Suspeito que parcela significativa de meus leitores seja composta por adolescentes e que, por isso, poderei ferir suscetibilidades comuns a esta faixa etária. Mas tudo bem... adolescência passa e um dia serei perdoada por todos. Ou pelo menos por aqueles que efetivamente conseguirem pular esta etapa. Este preâmbulo é para tornar ameno o tema de hoje. Vou falar de Dawson’s Creek, série que a Sony apresenta semanalmente em diversos horários. Calma... eu também acompanho as aventuras (ou desventuras?) da turma que inspira centenas de sites e listas de discussão ao redor do mundo e que gerou dezenas de subprodutos como cds, dvds, multimídias, jogos etc. Tanto assisto que entendo perfeitamente o sucesso desta série entre os teens. Há em Dawson’s Creek uma identificação ímpar com esta fase pela qual todos (ou quase) passamos e na qual descobrimos que quase nada é perfeito no mundo. Estas descobertas, por serem novas, ganham proporção descomunal e conferem ao seriado o mesmo tom sombrio que permeia os primeiros anos da maturação. E desta forma, assim como em nossas insipientes vidinhas, as vidas dos personagens ganham nuances que vão, no máximo, do breu ao cinza. É uma atmosfera de tristeza e melancolia que torna Dawson’s Creek insuportável para quem já passou desta fase exacerbada em que tudo está muito próximo à catástrofe. O criador da série (Kevin Williamson, de Eu vi o que você fez no verão passado), acertou em cheio na divisão per capita de problemas em Capeside (ambientação da trama). Há dramas para todos os gostos e identificações. A ver: Pacey – Cínico, inteligente e... péssimo aluno, Pacey amarga o afastamento do melhor amigo. Sabe-se que existe um pai para ele mas este só aparece no seriado para mostrar sua ausência. A mãe... ninguém jamais viu. Joey - a garota perdeu a mãe, com câncer, e o pai foi parar na cadeia por ser traficante. Trabalha para se manter e tem uma irmã mais velha e mala (como todas). É a mais brilhante da turma mas também sofre com o afastamento de Dawson. Jen - a primeiramente execrada "galinha" nova-iorquina é mandada à força para a casa da avó pela mãe, que na idade dela era também uma "galinha". Os pais da menina vivem viajando, brigando e nunca ligam para a pobre. Sua luta é provar que mudou. Andy – Totalmente psicótica desde que a mãe ficou louca depois que um outro filho morreu. Era namorada de Pacey e, como Dawson, sofre pela traição. Tenta superar tudo isso dando margem a uma obsessiva busca de perfeição (nela e nos outros). Jack – Além de ser irmão de Andy, o que já seria um problema e tanto, é gay. Pior que isso... é gay mas não pratica. Sua única tentativa de encontrar um namorado resultou em fracasso pois o cara já vivia outro relacionamento. Como disse... problemas ao estilo dos adolescentes não faltam, por isso tanto sucesso. Mas fiquem tranqüilos... isso passa. E se não passar há sempre um jeitinho. É só começar a assistir Once and Again, levado ao ar pela mesma Sony. Ali os personagens são adultos e continuam com os mesmos dramas com irmãos, com filhos, com ex-mulheres, ex-maridos... e com os mesmos problemas de aceitação.
Categoria: Baguete
Manoel Carlos não é Eça de Queiroz
Você lembra da Maria da Conceição Tavares? Aquela economista portuguesa, residente no Brasil, que inundou as telas brasileiras ao chorar no Plano Collor, emocionada com a “salvação” que o tal representaria?
Pois Maria da Conceição Tavares voltou às telinhas e pode ser vista interpretando Patrocínio das Neves, a Titi, na minissérie Os Maias. Depois de Marília Gabriela sob a direção de Gerard Thomas, é a vez da economista mostrar seus dotes artísticos.
Brincadeirinha... o personagem é interpretado por Myrian Muniz (que deve estar de sacanagem pra cima da Tavares).
