Com certeza pintamos e lajotamos a área externa com material que nos sobrou. Já ouvi que a "colocaríamos a perder", deste jeito.
Ri. Só pra exemplificar, quando temos festa num domingo, por exemplo, e recebemos 30 ou 40 pessoas, nem é preciso pedir que venha. Cá está ela. Pagamos um extra pois, como disse antes, Cândida não é "como se fosse da família".
Tenho claro que lealdade e bons serviços se conquista com bom tratamento e dinheiro, claro.
Sorte? Só se eu começar a acreditar que conheci a Cândida porque nasci em Porto Alegre, me formei em jornalismo, meus pais vieram morar no Paraná, conheci Goreti, que me apresentou Plínio, que me apresentou Lara, que me indicou um trabalho para eu vir morar em Curitiba e depois falou que Cândida tinha um dia livre...
Mas não tem nada a ver com sorte tudo isso. Só com vida e a forma como a conduzimos, sobretudo no trato com os outros.
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Não, às vezes, só quer dizer… não
Há quem pense que estou virando uma ranzinza mas não concordo. Eu sempre fui ranzinza, não é de hoje. Só que tem um detalhe. Sou ranzinza mas colocada. Este negócio de ficar me imiscuindo na vida alheia, por exemplo, comigo inexiste. Pra me expor bem, acho que paranóia é um sentimento até certo ponto protetor. Não deixa que você pule a cerca pro terreno do vizinho. Mas sem exageros. Um não, às vezes, é só um não.
Quando alguém me diz, por exemplo, que não quer festa de aniversário eu simplesmente espero que chegue a data e mando um email. Um torpedo. No máximo um rápido telefonema, quem sabe.
Não é o que acontece com alguns.
O tal "não quero fazer festa de aniversário" é lido como um "vamos reunir um pequeno grupo para almoçar". Como assim? Alô! A pessoa não quer festa de aniversário seja ela pequena, média ou grande.
E o "não quero fazer festa de aniversário" também não significa "não quero fazer festa de aniversário com os outros mas com você eu quero". Não tem nada a ver com o outro. Ela quer ter este momento só para ela. Ou está nem ai pra data, tá deprê. Ou está em completa paz e neste estado quer permanecer.
De qualquer forma... se ela quer assim, que assim o seja. Não entenderei que esta pessoa não gosta de mim. Ao contrário, não respeitar este desejo pode, sim, fazer com que não goste ou deixe de gostar de mim.
Mas o outro é só o outro. Simples ferramenta do desejo alheio. Um ser menor que não entende que eu sei muito bem o que é melhor pra ele.
Deparar este tipo de situação faz com que eu pareça ser cada vez mais ranzinza, quando só sou simplória. Entendo e aceito perfeitamente que não sou o centro do universo. Entendo que tem horas em que até meu cachorro, aquele ser submisso, se enche das minhas afofadas.
Segunda-feira
Boa tarde! Hoje é segunda-feira e você reclama de já começar a semana compromissado com cliente chato, chefe mala e ligações do banco cobrando atraso no leasing? Frutinha!
Que tal acordar cedo para levar seu pai a fazer três diferentes tomografias preparatórias a uma cirurgia cardíaca, chegar lá no laboratório e descobrir que faltou um documento que não foi pedido antes? Agora a frutinha sou eu. Minha segunda-feira ainda guardava pior.
Almoçando no Shopping Barigui Dr. Victor Hugo, aka "pai", manda: "meu pai morreu quando eu tinha 3 anos, aos 36. Estou com 75 e já vivi muito. Não quero fazer exame algum e vamos ver no que vai dar".
Não somos religiosos e meu pai é uma das pessoas a quem mais respeito por sua cultura e inteligência. Não poderia usar um argumento qualquer. E nem sentimentalóide.
Pensei dois segundos e disse que todos sonhamos cair durinhos no meio de uma partida de tênis, como ocorreu com o cardiologista dele. Esta é uma morte sonhada. Pá-bum.
E fui além na explicação lembrando que não é assim que acontece normalmente. Que se ele não fizer coisa alguma e morrer dormindo, ótimo. Mas e se tiver um AVC que o deixe totalmente dependente e com qualidade de vida zero, como vai ser? Ele, que é uma mescla de dengoso e deprê, vai dar conta?
