Meus pais estão aqui em minha casa para uma visita de quase 10 dias. Quase para mais, digo. Tento superar minha personalidade acomodada e solitária para relaxar e curtir os hóspedes. Tenho conseguido com relativo sucesso e estresse, em igual proporção. Não posso, contudo, deixar de lado meu senso observador e ver as mudanças que o tempo faz. E as mudanças que o tempo, definitivamnete, não faz. Estão ambos, meus pais, com 70 anos. É evidente que fisicamente as mudanças são inúmeras. Cabelos brancos, rugas, surdez, esquecimentos leves e pesados. A firmeza do andar não é mais a mesma... enfim. Normal. Mas de tudo, tudo, tudo.. o que mais me chamou a atenção foi a não mudança de minha mãe em um aspecto que sempre foi característico de sua personalidade. Ela continua querendo mandar, conduzir ou determinar tudo. E não vai aqui uma crítica pois, via de regra, ela até se sai bem neste papel. Só que tem um detalhe: ela quer conduzir a tropa até quando não conhece o caminho. E tenho um exemplo emblemático disso. Minha mãe é de Porto Alegre, mora em Pato Branco e eu em Curitiba. Ela não tem qualquer vivência curitibana que supere 4 ou 5 dias (esta de agora é sua maior estadia aqui). Ela não sabe andar nas ruas sozinha. Não sabe o nome dos bairros, das principais lojas... de nada. É uma turista ligeira. Ela sequer conhece os supermercados, mas foi justamente em um deles que o citado exemplo surgiu. Estávamos lá eu, a chefe de escoteiros (ops, minha mãe) e meu pai no supermercado. A tarefa era rápida e consistia em pegarmos poucos produtos. Fomos ao supermercado mais próximo de minha casa e que, portanto, mais conheço. Chegando lá, como sempre, a "véia" tomou a dianteira da tropa e aí começou a piada. Sem saber onde estavam os produtos que queríamos, andava de um lado para o outro e eu tinha que sempre correr à frente para buscá-la pois o corredor era outro. E se pensam que ela se tocava que não tinha condições de nos guiar e se conformava com a posição de seguidora, enganam-se. Retomava o caminho e já se postava na frente da fila a nos puxar. A situação era de um non sense total. Ela, apressada, à frente. Meu pai, desligado, atrás. E eu, preocupada em não magoar o caráter mandão da outra, ora chamava uma que se adiantou, ora buscava outro que se atrasou. E entre e uma e outra atividade, pegava meus produtos. De tudo isso, contudo, tiro como positivo o fato de não ter me irritado. Nem no supermercado e nem no Museu Oscar Niemeyer, onde ela também puxava a fila. Ela é minha hóspede e já já volto a imprimir meu ritmo às coisas. E sei que um dia vou sentir falta dela me dizendo pra onde devo ir, ainda que eu jamais tenha obedecido.
Autor: MMR
Natal: presépio ou calvário?
Corpos e mentes cansados depois de um ano de trabalho e correria (ou desemprego e apatia) não merecem gastar a tênue energia que ainda lhes resta na correria que antecede o Natal. Não é humano andar nas ruas, não é humano ir ao supermercado, não é aceitável entrar em um shopping ou banco. Enfim, o único ato razoável nesta época seria a hibernação, mas isso combina mais com ursos no inverno de Yellowstone que com o calor dos trópicos.
Mesmo que a criatura não seja do tipo que sai a comprar regalitos para cada parente ou amigo e, com isso, não entre na loucura que parece dominar o período... viver é impossível. Posso não ir ao supermercado comprar chester e peru, mas ainda como e dele não posso fugir.
Também posso não ir aos shoppings em busca de presentes mas os cinemas, as grandes livrarias, meu salão de beleza, enfim, hoje estão todos dentro destes estabelecimentos, não tenho como escapar.
Desta forma, mesmo que eu queira seguir minha vidinha normal, sou atropelada pela horda que se deixa levar pelo espírito natalino e por uma sede insana de gastar o 13º, 14º, 15º... gastar o que nem existe.