No ar há alguns dias, Os Maias chegou para renovar a dicotomia respeito-e-asco pela Globo. Respeito por reconhecer que volta e meia ela acerta... asco por não percebermos na emissora uma vontade de acertar mais constante.
O caso dá margens a um paralelo entre o que acontece com a Globo e com o mundo dos esportes. Tomemos o exemplo do tênis, que está em moda. Guga começou 2000 perdendo todos os campeonatos. Precisou mudar os planos e vir ao Chile (ao contrário de insistir nos campeonatos europeus e norte-americanos) para retomar o eixo. Venceu em Santiago e a partir daí melhorou. Ganhou uns... perdeu outros... aí vence, pela segunda vez, Rolland Garros.
Vai a Wimbledon e às Olimpíadas com a torcida brasileira pondo a maior fé... e perde. Ganha mais um ou outro torneio... perde outros... e vence o Master. Ponto. Número 1 do mundo.
Pois assim é a Globo. Faz um monte de droga... mas então grava uma minissérie que a coloca como a número 1. A indiscutivelmente melhor emissora/produtora brasileira.
Mas vale dizer que estes pontos marcados pela Globo mais uma vez se originam de uma adaptação, o que dá margens a que eu pense que realmente há uma crise de autores na casa. Os maiores sucessos (qualitativos) da Globo estão associados a Jorge Amado, Dias Gomes, Graciliano Ramos & Cia.
E o quê leva a isso? As histórias? Olha... trama pro trama não há muita diferença entre escritos de Eça de Queiroz e Manoel Carlos. Calma... não é uma heresia e explico. Ambos (e todos os escritores) discorrem sobre trapaças da vida... encontros... desencontros... amor... ódio... estas coisas que nos cercam há milênios.
Mas há uma diferença fundamental. Enquanto um autor de novelas, sejam elas globais ou não, se limita a lançar na tela uma sucessão de fatos e intrigas que parecem servir apenas para o preenchimento dos capítulos... os grandes autores da literatura os tratam (os fatos e intrigas) tão somente como instrumentos que levam a uma outra dimensão... o personagem.
Querem um exemplo para isso ficar mais claro? Vamos lá.
Laços de Família motivou protestos até de parcela da população, incomodada com a profissão de Capitu, por exemplo. Até crianças saíram temporariamente da novela por conta deste e de outros motivos.
Alguém vai reclamar que em breve teremos incesto na minissérie? Claro que não. E não apenas porque “não pegaria bem” criticar Eça de Queiroz... mas porque todos os personagens envolvidos têm vidas que sustentam seus atos, fazendo com que estes fiquem em seus lugares de meros pretextos para a história de Carlos e Maria Eduarda.
Diferença mais latente entre um e outro? Em uma novela brasileira Dom Afonso, o patriarca dos Maias, tentaria impedir o romance entre o filho Pedro e Maria Monforte tão somente por preconceito social. Em um romance de escopo isso não acontece com tanta banalidade. Na verdade Dom Afonso desaprova o envolvimento por saber que seu fracote filho, cria de uma formação católica equivocada, será devorado pela liberal e forte filha de um traficante de escravos.
Mas um questionamento aos modos e costumes da decadente aristocracia portuguesa do século XIX ainda está anos luz à frente das bobagens levantadas em nossos textos televisivos atuais. Aqui ainda acreditamos que Capitu só se prostitui por dinheiro, que é uma agente passiva no processo.
Gostaria de ver Capitu ganhar dimensão humana e tomar as rédeas da vida. Não com a redenção nos braços do pamonha Fred... mas como uma mulher decidida a domar seus “patrocinadores”.
Laços de Família: uma novela familiar
Laços de Família chega ao final sem ter apresentado um roteiro que levasse o público ao suspense, ingrediente fundamental do gênero. As poucas oportunidades que teve de montar um barraco geral... não o fez.
Talvez porque Manoel Carlos não tenha tido feeling ou apoio para ir fundo no duelo Helena x Camila, preferindo cair no melodrama fácil da mãe abnegada que abre mão do amor pela felicidade da pimpolha.
