Sentar em frente ao computador para escrever a coluna do Baguete me coloca em meio a uma situação existencial absurdamente paradoxal, se me perdoam a rima (pobre, diga-se). Estou aqui escrevendo para cyber-leitores pouco após ter ligado para um entrevistado que não atendeu o telefonema pois, segundo seu filho, "estava no chiqueiro.
Só não mergulho em um profundo processo de reflexão e auto-análise porque é sempre uma maravilha ver TV para depois deleitar-me comentando o que vem pelos cabos. Tiro então a botina Zebu e coloco minha melhor fantasia street-fashion para adentrar a urbe e cair na realidade... virtual... da televisão.
Começo pelo Domingão do Faustão. Não bastasse e tradicional preguiça dominical. Não fosse suficiente mais um feriadão chuvoso... agüentar o mal humor do Faustão é de doer. Há quem diga que já que não deixam a celebridade campinense levar o show do sushi pra TV, e nem permitem que fale palavrão, o rapaz teria assumido o estilo Garfield e agora passa o programa inteiro de mal humor, espinafrando os pobres contratados de sua emissora.
Quando tenta jogar um pouco de humor na tarde de domingo, ataca com "atrações cômicas" que não provocam risos sequer na claque profissional e amadora que porventura esteja na platéia. E de qualquer forma, entre um quadro e outro, mais grosserias e bufadas. Tudo quanto o brasileiro precisa nas poucas horas em que não é vítima do motorista do ônibus, da babada do chefe ou da cara do gerente do banco.
Mas até aí tudo bem. Faustão está ali porque quer e o estilo adotado deve ser criação própria. Pior aconteceu com Carla Vilhena e duvido que tenha sido opção da moça. Pergunta: qual o maior crime que uma jornalista bonita, de belo sorriso e voz, expressões carismáticas e ar que transmite credibilidade pode cometer contra sua própria carreira.
Eu diria que são dois: o primeiro seria sua transferência para um time concorrente da Globo onde em pouco tempo se queimaria por não poder contar com estrutura mínima para um bom trabalho ou onde caísse no total esquecimento. Já a segunda possibilidade que vislumbro é fatal: deixar-se levar pelo canto da sereia.
Pois foi o que aconteceu com Carla Vilhena. Vejam só a inversão de papéis no jornalismo da Globo. Glória Maria, destacada repórter, está na bancada do Fantástico, apresentando o programa ao lado de Pedro Bial sem qualquer brilhantismo. E Carla Vilhena, excelente apresentadora, está bancando a foca e fazendo reportagens que nada acrescentam a sua carreira.
Enquanto insistem em Glória-Maria-batata-quente no Fantástico, a bela Carla tenta ser foca da Globo. Há algo errado aí. Algum maldoso rabiscou o quadro de escalas para submeter Carla Vilhena a seus próprios e pobres textos, recheados dos chavões que é capaz de produzir a coitada.
A fórmula era tão simples... Glória na reportagem e Carla no Fantástico. Ou em qualquer lugar onde pudesse ler - com sua desenvoltura habitual - as notícias que ficam melhores em sua voz do que na da batata-quente.Mas vai ver estão querendo fritar a jornalista como fizeram com Mônica Waldwogel.
Isto é quase um caso de polícia... o que não é difícil na Globo, que adora um jaquetão de couro com pochete na cintura. Nunca vi tanta fixação por Delegado de Policia. Eles aparecem na telinha em proporção inversa do que deveriam aparecer aqui do lado de fora dela. Tem em Torre de Babel, tem em Meu Bem Querer, sempre rola um no Casseta e Planeta, com certeza vai aparecer um em Pecado Capital e Labirinto. Havia outro na reprise de As Noivas de Copacabana e em outra novela recentemente terminada o "mocinho" era um delegado que gostava da desmemoriada Cristiana Oliveira. E por aí vai... deve ser uma das profissões prediletas da Platinada e dos sonhos de 99% dos autores/diretores.
E termino tratando do meu quintalzinho mesmo. Aqui no Paraná, onde vivo, estávamos em plena campanha de vacinação contra sarampo. Isto mesmo. Aqui é primeiro mundo, dizem, mas tem estas perebas epidêmicas também. Feito o rápido interregno, vejam que interessante a campanha.
O Secretário de Estado da Saúde virou garoto-propaganda da tal campanha. Em que pese ser louvável a racionalização de custos - imagino que ele não tenha cobrado cachê - economizaram em roteirista. Estava tudo muito bem mas só esqueceu nosso coverboy de esclarecer certos detalhes. Coisa pouca, é claro.
As aparições do dublê de Carlos "Bombril" Moreno "apenas" não informaram se crianças e homens precisavam da vacina; que a vacina é tríplice e não apenas contra sarampo; que o vacinado fica temporariamente impedido de doar sangue ou engravidar; que grávidas não poderiam tomar a vacina; quais os sintomas do sarampo; e o que fazer se os sintomas surgirem.
Tudo bobagem e informação desnecessária. O roteiro do secretário,imagino, deve ter seguido o padrão informativo da campanha do TRE para os dois turnos das eleições. Altamente elucidativo.
Mais certo estava o homem em seu chiqueiro. Melhor porco que porcaria. Xiii... lá vem a crise novamente.