Há algo de errado e não me refiro à uma possível distorção do que deveria ser o natal. Não acho errada a gastança e menos ainda este furor passeador que assola a humanidade. Só penso ser errado colocarem um presépio embaixo da árvore de natal.
Acredito que a imagem do calvário cairia bem melhor.
Coisas para jamais fazer no PC
Se as pessoas ainda contraem DSTs (Doenças Sexualmente Transmissíveis) mesmo com todas as campanhas de conscientização para a necessidade do uso de preservativos... se as pessoas ainda morrem ou matam em acidentes de trânsito por dirigirem embrigadas... se as pessoas ainda fumam mesmo conhecendo os malefícios do cigarro... porque seria diferente na hora de se protegerem, e aos outros, de pragas virtuais? Parece óbvio que o mesmo sentimento de "comigo isso não vai acontecer" engloba todas estas situações. Um sentido de imortalidade, de estar acima do bem e do mal, de esperteza... sei lá. E depois que a "inhaca" está feita, em qualquer destas situações, a frase é sempre a mesma (com pequenas variações): "porque isso acontececeu comigo"? Pois vou dizer: ignorância ou prepotência, o que dá quase no mesmo. Mas vamos aqui nos ater a exemplos circunscritos às pragas virtuais, sejam elas vírus, malware, spyware, trojan ou o que for, tanto faz. Em primeiro lugar deixo claro que em tempos de banda larga (e ampla utilização da internet e de computadores em rede) é impossível a vida informática sem o trio antivírus, firewall e antispyware. E não vou aqui ficar discutindo qual o melhor produto deste ou daquele. Como já diz o chavão, o melhor software de proteção é aquele atualizado. Ou você come carne que esteja fora do prazo de validade? Só que, é com sorrisinho irônico que lembro, isso não basta. Estar com todos os softwares atualizados não é suficiente. É mais ou menos como acontece com as tentativas do Sr. Bill Gates para conter a prirataria dos seus produtos. Todas inúteis. Se a Microsoft conta com 1000 engenheiros para a criação de um sistema de segurança e validação dos softwares que cria... o mundo tem milhares de molequinhos ávidos por burlar estes mesmos sistemas. Assim, por mais que as Symantecs da vida se esforcem para criar bons produtos... há mais mentes desocupadas e/ou criminosas a desenvolverem tais pragas. Então lá vão algumas dicas: 1. o rei da boca: não se iluda, ao contrário do que diz seu Orkut, você não tem 600 amigos. Sinto dizer mas você não tem 20 amigos. E mesmo que tenha, destes 20, 15 não têm a menor idéia de como se usa a internet com segurança. Logo... não vá abrindo todos os anexos de e-mails que chegam dos seus "amigos". E muito menos clicando nos links que estes e-mails trazem; 2. o curioso: o link que seu amigo do msn mandou parece ser legal? Antes de ceder a sua curiosidade, pergunte se ele realmente mandou algo. As pragas são dissimuladas e se enviam sozinhas, ele pode nem saber que está contaminando sua lista de conhecidos; 3. o confiante: este é ótimo pois é vítima dele mesmo. Tem todos os softwares de proteção atualizados... mas não usa. Baixa músicas de programas P2P (Kazaa, Emule etc) e já sai ouvindo. Não passa o antivírus antes. O mesmo com relação a anexos de e-mail, de comunicadores instantâneos etc; 4. o analfabeto: este tipo até entende um pouco de informática, mas não sabe ler, o coitado. Adora entrar em site russo pra baixar cracks e afins e aceita tudo quando é adware. O mesmo quando instala programas "gratuitos" que baixou sabe-se lá de onde. Ele adora a "instalação completa"... aquela que coloca barrinhas extras no Internet Explorer ou que transforma sua página de abertura em algo impublicável; 5. o novato: não sabe o que fazer. Não sabe se proteger mas se explicarem pode aprender e se dar bem. Pra este tipo há solução. Sugiro que vá em http://cartilha.cert.br/ e leia tudo. Dá pra fazer o download completo da cartilha de segurança e deixar de ser novato, o que não é possível para o rei da boca, o curioso, o confiante e o analfabeto. A não ser que caiam na real.