Até a doença de Camila poderia ser inserida no contexto de uma possível guerra familiar, bastando para isso lançar mão da crença popular que supõe a existência de um castigo terreno aos maus... a lenda do “aqui se faz, aqui se paga”.
Não... Manoel Carlos preferiu mandar Helena a um SPA para recuperar-se do baque. E, em sua volta, jogou-a nos braços assexuados de Miguel, o livreiro. Ora bolas... juntar Vera Fischer e Tony Ramos é como colocar na cama Angeline Jolie e Danny de Vitto... Madonna e Padre Marcelo...
Tony é um excelente ator mas falta-lhe um ar mais carnal para contracenar em clima de paixão com Vera Fischer. Difícil de assistir... pior ainda torcer pelo casal.
Aliás... este foi o problema básico de Laços de Família. Apesar de toda sua trama ter por base aspectos da sexualidade humana, razão para ter sofrido problema judicial extra-estúdio, não conseguiu levar a termo o que propunha. Falou-se muito em sexo na novela, mas faltou sexualidade.
Para exemplificar, além do caso Helena/Miguel, temos o protagonista mais sem graça da história da telenovela brasileira. Até Francisco Cuoco é melhor. Gianecchini é lindo, não há dúvida, mas é insosso como raros. Junto a Camila/Carolina Dieckerman fez uma dupla de apagar qualquer incêndio. Aliás... Carolina só está bem no papel de doente por que a gente sempre imagina um doente desanimado... como a moça.
A dupla Alma e Danilo foi outra dureza. Excelentes atores, ambos, Alma comprava o quê? A companhia do bonitão? Sua inteligência? Pelo que a novela mostrou deve ser uma destas coisas. Outra oportunidade perdida de traçar um paralelo entre Capitu e Danilo, que no fundo são os mesmos personagens em distintas situações. Ela uma piranha vendida a um vilão... ele um gigolô de madame.
Sexo também faltou na relação de Viriato e a amiga de Helena que eu nem lembro o nome. Zé Victor Castiel é cria do teatro gaúcho. Cresceu... engordou... ficou com cara e voz de bebê chorão e não convenceu dentro do naturalismo que a TV exige.
Fred, o namoradinho de Capitu, nem merece comentário. Deve mesmo ficar melhor ao lado de Xuxa nos cinemas.
O único que demonstrava apetite sexual era o grosseirão Pedro. Mas seu personagem parece ter sido escrito apenas para fecundar Helena duas vezes. Dizem que animais e proprietários se parecem... pois tornaram Pedro um reles garanhão.
Laços de Família não cumpriu o prometido. Falou, falou, falou... e chega ao final com um seguro e velho papai-e-mamãe.
É a síndrome do bonzinho. Mais uma vez.
Nem tudo está perdido
Estamos acostumados a ver na televisão um brasileiro que aceita de bom grado até injeção na testa. Qualquer brinde oferecido é disputado como se fosse o prêmio máximo da loteria.
Pois fico feliz que a história não seja bem assim. Assistia Contato, na MTV, quando tive uma agradável surpresa.
Marcos Mion e Adriana atendiam o telefonema de uma garota disposta a participar de um dos tantos quizz da emissora. Ao acertar as quatro perguntas os apresentadores fizeram a maior festa e anunciaram os prêmios. A menina então refugou, para espanto dos VJ’s, um dos CDs ofertados.
Como assim?
Simples... ela não gostava da banda. Pegar o CD para fazer volume não era sua vontade e nem dar a alguém algo que de que não gostava, me parece.
Felizmente não é todo mundo que se deixa envolver por qualquer coisa.Aqui em Curitiba, onde moro, inventei um tal ateliê de jornalismo para crianças (eles preferem ser chamados de pré-adolescentes) de 5ª e 6ª séries do Colégio Integral. Estou em minha terceira turma e a esta altura já descobri que muito mais útil que ensiná-los a fazer (mal) um jornal, um programa de rádio ou um site... será estimular neles a leitura crítica destes veículos.
