Enquanto ampliam-se os canais de distribuição de entretenimento (não ouso lançar mão do termo "cultura"), em alguns setores diminuem-se vertiginosamente as opções disponíveis no mercado.
Tenho tentado ir ao cinema e não consigo. Tenho tentado assistir televisão ou escutar rádio... e nada.
Aqui em Curitiba, nos últimos anos, multiplicamos pelo menos duas vezes o número de cinemas. Dos mais ou menos 12 existentes há 5 anos, saltamos para uns 30. E quantos filmes em cartaz? 12. E qual a diversidade de filmes? Pouquíssima. De um lado Xuxa e Didi, do outro a nova moda de filmes de suspense e terror e muita, muita pancadaria. Restam as três salas da Fundação Cultural que, apesar de heróicas, são de um desconforto massacrante e nada convidativo.
Na TV é a mesma coisa. Nos canais abertos pouca variedade, muita novela, muito talk-show, dezenas de programas femininos, infantis, cama, mesa e banho... A personalidade de uma loja de departamentos.
Nos canais fechados o mix muda um pouco mais. Há uma ou outra idéia interessante... mas sempre repetida à exaustão e, não se iludam, para cada Eurochanel eles jogam 10 AXN (ex-Teleuno).
Rádio nem se fala... por mais que tentem variar os estilos, os escolhidos são sempre os mesmos. Sempre a mesma música, do mesmo CD, do mesmo cantor. No meu trabalho o rádio fica sintonizado sempre na mesma emissora e todos já decoraram a imutável programação.
Estas observações nada têm de inéditas... mas são movidas por uma espécie de "balanço" que faço para escrever a penúltima coluna do ano. É paradoxal que com tantas novas possibilidades de multiplicação fiquemos condenados à mesmice em termos de comunicação de massa. Deve ser por isso que alguns outros setores tenham "acordado" nos últimos tempos.
O setor editorial, por exemplo. A variedade de livros disponíveis nas prateleiras é crescente. As editoras começam a investir em gêneros que até bem pouco tempo não existiam no país. Biografia é só um exemplo e em outros gêneros há até alguns novos autores por aí. Já foi pior a situação.
Ainda na área editorial vê-se um enorme avanço em termos de publicações periódicas. O que surgiu de revistas não é mole. Há segmentação da segmentação. Vi outro dia a Revista do Joalheiro. Existem publicações para todas as etnias, preferências sexuais, políticas e econômicas. Tem até revista dirigida a sabe-se lá quem (o caso da Você, por exemplo).
A Internet também é responsável por uma maior gama de possibilidades, ainda que hoje alguns provedores-portais comecem a me irritar profundamente por conta de uma política de marketing exagerada (irritação ampliada ao receber o 26º kit-instalação de um famoso provedor, desta vez anexada a uma caixa de sucrilhos). Parece o Bugú, personagem da Turma da Mônica que vive atrás de exposição.
Mas tirando isso... é um dos poucos lugares onde é viável o surgimento e a descoberta do diferente.
É ela também que nos salva das megastores padrão que começam a tomar conta do mercado fonográfico. Não fosse o MP3 eu jamais teria encontrado músicas que tocam direto em meu PC e que nem em sonho freqüentam a programação musical de emissoras de rádio e TV.
Como se vê... dá pra colocar de um lado TV paga, livros, revistas e Internet. Do outro ficam rádio e televisão. Os primeiros precisam ser tratados com algum capricho pois são pagos... os segundos, por serem teoricamente gratuitos, não precisam muito esmero.
E no meio disso tudo o cinema, que apesar de pago está integralmente nas mãos de dois ou três distribuidores, dublês de produtores e ao mesmo tempo projecionistas, já que monopólio pouco é bobagem.
Não há lógica que resista a uma exceção destas.