Telejornalismo em close 71
A tevê digital e as previsões imprevisíveis (por Paulo José Cunha)
A chegada da tevê interativa, prevista para o ano que vem, provocará nas redações, agências de publicidade e produtoras de vídeo um terremoto maior do que aconteceu quando a pena de ganso foi para a lata do lixo abrindo espaço para a máquina de escrever. Ou quando esta cedeu espaço ao computador.
Alguns leitores escrevem pedindo esclarecimentos sobre o real impacto da tevê digital, principalmente na publicidade. Boa desculpa para deixar de lado, ao menos por enquanto, a discussão sobre a participação das crianças na novela das 8 e virar o foco da análise em direção ao futuro.
Para simplificar, imagine que seu televisor atual, num toque de mágica, transformou-se num computador. Pronto: isto é a tevê digital. Tal como no computador, em que você pode trabalhar com dois ou mais programas abertos, você poderá assistir a um programa e eventualmente entrar em outro para dar uma bisbilhotada. O controle remoto será seu mouse. Como se estivesse com um cd-rom em execução, poderá saber detalhes pessoais do ator que está aparecendo ali na hora, uma rápida biografia do autor do gol ou a entrevista completa do cantor da qual acabou de ouvir apenas um pedacinho. Ou seja, não se trata de evolução, e sim de revolução. A publicidade, então, passará por modificações tão brutais que o atual formato dos vts comerciais rapidamente será convertido em peça de museu tal como aconteceu com a lauda-padrão que se usava nas redações dos jornais. A razão é simples: a tevê digital vai operar em permanente interatividade, isto é, tanto vai chegar à casa das pessoas como as pessoas vão poder "dialogar" com ela em tempo real. Até aqui, o máximo de interatividade que se conhece na tevê convencional são os programas do tipo "Você Decide", em que as pessoas telefonam para escolher um entre três finais diferentes para uma história. Ou promoções do tipo "ligue agora" para concorrer a um brinde ou desconto em loja.
A televisão brasileira é tão conservadora que um dos primeiros programas de sucesso da extinta TV Tupi de São Paulo, há 50 anos, era a "Escolinha do Ciccilo". Qualquer semelhança com a "Escolinha do Professor Raimundo" de hoje em dia não é mera coincidência. É a máxima do Velho Guerreiro em prática: na televisão brasileira nada se cria, tudo se copia. Mas essa acomodação será detonada pela tevê interativa em que a mudança permanente é que é a única rotina. O engenheiro Fernando Bittencourt, diretor-geral de engenharia da Rede Globo, lembra que um televisor dura cinco, dez anos. Ao contrário, o computador que você compra, no caminho da loja até sua casa já se tornou obsoleto. Assim funcionará a tevê digital, que oferecerá aos publicitários o maior desafio desde a criação do primeiro reclame. Em primeiro lugar, porque o merchandising deverá ser levado às últimas consequências. Em segundo, porque o anunciante poderá pagar à agência de acordo com a eficácia do anúncio, uma vez que a compra do produto será
feita durante sua exibição no vídeo. Outro desafio será para os próprios anunciantes, que terão de manter estoques em quantidade suficiente para atender à demanda em vários pontos do país para ter mais agilidade e velocidade na entrega.
A publicidade terá ainda de se adequar a um telespectador livre para "puxar e colar" os programas que desejar, criando, dessa forma, sua própria grade de programação, o que repercutirá diretamente na noção de público-alvo.
Além disso, como lembra o diretor de mídia da Loduca Virtual, André França, "você deverá saber que aquele anúncio de tevê digital deverá vir totalmente pronto, pois ele será a própria loja em versão virtual". Sem falar na possibilidade de uma brusca mudança de enfoque a partir da rapidez do feedback, o que exigirá enorme flexibilidade das agências e produtoras. O Presidente da Denison, Raul Cruz Lima, lembra que, se hoje tem de passar a idéia de que o monitor do seu cliente é melhor do que o da concorrência, amanhã terá de criar uma nova forma que permita ao telespectador clicar na própria tevê e comprar na hora.