Com este propósito temos tidos belos debates. Pois na última aula, quinta-feira, recebi de uma aluna comentário sobre Malhação, do qual destaco um trecho:
"Faz já muito tempo que esta novela existe. Antes a trama ocorria em uma academia, por isso o nome da novela é Malhação. Agora a novela se passa no Colégio Múltipla Escolha, onde os únicos esportes praticados são o pólo aquático e o futebol.
O nome da novela não deveria mudar? Eu acho que sim.
Além do mais... esta novela conta sempre a mesma história. Tem a menina boa e a má, namorados vivem brigando e depois ficam juntos etc.
Mesmo assim as pessoas não enjoam pois a novela sempre acaba em uma parte interessante, que deixa uma vontade de vê-la novamente no dia seguinte. E também ajuda a novela só durar 30 minutos". (Mayã Sfair)
Viram só?! Nem tudo está perdido. Existe quem não acredita que Vale tudo por dinheiro e adolescentes que não gostam de Malhação.
Ganhei a semana e por alguns dias não fiquei com vontade de ver TV.
Propagandas e afins
Há projetos de todo tipo em andamento no Legislativo Federal. Um deles, tão interessante quanto natimorto, pretende tirar as propagandas das TVs fechadas, visto que já seriam sustentadas por seus assinantes, submetidos a longos intervalos, repletos de anúncios.
Isto me faz lembrar conversa que tive há uns cinco anos com o então Diretor de Marketing da NET Curitiba, Eduardo Valério, e uma equipe do extinto Travel Channel.
Na ocasião eu trabalhava como assessora de imprensa da NET local e este assunto, o das propagandas na TV paga, era um dos mais abordados por jornalistas ou demais pessoas que soubessem de minhas funções.
Questionados sobre o tema, responderam-me que o conceito de TV por assinatura nada tinha a ver com “se livrar de propaganda”. O mote que faz alguém assinar um pacote, disseram, é a qualidade e o diferencial da programação e não a presença ou ausência de comerciais. Disseram ainda que as assinaturas, isoladamente, não sustentariam as operadoras e as programadoras.
Na verdade, tenho bem claro na lembrança, responderam rapidamente... dando pouca importância à pergunta.
Este certo desdém faz sentido. Mesmo aprovado um projeto que tente retirar as propagandas da NET, TVA, SKY ou DirecTV, ou de outra operadora qualquer, a coisa mais fácil será provar, por via judicial, que a medida inviabilizaria o negócio. Isto sem falar em um contingente de assinantes que, gostando ou não das propagandas, assina este serviço sem pestanejar.
Mas o assunto propaganda nas emissoras de TV é controverso. Recentemente confinaram a veiculação de comerciais de cigarros a poucos horários e em uma escala gradual serão totalmente eliminados. Em pouco tempo estarão proibidos inclusive os anúncios institucionais na forma de patrocínios a eventos culturais e esportivos.
Isto significa o fim do Free Jazz Festival, exemplo que me vem primeiro à mente.
Por outro lado, cresce na TV um outro tipo de anúncio que considero tão prejudicial quanto a propaganda de cigarros ou bebidas. Faustão, Xuxa e Ana Maria Braga (para ficar nos que pessoalmente vi), gastam bons minutos de seus programas dando testemunhais sobre a qualidade de ensino das escolas de um grupo aqui de Curitiba.
Não é um anúncio qualquer. É um testemunhal dentro da programação. Não é um merchadising comum.... daqueles que mostram personagens de novelas abrindo contas em bancos, comprando carros etc.
Definitivamente não. Eles param o programa e se colocam a dizer maravilhas sobre um produto que, tenho certeza, nem conhecem. E que é dos mais delicados... educação.