Não sei se para me agradar, concordou. Mas já estávamos no café quando ele voltou a carga. "Desculpem se eu não estou de bom astral e com estes pensamentos". Minha mãe, coitada, fez uma cara de profunda tristeza misturada a uma irritação que interpreto como um "filha da puta egoista. Acha que eu não vou sentir sua falta"?
Restou a mim novamente falar algo já que não sou o tipo que ouve uma coisa destas e fica calada. "Desculpo sim. E peço que você também nos desculpe mas nosso papel é não dar bola pra estas suas idéias". Ele abaixou a cabeça e respondeu que nos entende.
Saímos do Shopping em direção ao consultório do médico para providenciarmos o documento faltante.
Aqui estamos sentados, esperando Dr. Jorge. Meu pai faz um Sudoku alheio a tudo. Minha mãe mortificada e eu escrevendo isso.
A vida segue igual a sempre. Como sempre.
Obs. 01: Alô CASSI - Está difícil fazer valer os R$ 800 mensais que meu pai paga? São 18h02min e até agora liberação alguma.
Obs. 02: O tema "não quero exame e nem nada" esteve em pauta ainda umas 4 vezes no decorrer do dia.
O fenômeno da simultaneidade
Quem me conhece sabe que eu sou "meio doente" com estas coisas de internet. Há anos que nela trabalho, compro, me informo e divirto. Me aborreço também. Por isso digo que sou "meio doente". Aqui em casa somos duas pessoas e temos 7 meios de conexão: quadro computadores, dois celulares e um iPod Touch. Temos conexão ADSL e os dois celulares contam com assinaturas de planos de dados 3G.
Janete e Prado, respectivamente cabeleireira e manicure, dão risada da minha cara pois supero minha falta de paciência com a parceria salão e Revista Caras usando a internet. Em dia de pintura de cabelo chegou a ficar duas horas ali sentada, hipnotizada e alheia a toda matraqueação que me cerca com celular ou netbook em mãos. Elas também me acham "doente".
Pois bem... a "doente" aqui foi multada na rua Cel. Mena Barreto Monclaro, que fica em uma das regiões mais movimentadas de Curitiba, trafegando na contramão. Nego VEEMENTEMENTE qualquer possibilidade de ter cometido esta infração.
No dia e hora apontado, 25 de maio de 2010, às 9h09min, meu celular Nokia E63, de uso exclusivo, pessoal e intransferível, estava conectadíssimo a minha rede doméstica.
No dia indicado, vejam a foto acima, às 9h01min conectei o celular na rede "gomalina" (minha), por 27:09 minutos. Estava no centro de Curitiba e em casa, ao mesmo tempo, conforme o Detran. Se olharem aquele 3G no canto da foto, ignorem. Isso aparece sempre. O que vale é o WLAN do segundo item "tipo".
Não há a menor chance de eu ter esquecido o celular em casa. Ainda se houvesse, não haveria a menor chance dele estar conectado pois após um breve período de inatividade a conexão cairia. E menos ainda a possibilidade de alguém o estar usando. Aqui em casa não temos quatro computadores para duas pessoas porque rasgamos dinheiro ou gostamos de compartilhar nossas privacidades.
Ou falta de privacidade, melhor.
Esta multa, portanto, é fruto de algo muito desagradável para um órgão que se pretende sério: desatenção de quem anotou a placa do suposto infrator ou safadeza.
Antes que seja cogitado... não. Eu sequer tenho a quem emprestar meu carro. Não tenho filhos, parentes ou empregados habilitados em Curitiba. Aqui em casa os carros também são pessoais e cada um tem o seu. E neste dia meu veículo não estava em estacionamentos, lava-rápidos e nem em oficina.
E, ainda. Nada tenho a fazer na rua neste horário. Não bato ponto na repartição. Aliás, não existe repartição. Não quero aqui tripudiar trabalhadores e emprendedores devotados mas... nenhum é meu caso. Neste horário, em geral, estou acordando.
Detran... estes seus 7 pontos vão me custar muito caro mas que não virão parar em minha carteira não virão mesmo.