O leitor assustado com tantas mudanças pode se consolar ao saber que os especialistas asseguram que a sua tevê atual, analógica, ainda terá de conviver com a tevê digital pelo menos até 2.015, segundo a legislação. Sabe o que isso significa? Nada. Em 1972, quando surgiu a tevê em cores, os especialistas garantiram que sua massificação só ocorreria no ano 2.000. Dois anos depois, nas favelas, o número de aparelhos de tevê em cores já superava os de preto-e-branco. E se tratava de televisão. Hoje, quando a questão envolve a fusão televisor-computador, qualquer previsão (sem trocadilho), é ainda mais imprevisível.
Paulo José Cunha é pesquisador, professor de telejornalismo e Diretor do Centro Audiovisual de Produção Cultural e Educativa da Universidade de Brasília.
Serei uma pessoa “inha”
Em 2006 serei uma pessoa melhor, nem que para isso eu tenha que, aparentemente, ser um pouco pior. Explico: na improbabilidade de conseguir antever situações e calar-me, optarei por não vê-las. Este será meu grande desafio em um primeiro momento. Vou emburrecer e virar uma pessoa "inha". O quê? Você não sabe o que é uma "inha"? Sabe sim... só não conhece por este nome. "Inha" é aquela sua cunhada, tia ou vizinha, que tudo fala no diminutivo para mostrar o quanto ela é querida: "oi Marcinha! Tá boazinha? Vá lá em casa hoje que vou fazer um jantarzinho pra nossa turminha. Ui! Que lindinho seu batonzinho, combina com sua blusinha". Se tudo der certo não verei mais nada, sobretudo não perceberei os jogos, as induções, as mentiras e os golpes que algumas pessoas (são tantas) tentam aplicar umas nas outras e que hoje me irritam profundamente... ao ponto de me fazer uma pessoa insuportável, daquelas que estampam na face um eterno ar de "eu avisei". Não. Eu não quero avisar mais nada. Eu não quero prever e muito menos precaver. Eu quero ser enganada, quero virar Polyana. Quero acreditar que as boas intenções superam a safadeza, o egoísmo e a "lei de gerson". Quero ser o tipo de pessoa que todo mundo gosta e, sobretudo, não quero inviabilizar minhas relações com comentários premonitórios que jamais são aceitos mas que, tempos depois, se materializam em ações que provocam em mim a já mencionada cara de "eu avisei". E nos outros uma cara de pastel. Nada disso. Em 2006 serei uma nova mulher. Ao menos por fora. Serei queridinha com todas as pessoinhas legais que habitam este mundinho bacaninha. Vamos ver se isso vai durar. Até loguinho!
“Meu” webdesigner brilha em Foz
O Júri de Seleção do III Festival Internacional do Humor Gráfico das Cataratas do Iguaçu já selecionou os desenhos e cartuns que disputarão US$ 20 mil em prêmios. E dentre eles está Fábio Biondo, artista plástico/multimedia/webdesigner/etc que, entre tantos trabalhos de qualidade, criou este site aqui, que segundo ele foi "o primeiro blog da sua lavra". Participam do Festival artistas de 92 países e, dizem, a qualidade dos trabalhos é sempre um ponto a destacável. Estou na torcida do Fábio. E para visitar o site do Festival, vá em http://www.humorfalls.com.br/2005/pt/index.htm .