Só como ilustração, há fortes boatos que este grupo educacional teria sido comprado pelo Grupo Sonae (o dos supermercados), dando margem a piadas de todos os tipos, inclusive uma que fala que finalmente tais escolas se consolidam como “educação de prateleira” ou “fast-food” da educação...
Se é verdade isso não tenho certeza... mas é uma boa história. Mas cá pra nós... acho mais grave testemunhais desta natureza inseridos na programação que as desventuras sexuais de Capitu ou os intervalos no Canal da Sony, atuais alvos do Legislativo e Judiciário.
Com educação não se deveria brincar. Definitivamente.
De incas venusianos ao ultra-pós-moderno
Chegou o tão esperado terceiro milênio e, a não ser pela enxurrada de comentários e programas que especulam sobre o futuro da televisão, nada mudou na minha telinha a não ser a própria. Quando comecei a escrever na Internet sobre televisão tinha uma charmosa Telefunken (caixa de madeira, seletor quase mecânico e sem controle remoto), hoje substituída por um aparelho estéreo de 29 polegadas.
Fora isso... nada. Um nada em tantas línguas quanto as abrigadas na NET, TVA, DirecTV ou SKY.
Sou míope e algumas vezes me utilizo desta deficiência (???) em causa própria. Tiro os óculos ou as lentes de contato para, deliberadamente, não enxergar o desagradável. Para que uma visão perfeita se não existe perfeição a ser vista?
Toco neste assunto por conta da enxurrada de artigos publicados em jornais e revistas do mundo inteiro e mencionados lá em cima, no primeiro parágrafo.
TV de altíssima resolução... TV interativa... TV em banda larga... TV... TV... TV...
OK! Investi uma pequena fortuna em um aparelho tela plana que vale mais que minha Honda Dream e o que vejo? Mais detalhes do rosto enrugado do velho Rei em seu tradicional especial de fim de ano. A fina penugem que recobre a bela face de Vera Fischer.
O que ouço no refinado som estéreo? As vozes enjoativas de Gugu Liberato e Xuxa (como podem fazer sucesso com aquelas vozes tão chatas?).
Entramos no terceiro milênio e o homem continua o mesmo.
A dramaturgia humana ainda só se interessa pelos mesmos velhos mitos do amor, do ódio, da vingança, do poder e da morte, temas que, misturados em doses variadas, resultam sempre nos mesmos roteiros.
Não é o futuro da TV o que me interessa. É o futuro da humanidade. E este, a considerar o que assistimos, não é muito diferente do que nossos ancestrais viveram.
Édipo pode ter sido substituído por Dawson (Dawson’s Creek – Sony), Medéia foi trocada por Lilly (Once and Again – Sony)... mas as relações pais e filhos continuam top de linha. Prosérpina era uma mãe tão opressora e invasiva quanto Alma (Laços de Família - Globo) e Fausto continua se vendendo nas milhares de tramas contemporâneas. Isto sem falar em Maria Madalena...
Um dia sentaremos em nossa poltrona marciana, ligaremos o que quer que seja que sirva para vermos o que hoje corresponde a nossa televisão... e lá estará passando um tremendo drama sobre o amor impossível entre um venusiano e uma terráquea.
Não há saída pois como sempre digo... nós humanos conseguimos inventar as maquinetas... mas ainda não sabemos o que fazer com elas. Ou pior... inventamos máquinas que cada vez mostram com mais precisão os nossos mesmos velhos sonhos.
Happy new year... humanóides.
Os programas eleitorais precisam readequações
Estava escovando os dentes hoje pela manhã quando pensei que o programa eleitoral gratuito precisava de uma mudança radical. Ao invés de bancados pelos próprios candidatos, os programas de rádio e televisão seriam sustentados por um fundo qualquer destes que existem por aí e que parecem não ter fundo mas onde sempre rola uma “graninha”.
Pois bem...
Ao invés das “criações” que nos são ofertadas, faríamos dos candidatos algo como participantes de um reallity show. Pensem que bacana seria uma câmera, nos quarenta dias que antecedem as eleições, acompanhando dia e noite os passos dos nossos futuros governantes.
