Um dos dias em que mais trabalhei na vida foi quando o cantor e compositor Gonzaguinha fez seu último show, em Pato Branco, PR. Na manhã imediatamente após o show, quando supostamente "voltava para casa", sofreu o acidente que o matou e lá fui eu cobrir as primeiras providências. Nesta época atuava no jornal Folha de Londrina e, sendo o jornal mais conceituado a ter sucursal na região, coube a mim e ao Júlio César, então chefe da sucursal, abastecer de informações a imprensa nacional. A séria e a de fofocas.
A primeira vez que me senti muito mal como jornalista foi neste dia. O corpo do artista repousava em um caixão (aberto) no Aeroporto Juvenal Cardoso, de Pato Branco, cercado de fãs e poucos amigos ou familiares. Bem próximo estava sua mulher e houve entre nós uma troca de olhares que jamais esquecerei. Ela ali sentada, chorando, e eu sobre uma cadeira para pegar a foto que melhor mostrasse a dor daquele momento. Ela virou para mim e eu lancei a ela uma cara de pedido de perdão que, delírio ou realidade, julguei aceito, pelo jeito complascivo da mirada.
Mas não lembrei desta história pelo fato dela ter me feito sentir uma cretina "urubuzenta". É que neste dia, além de trabalhar muito, nunca vi o Telex e o aparelho de telefoto trabalharem tanto. E então me dei conta que Gonzaguinha morreu no dia 29 de abril de 1991, há 17 anos. Em termos de tempo é um nada e vejam... telex e telefoto.
Se eu entrar em um curso de jornalismo hoje e comentar sobre estes dois equipamentos vão achar que falo de coisas do início do século passado. E eram, de fato. Só que até bem pouco tempo as inovações tecnológicas duravam muito. Levava tempo para que as superassem.
Lembrei de tudo isso quando hoje arrumava minha mesa de trabalho e vi que tenho aqui um equipamento completo de jornalismo em área que não supera 25 cm x 30 cm. E isso sem falar em iPhone ou Asus Eeepc, que são pouco confortáveis para que se escreva neles e cujas câmeras deixam a desejar em termos de resolução e, principalemente, zoom. Quanta facilidade.
É tão fácil ser jornalista hoje que dá até um desânimo.
Aquela experiência que tive em 1991 foi minha última atuação na linha mórbida. Vejo, contudo, que a facilidade material de catar, registrar e divulgar flagrantes é inversamente proporcional ao bom senso e caráter geral. Com uma câmera na mão e uma conexão rápida ao alcance, o mundo e os indivíduos estão expostos. Para qualquer uso e sem quaisquer critérios.