Compras na internet
No dia 14 de novembro, às 20 horas, entrei no site do Supermercado Extra ( www.extra.com.br ) para comprar um computador. Comprei. Na mesma noite fui em www.americanas.com.br e comprei um monitor cardíaco. Alguns dias depois fui novamente nas Americanas, desta vez para comprar um ventilador de teto e uma balança digital. Tudo recebido até o dia 25, menos o computador do Extra. Muitos telefonemas e e-mails trocados... e nada de solução. "Pedimos que aguarde para averiguarmos o que ocorreu", diziam e cada contato. Ao que eu respondia: "mas eu não quero saber o que ocorreu. Só quero meu produto, pelo qual já paguei, diga-se". Em vão. Infelizmente delicadeza não resolve muito nestes casos, minha experiência diz. Tive que jogar pesado com ameaças e tudo mais, até que na quinta-feira, 24 de novembro, o Extra comprometeu-se a me enviar outro PC, com prazo de entrega marcado para 29 de novembro. Concordei, fazer oquê? Eles disseram que a transportadora havia sumido com meu PC. Bem, na manhã de 28/11 fui acordada por um simpático trabalhador de conceituada loja de automóveis curitibana. Ele disse que havia encontrado um envelope com uma nota fiscal, em meu nome, referente a compra de um computador. Seria o tal computador desaparecido? Só poderia. Não compro PCs todo dia. Combinei com ele que no decorrer da semana iria buscar tal nota. Decidi, contudo, esperar a entrega do "novo" computador prometido para então comunicar ao Extra o que havia ocorrido. Bem, não precisei esperar muito. Na segunda-feira à tarde, por volta das 15 horas, chegou o PC aqui em casa. Estava tudo ok. Liguei para testar e para substituir o sistema operacional e programas que vieram instalados. Trabalhava concentrada nesta tarefa quando o interfone toca e era mais uma encomenda que chegava. Comemorei!!! Se PC, ventilador, monitor e balança já haviam chegado... só poderia ser o iPod encomendado do exterior. Que nada. Era... bem... era outro computador do Extra. Nem o recebi. O menino da entrega ficou sem entender qualquer coisa. Perguntei onde estava a nota fiscal e ele disse que deveria estar dentro das caixas. Hahahaha a nota sempre vem fora da embalagem. Este segundo PC seria o da nota perdida? Um mistério. Mistério maior ainda quando, ao terminar o processo de instalação dos programas, vou guardar o PC nas caixas para enviar ao sobrinho. Na etiqueta de endereçamento o que leio? O nome de minha mãe. Como isso foi parar lá eu tenho uma vaga idéia e passa pela aprovação cadastral... qual nome da mãe... estas coisas. Eu vou continuar comprando pela internet... mas no Extra, nunca mais.
Alma limpa
Tenho uma casa em um balneário que só é conhecido pela meia dúzia de pessoas que, como eu, ali têm uma casa. É um lugar ermo, mas quando falo isso não pensem se tratar de uma Caraívas de vinte anos atrás. Está próximo demais da muvuca para assim ser confundido, além de faltar ao lugar atributos típicos do que se convencionou ser um paraíso tropical. Por ser assim, um meio termo entre o bruto e o embrutecedor, não tem uma personalidade cativante para a maioria das pessoas. Quem gosta de movimento, não aprecia. Quem gosta de praias selvagens, não se satisfaz. Isso faz com que, a meus olhos, esta praia tenha cores especiais. Com sua falta de carisma mundano ou natureba, livrei-me da turma das baladas e da galera do luau da lua cheia. Magnífico! É um lugar para pessoas que conseguem lidar com elas mesmas. Almas atormentadas, carentes ou solitárias estariam a um passo do suicídio se ali permanecessem por mais de uma semana, sobretudo com chuva. Tampouco é lugar para exibicionistas, que não conseguem viver a simplicidade da absoluta falta de glamour, griffe ou status. Nunca li em colunas sociais que fulano foi passar as férias naquele canto da orla. Canto da orla, aliás, é força de expressão. Não é um lindo mar de enseadas, é reto como a falta de curvas da modelo anoréxica. Estar ali é quase o vazio, o nada. É alimentar-se apenas do que temos dentro de nós. É viver um dia após o outro sem conseguir esconder a forma como captamos e processamos o pouco que vêm de fora. Não há pra onde fugir e - se não controlarmos a neurose - o mosquito de final de tarde deixa de ser apenas isso para virar um exército imbuído do propósito único de nos infernizar. O carro, que entra por engano na rua sem saída, pareceria agir com o intuito impar de tirar nosso sossego, mancomunado com o vizinho inconveniente. Não... aquele lugar é para poucos. Nem aqueles que vão até esta casa por absoluta falta de opção para um veraneio melhorzinho conseguem permanecer por mais tempo mantendo o astral em nível aceitável para uma coexistência prazerosa. É uma praia e uma casa para quem tolera. Melhor ainda, é uma praia e uma casa para quem ama. A si e a quem o acompanha.
