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Um ONG para salvar os sobreviventes da pós-utopia do socialismo.

Há no mundo uma espécie em real risco de extinção e sem qualquer ONG que a defenda. Refiro-me aos sobreviventes da pós-utopia do socialismo. Um monte de gente que anda por aí sem saber lidar com as exigências do hegemônico mundo neo-liberal. Gente inteligente, capaz, sensível... mas que não consegue sobreviver fora de um sistema de mecenato estatizante.


Não me penalizo com usineiros nordestinos e nem com as viúvas da Embrafilme. Não é sobre gente desta natureza que escrevo. Penso naqueles meninos barbudinhos e encapotados que devoravam todos os livros que caiam em suas mãos... que acumulavam montanhas de recortes dos suplementos culturais...que liam os Cadernos do Terceiro Mundo... que assistiam ciclos completos de cinema alemão... e que sonhavam com uma vida literária ancorada em um bom e estável emprego (público ou não).


Muitos deles estão andando por aí. Continuam andando por aí. Vejam o exemplo do meu  amigo (há mais de 20 anos) Zezinho, exposto em artigo do Foguinho no fanzine Não. Zezinho é um destes tipos, mas não está sozinho. Não é o único a conseguir assobiar a Internacional Socialista nos dias que seguem... mas é um dos que não conseguiu, ou não quis, perceber que os novos tempos exigiam outro tipo de conhecimento, algo pouco afinado ao que aprendeu nos ciclos do Instituto Goethe.


Não são burros, não são ineptos, nada disso. Entendem muito bem o mundo moderno e conhecem a história como poucos. São capazes de discorrer sobre todas etapas do capitalismo... da Revolução Industrial à era das corporações. Apenas não tem capacidade de converter trabalho em resultado, algo que nos tempos de empregos estáveis era desnecessário.


São vítimas de uma era que se foi e não têm a quem recorrer. Tarde demais para aprender. Talvez a única chance de sobrevivência para eles seja um pedido de indenização. Mas a quem?


Talvez ao Instituto Goethe... aos donos do extinto Folhetim... aos intelectuais da Escola de Frankfurt...


Ou então aos vencedores, já que são sobreviventes de uma guerra, por mais fria que fosse.

Caiu-me às mãos o livro A Negação do Brasil - O Negro na Telenovela Brasileira, do cineasta Joel Zito Araújo.

Caiu-me às mãos o livro A Negação do Brasil - O Negro na Telenovela Brasileira, do cineasta Joel Zito Araújo, que enfoca a participação do negro na TV brasileira desde sua criação (da TV, é óbvio). Ainda não li mas o farei. Mas antes de ser contaminada pelo conteúdo da obra decidi pensar algumas coisas sobre este interessante tema.

Este negócio de "minorias" sempre me fascinou. Tenho, confesso, um certo fascínio pelo patético e não há nada mais patético que o preconceito de qualquer natureza. Começa que só os medíocres são preconceituosos pois qualquer pessoa que consiga exercer um pensar minimamente elevado saberá que gente é o produto mais diversificado que há e que existe espaço para todos. Mais do que isso... que a convivência pacífica e civilizada entre estes tipos todos é a única forma viável para uma vida com qualidade.

E cá pra nós... de todas as diferenças existentes entre os homens, origem étnica é das

 mais insignificantes a não ser que esteja associada a um  juízo político-religioso-cultural como ocorre no Oriente Médio, por exemplo. 

Pessoalmente orgulho-me por conviver muito bem com todas as cores e sexos do zodíaco.


Há um bom tempo venho comentando, neste e em outros espaços, que a TV brasileira, mesmo quando tenta acertar, só faz besteiras nesta área. No caso específico dos negros os erros são gritantes.


Há dois tipos de personagens negros na ficção televisiva brasileira: o negro subalterno, aquele que interpreta escravos, empregados domésticos ou trabalhadores braçais; e o negro socialmente melhor situado mas vítima de preconceitos diversos. 