Isto sim seria realmente “No Limite”.
Vocês podem imaginar a vida de um candidato que, na longa e decisiva reta final, fique impossibilitado de falar a sós com seus assessores... comparsas... e financiadores?
Gostaria de vê-los obrigados a não falarem qualquer coisa que os pudessem comprometer. Suspeito que faltaria conversa e ação neste programa... mas quantos não deixariam cair definitivamente a máscara?
As pesquisas apontando queda do candidato e o comitê dele ali... sem um contato privado sequer. Nem um mísero segundo.
Imagine qualquer um filmado o dia inteiro? Neguinho algum agüenta quarenta dias sem mostrar sua verdadeira face. O que agüentar, ou é o mais canalha ou o mais santo.
E tudo com fiscalização dos partidos (na ínfima hipótese que permitam tal tipo de programa já que decisões como esta acabam sendo deles... depois de alguns acordos entre as bancadas).
Bem... é claro que o banho dos candidatos seria gravado mas não veiculado. Nada a ver com moral e bons costumes... É pra não corrermos o risco de daqui a pouco sermos governados pelo Cláudio Heinrich ou uma popozuda qualquer. Ou alguém votaria em nossos usuais candidatos depois de vê-los no chuveiro?
Cenas de escatologia também seriam afastadas. Quarenta dias sem... digamos... soltar gazes é para poucos. Não eructar depois da décima Coca-Cola do dia? Heróico!!! Não... pouparemos os candidatos deste constrangimento. Para isso já nos bastam as câmeras em elevadores. Sexo? De jeito algum! Não queremos cenas bizarras.
“Grava mas não mostra!”, bradaria Maluf.
A audiência poderia ser baixa, mas não menos do que já é. E veríamos muito... muito mais.
Mas como sei que está proposta jamais receberá apoio dos partidos, armei um contraplano.
Pensei que, ao invés do realitty show, pudéssemos fazer então uma gincana. Que beleza! Uma gincana aos moldes das feitas em qualquer programa de auditório.
Na bancada estariam os candidatos. Campainhas e microfones a postos para que respondam às questões apresentadas. Cada resposta certa corresponde a um determinado número de pontos.
Eles podem responder, apostar, passar e até consultar suas equipes, compostas pelos secretariados propostos pelos candidatos.
Entrariam perguntas referentes aos municípios e estados pelos quais se candidataram. Mas entrariam outras perguntas também. E o povo teria participação percentualizada, ao vivo e gratuita através de telefone, fax e e-mail. Ou de câmeras espalhadas nas ruas.
Aquele que alterasse a voz ou desqualificasse um oponente perderia pontos. E por aí vai. No final é declarado o vencedor. Se o vencedor o convenceu, vote nele. Se não... escolha aquele que o convenceu por alguma razão (nem sempre aquele com o qual nos identificamos é o mais rápido e gincanas são vencidas pelos mais ágeis física e mentalmente... não necessariamente pelos mais competentes).
Programas eleitorais são longos. Especialmente os de segundo turno. Não são coisas para publicitários, mais ambientados com espaços de 30 ou 60 segundos. Fica aquele videoclipe de bobagens fenomenais. Uma música que, se não é cretina, acaba se tornando uma depois de tanto atormentar nossas orelhas. Seguem imagens de crianças, apertos de mãos e passeios em bairros... aí entra o candidato, no estúdio, falando suas propostas (?). Corta e entra um monte de imagens em palanques, carros de som etc. Uns três ou quatro depoimentos de populares nem sempre tão populares assim... alguns apoios... uma vinheta do partido... uma faixa com slogan ou denúncia contra o principal opositor... e pronto.
Papinho palha
Está no ar o mais novo sucesso da TV brasileira: "A Liminar", novela baseada no best-seller "Portaria 766", protagonizada pelo galã Siro Darlan, titular da 1ª Vara da Infância e da Juventude do Rio de Janeiro e que tem como principal coadjuvante veterano ator, conhecido por viver há muitos anos o papel de arcebispo do Rio de Janeiro.
