Era criança ainda quando a moda ditava falar mal da Rede Globo, tendência que foi se esvaziando com o tempo, felizmente. No meio da minha adolescência já se podia admitir que assistíamos Chacrinha, novelas e até Fantástico. Criticar a Globo passou a ser então, outro extremo, era algo out. Mas cá entre nós, in ou out, vez por outra ela bem merece uma tomatada.
No domingo em que Tim Maia morreu recebi a notícia via MTV. Imediatamente pensei: "o que a Globo vai fazer"? Imaginei que pudesse ter a decência de apenas noticiar o ocorrido mas não, como temia ela foi além. Durante todo Fantástico, que vi só para comprovar minha premonição, trechos de shows e depoimentos de colegas do "síndico-senador". Pior... anúncios de um "Especial Tim Maia".
O espanto que tive se deve a um simples fato: Tim Maia, espero que muitos lembrem, estava barrado da programação da Rede Globo, ao menos dizia isto em todas as entrevistas concedidas para jornais, rádios ou outras emissoras. Tim Maia deplorava Roberto Marinho por excluí-lo da vitrine que a Globo representa.
E agora, quando o gordo Tim não tem mais qualquer domínio sobre sua obra e seus sub-produtos (vídeos, discos, etc.), vem a Globo render homenagens a ele. Bem, ao menos não foi hipócrita o suficiente para repetir o que fez em outras oportunidades ao fomentar a comoção nacional via morte do Senna, Tom Jobim e Mamonas.
É claro que a ela sempre restará o argumento de ter cumprido sua obrigação jornalística de informar o telespectador (com um especial?). Mas não seria também sua obrigação noticiar o que andava fazendo Tim Maia, perdoem-me a redundância, vivo? Ele não era um cantorzinho qualquer. Fazia parte de um seleto grupo de compositores e de um mais seleto ainda grupo de cantores brasileiros.
Só consigo imaginar uma situação mais criticável que esta. Não é agouro, por favor, mas se a morte do Brizola um dia render um Globo Repórter... aí vai ser piada.