Isto é... ou temos a empregada simpática e servil de Laços de Família... ou aquela família de A Próxima Vítima, que comprou um novo apartamento mas não foi bem recebida pela vizinhança, que temia pela desvalorização do imóvel.


O primeiro exemplo corresponde ao estereótipo que formamos do negro. O segundo é chato pois geralmente mostrado de forma didática e/ou panfletária. 


Acredito que o ser humano aprende por exemplos. A mídia, tão hábil em criar modelos e padrões, deveria usar esta sua capacidade para tratar o assunto de maneira que penso mais eficaz. Se colocasse um negro num papel de destaque e se o fato de ser negro jamais fosse mencionado ao longo da novela ... isto sim seria um grande serviço à causa. Toda noite teríamos negros dentro de nossa casa sem que isso representasse um "acontecimento". Com o tempo este conceito estaria incrustado em nossas vidas.


O mesmo acontece com os gays. Ou gay de novela é um clichê ambulante... ou uma pobre vítima de preconceitos familiares, profissionais ou comunitários (quando não todos). Jamais aparece um homossexual, homem ou mulher, que simplesmente acorde, trabalhe, namore e tenha apenas os problemas comuns a qualquer cidadão.


Adotar estas medidas não corresponderia à realidade, pensarão alguns leitores. Imagine mostrar negros em situações corriqueiras a qualquer ser humano... sem questionamentos quanto a sua raça!!! E onde fica a política?


Ora... corresponderia a como eu encaro o gerente do banco em que tenho conta... o gerente de peças da multinacional para a qual trabalho... o editor da revista a quem me reporto... o mecânico do meu carro... pouco me importa a cor deles e gostaria que a TV, sobretudo, desse a esta irrelevância o destaque que ela merece: nenhum..  


Repetindo-me... modelos são impostos todos os dias pela mídia e como não tenho qualquer esperança ou crença que isto venha a ser modificado, gostaria que ao menos os modelos fossem mais edificantes. 


Mas aí vai começar a discussão sobre quem decide quais são os exemplos edificantes ou não. Diria que a lógica, evidentemente. 


Só que lógica é exatamente o que falta no mundo. Não seria diferente na mídia.


Obs.: Vale registrar um vacilo de Laços de Família. Nesta novela o personagem Laerte corresponde ao que eu penso que deveria ser a regra na TV brasileira. Laerte era médico e em capítulo algum, que eu tenha assistido, isso foi mencionado. Ele acordava, trabalhava, cuidava do filho e namorava. Seu problema era voltar ou não para a ex-mulher. Esqueceram de colocar uma paciente se negando a ser atendida por um negro para dar mais uma lição de moral na galera. Ainda bem.

Quem poderia unir a canção mais batida do universo com o cantor mais cara de pau do universo?

Quem poderia unir a canção mais batida do universo com o cantor mais cara de pau do universo? A Globo, ora!! Lá vem Estrela Guia, com abertura musical de Paulo Ricardo cantando (irgh) Imagine.


Poderia ser pior. Sempre pode. Poderiam ter gravado Imagine com Paulo Ricardo e... Sandy.


E o que esperar de uma novela cujo galã é Guilherme “Chatô” Fontes? Os pais da Sandy tinham uma lista de galãs para escolherem aquele que faria par com a pimpolha e optaram por Guilherme Fontes. Imaginei que estivessem preocupados com a imagem da moça...


Segundo um amigo meu aí tem. A Globo agora se mete neste negócio de cinema... Guilherme Fontes ressurgindo... investimentos em Sandy... já já rola um filminho unindo os três vértices. E não esqueçam que a carreira de diretor/produtor do moçoilo começou no Multishow, um dos canais Globosat.


E que tal saber que os personagens de Guilherme Fontes, Sandy e Carolina Ferraz formam um triângulo amoroso... ou um triângulo, apenas?


Você, leitor com mais de 25 anos, trocaria Carolina Ferraz por Sandy? Só se for pedófilo... E Sandy “riponga”, o que é pior.