Começou a briga.
Quem leu Wilson Bueno?
Devo confessar que jamais li Wilson Bueno a não ser eventualmente uma ou outra de suas colunas em jornais locais. Ignorância minha, claro. Não tenho a quem culpar. Lastimo a falha e tentarei corrigir.
Não gosto de usar desculpas. Detesto gente que joga a responsabilidade de suas fraquezas nos outros mas, convenhamos, eu lá sabia que Wilson Bueno era bom até sua morte? Precisou um michê barato dar cabo do escritor para a imprensa doméstica e nacional me informar que o cara conhecia o ofício.
Fiz aqui no meu MSN uma rápida enquete com estudantes paranenses. Perguntei se a escola do Paraná indica a leitura de escritores locais. Questionei estudantes de Curitiba e interior. De escolas públicas e particulares. A resposta, em geral, foi, "não". Tive duas menções a Paulo Leminski e Dalton Trevisan. Mas com o adendo: "ainda assim pouco".
Nenhum leu Bueno e não estou falando de estudantes desinteressados. Alguns sei serem leitores vorazes.
E agora passo a falar da minha experiência, já que não posso ficar elocubrando sobre o que não sei. Vamos lá.
Chamam gaúchos de bairristas e pode ser que sejamos mesmo. O mundo é testemunha de que sou uma grande crítica do gauchismo. Tanto do gauchismo expansionista, que funda CTGs e se retroalimenta do mesmo eternamente, quanto do gauchismo deprê, que se lastima de tudo. Ainda que eu ache que é o lado da baixa auto-estima que fomenta o arrogante, mas isso é outra conversa.
De qualquer forma, Wilson Bueno não seria desconhecido por lá. Para o bem e para o mal, a escola gaúcha nos obrigava a ler "As Aventuras de Tibicuera" e muito mais. Estava na nossa listinha Josué Guimarães, Érico, Mário, Cyro, Lopes Neto etc. Como hoje devem estar em pauta Tabajara Ruas, Lya, Martha, Noll. Quem sabe até Clarah Averbuck, Daniel Galera...
O fato é que não só na literatura mas também na música, teatro, cinema e até na TV, por lá o local se apresenta e se sustenta, bem ou mal. Não vejo isso aqui no Paraná.
Alguém consegue lembrar de uma matéria como esta no Jornal Estadual 1ª Edição de Curitiba? Eu achei bobinha e não concordo que o sentimento de ciúme sirva pra qualquer coisa boa. Mas que ajudou Carpinejar a vender livros ou, ao menos, ser conhecido, lá isso é indiscutível.
Muito obrigada
4 leis que existiam na idade média: hospitalidade, honra, lealdade e família. Hoje elas não existem mais, nem medievais somos.
(via @eduardomarquesf )
Sou grande presenteadora. Gosto de dar presentes e sou famosa por conseguir surpreender favoravelmente a meus presenteados. Noto, contudo, que pessoas bem jovens ou adolescentes não sabem ou não conseguem agradecer. Dizer um "muito obrigada/o".
Cândida, minha sábia auxiliar, acha que é falta dos pais ensinarem. Concordo com esta teoria. Mas vou além. Não acho que os pais não soltem a clássica "diga obrigada pra tia". Falam, sim. O problema é outro.
Não basta ensinar uma criança a dizer mecanicamente obrigada. Como quem a força a comer brócolis ou limpar as orelhas. Há que se ensinar algo maior: o senso de gratidão.
Claro que não refiro aqui àquela gratidão que escraviza, subjuga. Penso em gratidão genuína. Fomentar a percepção de que o outro não tem obrigação alguma em sair por aí distribuindo regalitos. E que se o fez foi por uma grande atenção. Um ato de carinho.
E é este ato e este carinho que devem tocar o presenteado. O que vai no pacote é o de menos. Claro que sendo legal melhor ainda. Bônus.
Se a criança não entender isso de nada adianta ensinar a dizer um robótico "muito obrigada/o".
Ainda que - na falta do sentimento -, se o fofuxo conseguir ao menos repetir estas palavras de forma automática já estará bem bom.