Se eu fosse da Globo contrataria Sebastião Salgado para um ensaio fotográfico sobre a vida das crianças em seus estúdios. Ao invés de proibições teríamos mais uma exposição de sucesso.
E no rodo da nova proibição dançou até a pimpolhinha do Manoel Carlos. Vejam só que decisão acertada... onde já se viu uma "criança" de 17 anos (Júlia Almeida, a Stela de Laços de Família) dividir o altar com uma garota de programa? Tão novinha.
Manoel Carlos pode emancipar a moça se assim o desejar... mas não pode autorizar seu trabalho em uma novela.
Proponho que todos os personagens infantis das novelas morram vitimados por alguma epidemia bem típica de país subdesenvolvido. Cólera, por exemplo. Já pensaram que bonito vai ficar para o país quando as novelas chegarem na Europa?
Retaliação melhor que essa não imagino.
Mas como yo soy uma mujer que mira adelante... já saquei as verdadeiras intenções destes arautos da decência. Sempre desconfiei que por trás de um convicto justiceiro-carola repousa um taradão de primeira.
Eles devem imaginar que, ao não poder usar crianças nas gravações, a Globo lançará mão de adultos em papéis infantis (como no Chaves). Já pensaram... vai ter fila de marmanjo querendo colinho de Capitu.
Mas... aplico aqui o princípio do contraditório. No caso da utilização de templos religiosos estou com a Igreja. Onde já se viu conceder direito de uso a um bando de hereges. Quantos profissionais da Globo contribuem com o dízimo?
Vera Fischer por acaso recolhe o dízimo para querer casar sua filha na Igreja? Business são business. Ficção ou realidade, o dízimo é sagrado.
E uma das principais conseqüências destas decisões judiciais e religiosas é a unanimidade. Conseguiram até fazer com que eu e a Folha de São Paulo saíssemos em defesa da Globo.
Já estou em contato com meus advogados e vou entrar com uma ação por danos morais contra judiciário e católicos. Onde já se viu me fazerem pagar este mico?
A censura – além de burra – é hipócrita
Censura é uma medida tão anacrônica que relega a um segundo plano modificações basais da sociedade. Uma ONG mineira que luta por uma “TV do bem” conseguiu que o Ministério Público se envolvesse na questão Banheira do Gugu. Isto resultou (ou estaria resultando) em uma portaria do Ministério da Justiça. Através desta medida o quadro só poderá ser veiculado após as 21 horas.
E daí? Estes caras são do tempo em que crianças dormiam às 8 da noite? Se é para defender nossas pobres criancinhas prefiro a ONG do pessoal da Candelária, o orfanato da Xuxa, o trabalho do Olodum e a Fundação Airton Senna, que são mais preocupados com os pequenos habitantes das ruas.
Mineiro tem cada uma... come feijoada naquele calorão... quer censura na TV... elege Itamar... nem parece coisa da galera tão simpática das Alterosas.
Sou contra a censura de qualquer natureza. Pra falar bem a verdade... sou até contra a regulamentação que estão tentando implantar na TV brasileira.
Em primeiro lugar porque só quem se interessa por censura são os defensores da “moral” e dos “bons costumes”... e se o mundo fosse deixado nas mãos deles ainda estaríamos sem a Lei do Divórcio, mulheres não votariam e negros estariam na senzala. Não tenho qualquer dúvida que os avanços sociais são obras de “devassos” e “permissivos”.
Sou contra também porque, ao lado da fila, o controle remoto é a materialização da democracia no mundo. Onde fica o arbítrio? Se as pessoas querem emburrecer ainda mais assistindo porcaria... que emburreçam. Não gosto da Banheira do Gugu não porque afronte meus padrões morais e menos ainda porque me afronte como mulher. Não gosto porque é um programa do Gugu, o cara mais chato e sem graça da TV brasileira, talvez só equiparado ao Luciano Huck. Carisma passa longe de ambos.