Eu só assisto esta novela se rolar um baseadinho no núcleo “riponga”. Se não rolar é porque a novela não tem mesmo qualquer preocupação com a realidade, o que me parece óbvio. Acabo de descobrir irrefutável argumento para não acompanhar esta trama. Não bastasse a boina “a la Che” incorporada ao personagem de Marcos Winter.


Ops... abro a Folha de São Paulo e vejo que a galera do cristianismo exacerbado já se mobiliza contra a novela. Ponto a favor de Estrela Guia, com seu exoterismo, e de Porto dos Milagres, com Iemanjá.


Não entende este povo das igrejas cristãs. Acham que business é privilégio só deles e não reservam uma graninha para merchandising religioso. Assim não dá!!


Já pensaram?! Depois de vender de tudo na telinha, algo muito mais inovador que o merchandisig cultural de Manoel Carlos... o merchandising de Jesus.


Dá pra imaginar uma cena da família discutindo os cortes no orçamento:


-         Meu bem, precisamos diminuir as despesas.


-       Mas Rodolfo, já não temos mais supérfluos nesta casa há muito tempo.


-         Não, Marilda. Neste mês foi muito difícil pagar o dízimo e bem... você sabe o quanto isso é importante.


-         É meu amor... você tem razão. Lembra como era nossa vida antes?


-         Nem me fale. Só doença... desgraça. Vamos cortar a empregada.


 Alô pessoal da Globo: gostou da idéia? O número da minha conta é...

Bem que eu tentei ficar longe do falatório contra o funk carioca até que...


Bem que eu tentei ficar longe do falatório contra o funk carioca até que começaram a pipocar emails com piadas, depoimentos e até textos pretensamente sérios contra as musiquinhas que tomaram conta do verão brasileiro.


Pessoalmente não me incomodo com "tigrões" e "popozudas" a não ser quando algum débil mental abre o capô do "chevetão" e impõe seu mau gosto aos demais. Fora isso... como não escuto FM e mantenho meu controle remoto sempre ao alcance da mão... estou livre de tais invasões.


Aliás.... vocês já repararam que normalmente as pessoas que ouvem música em volume ensurdecedor têm mau gosto? Algum vizinho já acordou você num domingo ao som de Tom Jobim? Hahaha... claro que não! É sempre um pagode de décima, um sertanejo de quinta ou uma coisa destas qualquer de terceira linha.


Mas sobre as manifestações recebidas em minha caixinha chamaram-me a atenção os argumentos. Todos. Eu disse TODOS... tratam dos aspectos morais das canções e a conseqüente influência que suas mensagens exercem sobre nossos pobres jovens. E, é claro, todas sugerem censura às letras dos funks.


De um modo geral não gosto destas músicas. Ressalte-se... gosto de funk mas não gosto destes funks. Não pela "bagaceirice" de suas letras... mas pela pobreza e pouca inventividade musical que carregam.


Seja como for... ao contrário do que muitos pensam... este "movimento" não surgiu de um gabinete de gravadora. Ele estava nas ruas do Rio de Janeiro e em seus bailes há muitos anos. As gravadoras apenas simplificaram  a propagação para o país de uma realidade local que se espalharia de qualquer forma através de MP3, rádios alternativas ou fosse lá o que fosse.


Definitivamente estamos falando de uma manifestação popular. Muito popular, eu diria. E, neste caso, tanto quem faz quanto quem curte estas músicas, é fruto do mesmo mal: a pobreza. De recursos, sobretudo, e de espírito, em decorrência. E isto sempre me alarma.


Mas não vou ficar aqui falando coisas óbvias. Que educação ao menos faz rimas melhores... ensina que A, B, C, D, E, F e G (como são conhecidas as notas musicais pelos consumidores da Violão & Guitarra e afins) podem ser enriquecidas por sustenidos e bemóis, aumentando as possibilidades de combinações (lembram-se das progressões matemáticas?). 


Também não estou interessada em discorrer sobre aspectos políticos e sociológicos que levam a esta miserabilidade. Isto eu deixo para os eruditos da USP, do caderno Mais e da revista Bravo... muito mais competentes e pacientes que eu.