Encontro às cegas
Estava em Camboriu quando meu amigo de longa data, Ricardo Severo, mandou um SMS avisando que se encontrava em Curitiba para a estréia da peça Travesties no Festival de Teatro e que tinha dois ingressos me esperando para o espetáculo. Ricardo é um querido e eu jamais perderia a oportunidade de vê-lo, ainda que na correria de uma estréia. Voltamos, pois.
E aqui começa mais uma prova de que só está sozinha quem quer. Alô amigas encalhadas! Até esta que escreve sabe que isso é a mais pura verdade. E explico.
Minha sogra faleceu há poucos dias e o clima aqui em casa no momento não é exatamente festivo ou mesmo social. Logo, se quisesse ver meu amigo no teatro teria que encontrar outra companhia. Como no mundo adulto as pessoas são chatas demais, não encontrei alguém disposto a colocar uma roupa, entrar no carro e ir para o teatro em meras duas horas. Quando adolescente isso seria fácil pois o amigo solicitado não trocaria de roupa, largaria o que estivesse fazendo por um ingresso grátis e jamais teria preguiça de pegar um ônibus, que dirá um carro. Enfim... adultos. Não consegui pessoa alguma que me acompanhasse.
Lembrei dos tempos de faculdade, quando estar sozinha jamais foi impedimento para qualquer coisa (as noitadas no Ocidente que o digam), tomei banho, coloquei uma roupinha bacana e lá fui eu. Chegando à portaria já encontrei meus ingressos e Ricardo me pergunta: "você está esperando seu amigo"? E eu, meio envergonhada, respondi que sim.
Esclareço que não estava envergonhada por ter ido sozinha mas sim por não ter avisado em tempo hábil que iria sozinha, de forma a permitir que aquele ingresso de sua cota pudesse ter servido a outro amigo que por acaso Ricardo quisesse ter chamado. Esta era minha vergonha. Uma coisa meio luterana (que não sou) de combate ao desperdício.
Então tive a idéia de dar o ingresso para alguém e fui até a fila da bilheteria. Em uma rápida análise que descartou vários casais, um estudante rastafari e uma mocinha bicho-grilo, optei por um rapaz sozinho, precocemente grisalho e com uma cara que julguei "boa". Me aproximei e fiz a oferta. Gente! O sorriso incrédulo que ele escancarou foi comovente até. Pura alegria.
E seguimos para nossos lugares. Descobri que o nome do moço é Jairo e que trabalha no setor de embalagens de papelão. Que gosta de teatro, estuda economia e que havia programado assistir aquele espetáculo com a namorada mas o namoro terminou antes que chegasse o dia da peça. E brincou: "vou ter que contar pra ela o que aconteceu". Quanta justiça neste mundo. Parece que os ingressos ficaram com ela e que já tinha convidado uma amiga para acompanhá-la, deixando o pobre na mão.
O que eu quero dizer, depois desta ladainha toda, é que foi um "encontro" literalmente às cegas e muito agradável. Jairo revelou-se (ao menos em um primeiro momento) um cara simpático, bom papo, educado, aberto a novas e diferentes pessoas.
E eu, que sou casada há 20 anos (somando casamentos), conclui que não perdi a forma. Não que ele tenha me dado trela pois não houve qualquer clima para isso. Mas não perdi a forma para escolher bem. Escolhi com base em rápidos critérios puramente visuais e pimba. Uma noite agradável.
E foi então que mais uma vez fiquei com dó da série de amigas solteiras e reclamonas. Abram os olhos e os corações. Encarem a fila do teatro, do cinema, do supermercado... o mundo deve estar cheio de Jairos e vocês ali pensando que se o cara está sozinho em uma noite de sexta é porque deve ter algum problema ou qualquer bobagem do tipo.
Até esta "senhôra" ontem teve materializada a máxima que diz que "a fila anda". Mas tem que estar ao menos na fila.
Os extremos da mídia
O mundo inteiro comenta o quão confortável com seu corpo parece ser a candidata ao Oscar de Melhor Atriz por seu trabalho em Preciosa - Uma História de Esperança. Gabourey Sidibe, com apenas 26 anos, é visivelmente obesa mas a humanidade (leia-se publicações voltadas ao universo artístico ou de celebridades) resolveu que ela está ótima. Trajou um dos mais elogiados vestidos na cerimônia do Oscar 2010.