Dor nas costas me faz ver TV novamente
Estou de molho em casa. Um mal jeito nas costa me colocou "entrevada". Deitar dói, sentar, dói e andar dói. Sair de qualquer um destes estados para outro não dói... massacra. O melhor é escolher umas destas posições e nela permanecer. Escolho a opção sentada e deixo ao meu alcance tudo aquilo que posso precisar: jornais, controles remotos, telefones, livro e água. No colo o notebook pois afinal o mundo não para por causa das minhas costinhas. Fazer "zap" no meio de uma tarde de segunda-feira é o cúmulo da vadiagem e então decidi relembrar os velhos tempos de Baguete (www.baguete.com.br), onde por uns dois anos escrevi coluna semanal sobre televisão. De todos os filmes, desenhos e documentários, o que me chama primeiro a atenção é um programeco de fofocas de televisão que passa na RedeTV. Baixarias da Monique Evans à parte, surpreendente foi a entrada de um áudio de Glória Perez na programação. O assunto? O não-beijo-gay na não-cena final de Júnior, personagem de Bruno Galiasso em América. Estava lá a voz se defendendo da acusação de ter censurado aquele que teria sido o primeiro beijo gay das telenovelas brasileiras. "Eu escrevi, o diretor dirigiu e os atores interpretaram. Foi a direção da Globo que decidiu não levar ao ar. Por favor, me ajude a explicar isso para a comunidade gay brasileira", dizia. Bem, a mim pouco interessa quem cortou tal cena. Acho surpreendente a importância que dão a ela. A cena "polêmica". Polêmica para quem? Tenho dúvidas quanto a honestidade de tanta polêmica. Se a imprensa não falasse em "polêmico beijo" haveria tanto clamor? Sei não. Se uma novela colocasse um casal gay em cena sem jamais mencionar o fato, sem que qualquer personagem tocasse no assunto... teria a tal polêmica ou o relacionamento passaria batido? Acho que passaria quase em branco. Ao longo da novela não ouvi qualquer pessoa questionar as preferências sexuais do filho da viúva Neuta. Só nos últimos dias... mas aí o tema não era a homossexualidade do menino, o assunto era sobre se a Globo teria ou não coragem de mostrar tal beijo. Ou seja, era só repercussão do que a própria Globo teria plantado... uma pimentinha para fazer com que uma novelinha medíocre ultrapassasse os índices de audiência de produtos bem melhores, como Celebridades ou Mulheres apaixonadas. Polêmica... sei! É isso que me estraga as costas.
Só abro a boca com Dormonid
Eu já voei de balão, comi goulash no mercado municipal de Budapeste, "casei" três vezes, dormi em um hotel perto do porto de Marseille... não sou uma pessoa medrosa, pois. Mas tem uma situação que me coloca em total estado de pânico: o dentista.
Todos exercícios mentais já foram tentados. Eu sei que não dói tanto assim. Sei também que, mesmo que doa, será rápido. E ainda que, se não for tão rápido, não morrerei disso.
Em vão. Quando sento na cadeira meu corpo imediatamente fica tenso. E tão logo o dentista começa a mexer em minha boca, as únicas partes móveis do meu corpo passam a ser, sei lá porque, os dedões dos pés.
Tenho total percepção do ridículo mas é mais forte que eu. E quando o profissional tenta racionalizar e me pergunta se tive algum trauma, respondo que não lembro de nada enquanto sentada na cadeira.
Acho inútil qualquer investigação por este caminho e prefiro associar meu medo à inconfortável situação de completa impotência. Porque é isto mesmo... você está ali esticada na cadeira, inteiramente nas mãos de um sujeito "armado".
É por isso que eu só entro naquela salinha depois de um dormonid. Com ele fico tão impotente quanto, ou até mais. Mas ao menos não tenho, na hora, consciência disso.
E é melhor que anestesia geral, algo ao qual já me submeti nesta situação.