Eu, em minha costumeira "finesse"... só peço que me poupem. Todos! Os vizinhos... de me imporem esta droga. Os internautas... de me enviarem comentários propondo censura aos funkeiros.


Eu não quero ouvir esta música e nem que ela acabe. Não gostaria que ela fosse feita e menos ainda que fosse apreciada. Mas quem sou eu para ir contra o gosto da galera? 


Reconheço o direito que cada um tem de se perpetuar na ignorância.

Muita gente não faz idéia da força que têm os seriados estrangeiros no Brasil.

Muita gente não faz idéia da força que têm os seriados estrangeiros no Brasil. Canais como Sony, por exemplo, conquistam a cada dia uma legião de novos adeptos. Listas de discussão em torno do assunto circulam pela rede e centenas de sites são atualizados diariamente para contar o que o passa nos bastidores dos seriados, na vida de seus protagonistas...


E qual o fascínio que exercem histórias sobre nós, brasileiros? O que faz com que milhares de pessoas falem horrores contra as telenovelas nacionais e adorem estes programetes que até bem pouco tempo eram conhecidos como "enlatados"?


Bom... começo dizendo que o segredo dos seriados é que, ao contrário das novelas brasileiras, não precisam ser acompanhados. É claro que os personagens seguem uma trajetória... mas via de regra cada capítulo sobrevive nele mesmo, com uma ou outra exceção. Também não são diários, o que facilita muito a vida de quem os assiste, que não fica atado à frente da TV toda noite.


Mas, sobretudo, dois outros aspectos destes seriados levam vantagem. Vejamos: 


1. Diversidade e identificação: Como são muitos, é fácil segmentar públicos. Há seriados para adolescentes (Dawson's Creek, Popular, That 70's Show etc), há seriados para trintões em crise (Once and Again, Sex in the City etc), para jovens independentes (Friends e afins), para gays (Queer as Folk, Ellen, Will & Grace etc) ... para negros, para fãs de ficção científica, comédia, guerra... há seriados para todos os gostos e tendências. 


2. Qualidade: não me refiro a qualidade artística mas sim a qualidade técnica. Peguemos o exemplo recente de "Os Maias". Esta produção, caríssima para os padrões brasileiros, sofreu um problema de som grave. Em uma cenas o som estava ótimo, na seguinte o volume subia às alturas para logo em seguida cair. Era necessário assistir a minissérie com o controle remoto na mão para não ficar surdo ou então conseguir ouvir alguma coisa. A equalização estava terrível. Isto jamais acontece num seriado norte-americano.


Cobertura do Oscar


No Brasil as possibilidades de assistir ao Oscar pela televisão são as seguintes: No SBT, a partir das 22h30min, Babi e Rubens Ewald Filho comandamatransmissão. Espero que neste ano Ewald seja um pouco mais generoso com a apresentadora do Programa Livre pois em outra oportunidade ele foi muito deselegante com a moça. Haverá a terrível e tradicional (e necessária) tradução simultânea.



Já no Telecine e no sistema Net/Sky a transmissão conta com mais opções.  Os canais 61 e 75 transmitirão o evento, ao vivo, com som original e comentários de José Wilker durante os intervalos. Os canais 75 da Net e 1 da Sky transmitirão o evento com os comentários de Ana Maria Bahiana. A transmissão começa dia 25 de março, a partir das 22 horas.

Histórias de anjos que chegam à Terra para salvar ou dar novo sentido a vidas humanas não são novidade.

Histórias de anjos que chegam à Terra para salvar ou dar novo sentido a vidas humanas não são novidade. A Bíblia conta algumas, a literatura outras e o cinema idem. De todas prefiro a contada por Pier-Paolo Pasolini em Teorema (livro e filme), que subverte a imagem que o senso comum usualmente atribui aos anjos. Em Teorema o anjo (ou demônio?) não muda seus escolhidos através da bondade, ao contrário. Ele o faz por meio da sedução, da manipulação... da carne. 