Parece um pouco com o fenômeno Susan Boyle, aquela chata que jamais receberia um segundo sequer da nossa atenção não houvesse uma orquestração para que a achássemos uma super cantora escondida sob a fachada de patinho feio. Desde os 3 tenores nunca houve factoide tão bem sucedido no setor da chamada música “de qualidade”.
Gabourey Sidibe não está bem. E quando escrevo isso não a comparo com Bar Rafaeli ou Megan Fox. Não engrosso as fileiras dos que acham gordinhos os braços de Kate Winslet (ó céus!). Não a quero ao lado das anoréxicas Nichole Richie ou Lindsay Lohan. Apenas não acho razoável que a joguemos de um lado ou de outro do inferno. Gabourey Sidibe não precisa ser uma Halle Berry. Mas Gabourey Sidibe precisa cuidar imediatamente dos seus triglicerídeos, colesterol etc. Não deve se matar e nem se deprimir. Não sugiro aqui que vire bulímica por pressão da indústria da beleza mas que não deixe a hipertensão dar fim de sua vida, de sua carreira.
Se você ela chegar à forma de uma Queen Latifa já estará bem bom.
Obs.: Corrigi que ela não era vencedora do Oscar após puxão de orelha da tuiteira @DaniLRosa . Thanks.
I need a man
Estou absurdamente precisada de um homem. Um homem ao estilo clássico, entenda-se. Hoje sou cercada por homens de todos os tipos. Homem especialista em répteis, homens com toque de midas para transformar trabalho em fortuna, homens profundamente conhecedores de sutilezas de todo tipo: processo civil, extinção de caxetais, novas tecnologias construtivas, mapeamento de DNA... sou cercada por homens que conhecem muito mais de moda, design e makeup que eu. Não é este tipo de homem que eu quero no momento.
Também não estou em busca de um homem bom de pegada pois isso é fácil, não precisa conhecimento, bastam bons instintos. Posso apostar que acerto em um máximo de cinco tentativas.
Eu quero um homem das antigas. Não precisa mandar flores e não precisa pagar conta. Não precisa sequer ter um relacionamento comigo. Eu quero um homem que seja curioso sobre as coisas de... homem.
Um cara que saia comigo de carro e diga que o barulho vem da direção hidráulica e não me faça perder tempo mexendo no ar-condicionado, como recentemente ocorreu. Ele não precisa arrumar mas se me disser isso eu vou na oficina e mando fazer. Eu preciso urgentemente de um homem que veja o estrago que a chuva causou no meu telhado há uma semana e diagnostique a causa com perfeição. Eu chamo o encanador, o calheiro, chamo o diabo e pago pra que siga as ordens dele.
Nunca pensei que um dia diria isso mas eu anseio por um homem que me diga o que fazer. Ele não precisa por a mão na massa e nem na Márcia.
Estou farta de jardineiros que não jardinam, engenheiros que não "engenheiram", encanadores que não encanam, pintores que não pintam e pedreiros que não pedreiram.
E como não sou preconceituosa, se o homem que eu preciso for uma mulher, que venha.
Assunto da moda
Com o episódio Tropa de Elite, de uma hora para outra o país resolveu debater a pirataria, assunto que antes era muito pontual. Até os amigos trazem o tema à tona, manifestando seu amor às artes comprando ingressos para ver o filme mesmo que já o tenham assistido em cópia pirata. Culpa cristã, diria eu. Neste campo tenho ouvido coisas interessantes: "ah, piratear filme nacional é sacanagem. Os outros tudo bem". Como assim? Roubar do Walter Salles não pode, roubar do Lars Von Trier ok?
Entendi... é a mesma lógica que levou centenas de brasileiros a acusarem Luciano Hulk por usar um Rolex, o que num país com tantas mazelas sociais justificaria o roubo do adereço. Roubar de rico tudo bem, seja um filme ou um Rolex.
