Pular para o conteúdo

Sou bom exemplo

Não basta ter mau gosto. Há que saber compartilhá-lo com a humanidade. Esta parece ser a máxima de um tipo de ignorante a quem não é suficiente mergulhar sozinho na própria imbecilidade. *Segunda tentativa de compreensão de alguns vizinhos.


A uma certa altura do filme Montenegro - Pérolas e Porcos, do hoje sérvio Dusan Makavejev, filme que vi há uns 25 anos, fogos de artifício tomam o céu de um vilarejo sueco habitado por imigrantes da (naquele momento) Iugoslávia. Se não original, foi das mais belas metáforas ao orgasmo alcançadas no cinema de então.


Acabou o lirismo. Esta imagem só me veio à cabeça para mais uma vez comprovar que no mundo existem gênios e beócios. Existem os "Dusan Makavejev" e alguns cretinos aqui do bairro, que não devem ter ou proporcionar orgasmos razoáveis mas parecem hábeis em sublimá-los com rojões que atormentam minha existência todos os domingos, a partir das 7 da manhã.


O que faz alguém sair de casa e gastar seu suado dinheirinho na compra de um artefado que faz barulho, amedronta cães, afugenta pássaros, ensurdece pessoas, eventualmente decepa mãos ou cega e que, ainda por cima, fede e pode provocar incêndios?


Qual a simbologia embutida nisso tudo?


O time faz gol...  bummmmmmmm. O amigo vai casar... bummmmmmm. É ano novo... bummmmmmm O que eu e centenas de outros moradores das imediações temos a ver com isso?


Alegria se mede por volume, quantidade e formato do estouro, em matemática similar à equação que proporcionaliza virilidade x aceleração do automóvel?


Minha ojeriza a sons em alto volume, qualquer um, aumenta ainda mais quando percebo que jamais sou invadida, por exemplo, por vizinho que tasca Schönberg "no talo". Nada disso. É sempre a ultima moda do verão. Algo que vai da "Popozuda" ao "Já sei namorar". Num desfile que transita por funks, axés, pagodes e sertanejos vários.


"Ai que elitista", dirá um ou outro. Posso ser. Mas destaco com orgulho que meu suposto mau gosto não toma de assalto a existência alheia. Não obrigo vivente algum a dividi-lo comigo. E isso, por si só, é de extremado requinte.


Imitem!