É claro que um "anjo" com tal natureza é para poucos. Há que ter uma dose elevada de ceticismo e um tanto de estômago para se deixar envolver por ele. Melhor esperar por uma entidade mais parecida com o  Rafael, o anjo que sai (ou saiu) do ar na sexta-feira.


Ele é como um Messias que baixa para justiçar os desvalidos, vingar os oprimidos e converter os não totalmente perdidos. É a solução para nossas vidas. 


Interessante observar que as três novelas da Globo lançam mão do misticismo como elementos de seus roteiros. Simultaneamente a emissora colocou no ar personagens como Iemanjá, em Porto dos Milagres; os anjos e o próprio Deus, em Um Anjo Caiu do Céu; e Nossa Senhora de Aparecida, em A Padroeira.


Se quisesse lançar uma teoria conspiratória diria que não se trata de coincidência. Pensando bem, diria, "é mais uma jogada do projeto de marketing religioso" denunciado nesta mesma coluna em outra ocasião.


Vejamos, para dar escopo a minha tese: o que evangélicos (leia-se TV Record) mais  combatem? Não são as imagens de santos utilizadas pela religião católica e  presentes em A Padroeira? Não são os espíritos primitivos das religiões afro-brasileiras, dignificados e celebrados em Porto dos Milagres e sua Iemanjá? Não seria a vulgarização do papel de nossos conservos (anjos), ocorrida em Um Anjo Caiu do Céu?


É... se eu lançar esta tese na rede em forma de corrente vai ter muita gente acreditando nela. Há sempre quem adore acreditar em um grande complô. 


Mas falando sério... o caso da religiosidade simultânea coincidência não é. É só o reflexo do que anda rolando nas cabeças por aí.


Parece que a Globo descobriu que o povo não engole mais a ascensão social através do casamento, tema recorrente em todas suas novelas do passado. A coisa está tão feia que neguinho deixou de acreditar em príncipe encantando e agora está apelando para o imaterial... para o divino... para o milagre.


A coisa está preta! Eu só queria ver se este povo visse Teorema e descobrisse o quão improvável é tudo isto

Laços de Família chega ao final sem ter aproveitado as oportunidades que teve de montar um barraco geral.

Laços de Família chega ao final sem ter apresentado um roteiro que levasse o público ao suspense, ingrediente fundamental do gênero. As poucas oportunidades que teve de montar um barraco geral... não o fez.


Talvez porque Manoel Carlos não tenha tido feeling ou apoio para ir fundo no duelo Helena x Camila, preferindo cair no melodrama fácil da mãe abnegada que abre mão do amor pela felicidade da pimpolha.


Até a doença de Camila poderia ser inserida no contexto de uma possível guerra familiar, bastando para isso lançar mão da crença popular que supõe a existência de um castigo terreno aos maus... a lenda do “aqui se faz, aqui se paga”.


Não... Manoel Carlos preferiu mandar Helena a um SPA para recuperar-se do baque. E, em sua volta, jogou-a nos braços assexuados de Miguel, o livreiro. Ora bolas... juntar Vera Fischer e Tony Ramos é como colocar na cama Angeline Jolie e Danny de Vitto... Madonna e Padre Marcelo...


Tony é um excelente ator mas falta-lhe um ar mais carnal para contracenar em clima de paixão com Vera Fischer. Difícil de assistir... pior ainda torcer pelo casal.


Aliás... este foi o problema básico de Laços de Família. Apesar de toda sua trama ter por base aspectos da sexualidade humana, razão para ter sofrido problema judicial extra-estúdio, não conseguiu levar a termo o que propunha. Falou-se muito em sexo na novela, mas faltou sexualidade.


Para exemplificar, além do caso Helena/Miguel, temos o protagonista mais sem graça da história da telenovela brasileira. Até Francisco Cuoco é melhor. Gianecchini é lindo, não há dúvida, mas é insosso como raros. Junto a Camila/Carolina Dieckerman fez uma dupla de apagar qualquer incêndio. Aliás... Carolina só está bem no papel de doente por que a gente sempre imagina um doente desanimado... como a moça.