Esta mesma lógica explica que se pirateie Windows. "Ah, é muito caro", "monopólio" etc. E pior, que até se institucionalize a pirataria, como aconteceu com os medicamentos genéricos. Por uma "boa causa" a propriedade intelectual dos laboratórios, que investem milhões em pesquisas foi totalmente jogada para o lixo. E como todos acham isso correto, posso fazer a seguinte ilação: a propriedade intelectual de uma indústria vale menos que a de um cineasta, cantor ou de qualquer outro artista que tenha seu trabalho distribuido de forma "alternativa". Mais uma vez a defesa do coitadinho.
Para ambos, artistas e grandes indústrias, continuarem criando e desenvolvendo novos produtos, é preciso dinheiro. E sinceramente, sai mais barato fazer uma música do que chegar à fórmula do Arcoxia, remédio que revolucionou o tratamento da artrose e que garante qualidade de vida a milhões de pessoas no mundo inteiro. "Ah, mas o músico é coitadinho". Tá bom.
Pirataria de qualquer coisa, por enquanto, é roubo sim, não importa a motivação. Mas, e há sem muitos "mases" em tudo nesta vida, há coisas que são inexoráveis. A indústria que hoje reclama da pirataria de filmes e música, por exemplo, não é ela mesma a responsável pela criação dos elementos que formam o cenário perfeito para as supostas falcatruas? Sempre cito estes dois exemplos a Sony e o tal do valor agregado dos marqueteiros.
A Sony produz aparelhos de gravação de CDs e DVDs. Produz tocadores de MP3 também. Paradoxalmente, a Sony é também gravadora-produtora de músicas, filmes e seriados que, por certo, não gosta de ver copiados. Fica uma coisa bem esquizofrênica. "Olha, compra aqui meu gravador mas, por favor, só o use com os produtos dos outros, tá. Com o meu não".
Já os marqueteiros, não são eles mesmos que dizem que hoje em dia todos os produtos são iguais e que o que faz a diferença entre um e outro é o valor agregado e a percepção que o consumidor tem deles? E que por isso investem tanto em construção da marca, o tal branding? Oras, se são tão conhecedores da natureza humana para criarem marcas tão cobiçáveis... como não imaginar que as pessoas matarão por aquilo? Há algo de hipócrita no ar.
Concordar ou não com a pirataria, e defesa para um ou outro sempre há, é portanto, ao meu ver, irrelevante. Não há como conter seu avanço a não ser através da mudança dos modelos de cada um dos negócios reclamadamente prejudicados.
A industria da música já definiu que as gravadoras virarão agentes de shows e que os músicos vão ganhar dinheiro em espetáculos, já que não há como conter a distribuição de seus registros (gravações) na internet. A indústria do software tem a alternativa Linux e mesmo a Microsoft começa a perceber que não há como conter o avanço da pirataria enquanto não baixar os preços. Na Tailândia (??) já existe uma versão Windows bem mais barata e por aqui o Office para estudantes virou Office "doméstico", com direito de uso em 3 computadores a menos de R$ 400. Parece que em breve rodará diretamente na net, como já faz o Google com uma suíte de escritório muito eficiente.
O setor de vestuário se vira lançando novas modas em ritmo frenético. O tênis Puma de outubro é bem diferente do de julho, o que deixa evidente que aquele modelo "ultrapassado" só pode ser de camelô. Os grandes laboratórios não sei o que fazem. Investem em marca e se custeiam cada um com sua meia dúzia de produtos top of mind, suponho.
A TV... bem... sugiro que Warner, Sony, HBO e afins passem a transmitir seus programas simultaneamente em todo mundo. Do jeito que está é duro combater a pirataria. Na última segunda-feira o Showtime tramsmitiu para os Estados Unidos o 11º episódio da terceira temporada do seriado Weeds. No Brasil está anunciado o início da mesma temporada somente em novembro. Detalhe, no dia seguinte à transmissão norte-americana o episódio já estava na net. E dois dias depois estava na net com legendas. Nem a Herbert Richards é tão eficiente.
Concluindo, não basta apelar para a consciência do público para conter a pirataria. É preciso adequar-se a ela quando não houver jeito, e superá-la, quando ainda for possível, com qualidade, agilidade e preço.
Luta árdua, pois. E seguramente mais de inteligência e estratégia do que policialesca.