Quando escrevo que Laços de Família é uma novela absurda não o faço por achar indecente mãe e filha disputarem o mesmo homem. Escrevo por acreditar que jamais tal embate teria o nível de civilidade apresentado por Manoel Carlos... sem barraco... sem histeria... Façam um reallity show, tão em moda, numa casa onde algo assim esteja rolando e me digam se estou errada.
Também não gosto da idéia de censura ou regulamentação por conta do meu lado vampiresco. Se, num surto de qualidade, a TV brasileira só transmitisse o que prestasse, como eu faria esta coluna? Viraria boazinha de uma hora para outra? Coisa boba!
Além do mais, se o telespectador estivesse interessado em qualidade a Cultura daria muito mais Ibope... e Cultura, Discovery, GNT etc só dão Ibope na hora de responder enquete: “- que canais você assiste”? “- Cultura, Discovery e GNT”.
Chique, não?
E, finalmente, a prova que censura é sinônimo de hipocrisia? A Igreja Católica não deixou que a Globo gravasse as cenas do casamento de Edu e Camila (Laços de Família) em seus templos. Para eles, sexo só depois do casamento e mãe solteira nem pensar. Não concordam com a liberalidade das novelas da Globo.
Mas o que faz Padre Marcelo cantando ao lado da Xuxa? Casou-se a moça e eu não sabia?
Com quem casará Sandy?
Para Lélia Almeida, escritora gaúcha que um dia chorou ao descobrir que dragões nunca existiram e, ao ver morrer aí o sonho do príncipe encantado, descobriu-se uma mulher de verdade... ou ao menos tem lutado por isso.
Uma das "notícias" mais quentes da semana foi o suposto noivado de Gisele Bünchen e Leonardo di Caprio. Como que para dar veracidade ao fato, desmentido pela modelo, foi divulgado até o preço do anel: 190 mil dólares.
Até o momento em que escrevo a coluna não estava comprovado tratar-se de verdade ou mentira tal anúncio... mas isto pouco importa. Vale mesmo registrar o imenso interesse da mídia em tornar realidade o fato.
O casamento entre Gisele e "Lio" seria a consolidação de um conto de fadas, sonho enterrado junto a Lady Di (ainda viva) mas sempre recorrente.
Estranho como os anos passam, as mulheres avançam, os homens se libertam do enclausurante (imagino) papel de superprovedores... e ainda corremos atrás do delírio realesco. Estão aí Xuxa e Sacha, corroborando esta tese.
No último sábado um tipo que eu nem sei quem é, mas que me pareceu um astrólogo ou coisa que o valha, foi ao programa da Xuxa e, entre várias premonições, garantiu: "Xuxa nos dará (a todos nós??) mais um filho". Fiquem tranqüilos, brasileiros! O trono está garantido.
Coisas do gênero justificariam comentário creditado à menina, após uma de suas saídas às ruas. Consta que ela disse gostar de "acenar ao povo". Aos súditos, entenda-se.
E o que mais me entristece é não ver em tais delírios monárquicos um fenômeno terceiro-mundista. Se assim fosse teria, ainda que de forma tênue, a esperança em um projeto educativo salvador. Qual nada... o sonho de ser "manequim-modelo-profissional", como dizem entrevisteens nos Fantásticos da vida, espraiou-se pelo mundo... do Oiapoque ao Tenesse.
Estava pensando sobre estas coisas quando adentra em meu computador uma mensagem sobre a nova linha de produtos Secrets by Sandy. "Como uma verdadeira amiga, Sandy (da dupla Sandy e Júnior) é quem dá as dicas de como manter o corpo, os cabelos e a pele bem tratados nessa fase. A cantora empresta seu nome e sua amizade para a linha teen..." (grifos meus).
Lá se vai mais uma chance de patrocínio a esta coluna... mas não dá! Que a galera queira fantasiar um mundo de fadinhas tudo bem... mas não vou colocar azeitona no pastel alheio.