A dupla Alma e Danilo foi outra dureza. Excelentes atores, ambos, Alma comprava o quê? A companhia do bonitão? Sua inteligência? Pelo que a novela mostrou deve ser uma destas coisas. Outra oportunidade perdida de traçar um paralelo entre Capitu e Danilo, que no fundo são os mesmos personagens em distintas situações. Ela uma piranha vendida a um vilão... ele um gigolô de madame.


Sexo também faltou na relação de Viriato e a amiga de Helena que eu nem lembro o nome. Zé Victor Castiel é cria do teatro gaúcho. Cresceu... engordou... ficou com cara e voz de bebê chorão e não convenceu dentro do naturalismo que a TV exige.


Fred, o namoradinho de Capitu, nem merece comentário. Deve mesmo ficar melhor ao lado de Xuxa nos cinemas.


O único que demonstrava apetite sexual era o grosseirão Pedro. Mas seu personagem parece ter sido escrito apenas para fecundar Helena duas vezes. Dizem que animais e proprietários se parecem... pois tornaram Pedro um reles garanhão.


Laços de Família não cumpriu o prometido. Falou, falou, falou... e chega ao final com um seguro e velho papai-e-mamãe.


É a síndrome do bonzinho. Mais uma vez.

Suspeito que parcela significativa de meus leitores seja composta por adolescentes e que, por isso, poderei ferir suscetibilidades comuns a esta faixa etária.


Suspeito que parcela significativa de meus leitores seja composta por adolescentes e que, por isso, poderei ferir suscetibilidades comuns a esta faixa etária. Mas tudo bem... adolescência passa e um dia serei perdoada por todos. Ou pelo menos por aqueles que efetivamente conseguirem pular esta etapa.


Este preâmbulo é para tornar ameno o tema de hoje. Vou falar de Dawson’s Creek, série que a Sony apresenta semanalmente em diversos horários.


Calma... eu também acompanho as aventuras (ou desventuras?) da turma que inspira centenas de sites e listas de discussão ao redor do mundo e que gerou dezenas de subprodutos como cds, dvds, multimídias, jogos etc. Tanto assisto que entendo perfeitamente o sucesso desta série entre os teens.


Há em Dawson’s Creek uma identificação ímpar com esta fase pela qual todos (ou quase) passamos e na qual descobrimos que quase nada é perfeito no mundo. Estas descobertas, por serem novas, ganham proporção descomunal e conferem ao seriado o mesmo tom sombrio que permeia os primeiros anos da maturação.


E desta forma, assim como em nossas insipientes vidinhas, as vidas dos personagens ganham nuances que vão, no máximo, do breu ao cinza. É uma atmosfera de tristeza e melancolia que torna Dawson’s Creek insuportável para quem já passou desta fase exacerbada em que tudo está muito próximo à catástrofe.


O criador da série (Kevin Williamson, de Eu vi o que você fez no verão passado),  acertou em cheio na divisão per capita de problemas em Capeside (ambientação da trama). Há dramas para todos os gostos e identificações. A ver:


Pacey – Cínico, inteligente e... péssimo aluno, Pacey amarga o afastamento do melhor amigo. Sabe-se que existe um pai para ele mas este só aparece no seriado para mostrar sua ausência. A mãe... ninguém jamais viu.


Joey - a garota perdeu a mãe, com câncer, e o pai foi parar na cadeia por ser traficante. Trabalha para se manter e tem uma irmã mais velha e mala (como todas). É a mais brilhante da turma mas também sofre com o afastamento de Dawson.


Jen - a primeiramente execrada "galinha" nova-iorquina é mandada à força para a casa da avó pela mãe, que na idade dela era também uma "galinha". Os pais da menina vivem viajando, brigando e nunca ligam para a pobre. Sua luta é provar que mudou.


Andy – Totalmente psicótica desde que a mãe ficou louca depois que um outro filho morreu. Era namorada de Pacey e, como Dawson, sofre pela traição. Tenta superar tudo isso dando margem a uma obsessiva busca de perfeição (nela e nos outros). 


Jack – Além de ser irmão de Andy, o que já seria um problema e tanto, é gay. Pior que isso... é gay mas não pratica. Sua única tentativa de encontrar um namorado resultou em fracasso pois o cara já vivia outro relacionamento.


Como disse... problemas ao estilo dos adolescentes não faltam, por isso tanto sucesso.


Mas fiquem tranqüilos... isso passa. E se não passar há sempre um jeitinho. É só começar a assistir Once and Again, levado ao ar pela mesma Sony. Ali os personagens são adultos e continuam com os mesmos dramas com irmãos, com filhos, com ex-mulheres, ex-maridos... e com os mesmos problemas de aceitação.


 

Maria da Conceição Tavares voltou às telinhas e pode ser vista interpretando Patrocínio das Neves, a Titi, na minissérie Os Maias.

Você lembra da Maria da Conceição Tavares? Aquela economista portuguesa, residente no Brasil, que inundou as telas brasileiras ao chorar no Plano Collor, emocionada com a “salvação” que o tal representaria?


Pois Maria da Conceição Tavares voltou às telinhas e pode ser vista interpretando Patrocínio das Neves, a Titi, na minissérie Os Maias. Depois de Marília Gabriela sob a direção de Gerard Thomas, é a vez da economista mostrar seus dotes artísticos.


Brincadeirinha... o personagem é interpretado por Myrian Muniz (que deve estar de sacanagem pra cima da Tavares).


No ar há alguns dias, Os Maias chegou para renovar a dicotomia respeito-e-asco pela Globo. Respeito por reconhecer que volta e meia ela acerta... asco por não percebermos na emissora uma vontade de acertar mais constante.


O caso dá margens a um paralelo entre o que acontece com a Globo e com o mundo dos esportes. Tomemos o exemplo do tênis, que está em moda. Guga começou 2000 perdendo todos os campeonatos. Precisou mudar os planos e vir ao Chile (ao contrário de insistir nos campeonatos europeus e norte-americanos) para retomar o eixo. Venceu em Santiago e a partir daí melhorou. Ganhou uns... perdeu outros... aí vence, pela segunda vez, Rolland Garros.


Vai a Wimbledon e às Olimpíadas com a torcida brasileira pondo a maior fé... e perde. Ganha mais um ou outro torneio... perde outros... e vence o Master. Ponto. Número 1 do mundo.


Pois assim é a Globo. Faz um monte de droga... mas então grava uma minissérie que a coloca como a número 1. A indiscutivelmente melhor emissora/produtora brasileira.


Mas vale dizer que estes pontos marcados pela Globo mais uma vez se originam de uma adaptação, o que dá margens a que eu pense que realmente há uma crise de autores na casa. Os maiores sucessos (qualitativos) da Globo estão associados a Jorge Amado, Dias Gomes, Graciliano Ramos & Cia.


E o quê leva a isso? As histórias? Olha... trama pro trama não há muita diferença entre escritos de Eça de Queiroz e Manoel Carlos. Calma... não é uma heresia e explico. Ambos (e todos os escritores) discorrem sobre trapaças da vida... encontros... desencontros... amor... ódio... estas coisas que nos cercam há milênios.


Mas há uma diferença fundamental. Enquanto um autor de novelas, sejam elas globais ou não, se limita a lançar na tela uma sucessão de fatos e intrigas que parecem servir apenas para o preenchimento dos capítulos... os grandes autores da literatura os tratam (os fatos e intrigas) tão somente como instrumentos que levam a uma outra dimensão... o personagem.


Querem um exemplo para isso ficar mais claro? Vamos lá.


Laços de Família motivou protestos até de parcela da população, incomodada com a profissão de Capitu, por exemplo. Até crianças saíram temporariamente da novela por conta deste e de outros motivos.


Alguém vai reclamar que em breve teremos incesto na minissérie? Claro que não. E não apenas porque “não pegaria bem” criticar Eça de Queiroz... mas porque todos os personagens envolvidos têm vidas que sustentam seus atos, fazendo com que estes fiquem em seus lugares de meros pretextos para a história de Carlos e Maria Eduarda.


Diferença mais latente entre um e outro? Em uma novela brasileira Dom Afonso, o patriarca dos Maias, tentaria impedir o romance entre o filho Pedro e Maria Monforte tão somente por preconceito social. Em um romance de escopo isso não acontece com tanta banalidade. Na verdade Dom Afonso desaprova o envolvimento por saber que seu fracote filho, cria de uma formação católica equivocada, será devorado pela liberal e forte filha de um traficante de escravos.


Mas um questionamento aos modos e costumes da decadente aristocracia portuguesa do século XIX ainda está anos luz à frente das bobagens levantadas em nossos textos televisivos atuais. Aqui ainda acreditamos que Capitu só se prostitui por dinheiro, que é uma agente passiva no processo.


Gostaria de ver Capitu ganhar dimensão humana e tomar as rédeas da vida. Não com a redenção nos braços do pamonha Fred... mas como uma mulher decidida a domar seus “patrocinadores”.

Chegou o tão esperado terceiro milênio e, a não ser pela enxurrada de comentários e programas que especulam sobre o futuro da televisão, nada mudou na minha telinha a não ser a própria.

Chegou o tão esperado terceiro milênio e, a não ser pela enxurrada de comentários e programas que especulam sobre o futuro da televisão, nada mudou na minha telinha a não ser a própria. Quando comecei a escrever na Internet sobre televisão tinha uma charmosa Telefunken (caixa de madeira, seletor quase mecânico e sem controle remoto), hoje substituída por um aparelho estéreo de 29 polegadas.


Fora isso... nada. Um nada em tantas línguas quanto as abrigadas na NET, TVA, DirecTV ou SKY.


Sou míope e algumas vezes me utilizo desta deficiência (???) em causa própria. Tiro os óculos ou as lentes de contato para, deliberadamente, não enxergar o desagradável. Para que uma visão perfeita se não existe perfeição a ser vista?


Toco neste assunto por conta da enxurrada de artigos publicados em jornais e revistas do mundo inteiro e mencionados lá em cima, no primeiro parágrafo. 


TV de altíssima resolução... TV interativa... TV em banda larga... TV... TV... TV...


OK! Investi uma pequena fortuna em um aparelho tela plana que vale mais que minha Honda Dream e o que vejo? Mais detalhes do rosto enrugado do velho Rei em seu tradicional especial de fim de ano. A fina penugem que recobre a bela face de Vera Fischer.


O que ouço no refinado som estéreo?  As vozes enjoativas de Gugu Liberato e Xuxa (como podem fazer sucesso com aquelas vozes tão chatas?).


Entramos no terceiro milênio e o homem continua o mesmo. 


A dramaturgia humana ainda só se interessa pelos mesmos velhos mitos do amor, do ódio, da vingança, do poder e da morte, temas que, misturados em doses variadas, resultam sempre nos mesmos roteiros.


Não é o futuro da TV o que me interessa. É o futuro da humanidade. E este, a considerar o que assistimos, não é muito diferente do que nossos ancestrais viveram.


Édipo pode ter sido substituído por Dawson (Dawson’s Creek – Sony), Medéia foi trocada por Lilly (Once and Again – Sony)... mas as relações pais e filhos continuam top de linha. Prosérpina era uma mãe tão opressora e invasiva quanto Alma (Laços de Família - Globo) e Fausto continua se vendendo nas milhares de tramas contemporâneas. Isto sem falar em Maria Madalena...


Um dia sentaremos em nossa poltrona marciana, ligaremos o que quer que seja que sirva para vermos o que hoje corresponde a nossa televisão... e lá estará passando um tremendo drama sobre o amor impossível entre um venusiano e uma terráquea.


Não há saída pois como sempre digo... nós humanos conseguimos inventar as maquinetas... mas ainda não sabemos o que fazer com elas. Ou pior... inventamos máquinas que cada vez mostram com mais precisão os nossos mesmos velhos sonhos.


Happy new year... humanóides.