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Dia Internacional da Mulher… blergh!

Recebi uns e-cards e e-mails com cumprimentos pelo Dia Internacional da Mulher. Todos estes Dias de Alguma Coisa me causam estranheza. Um sentimento parecido com o que dedico às tais cotas de negros, índios, deficientes em universidade e concursos públicos. Reconheço que têm lá alguma serventia, mas implico com todos estas iniciativas.


Recebi uns e-cards e e-mails com cumprimentos pelo Dia Internacional da Mulher. Todos estes Dias de Alguma Coisa me causam estranheza. Um sentimento parecido com o que dedico às tais cotas de negros, índios, deficientes em universidade e concursos públicos. Reconheço  que têm lá alguma serventia, mas implico com todos estas iniciativas.


Acredito que em um mundo ideal nada disso seria necessário. Como as leis que reservam bancos para idosos e gestantes nos ônibus... com um povo educado tal medida seria tida como ofensa.


Fico pensando se alguma vez fui discriminada por ser mulher. Claramente apenas uma vez. Devo ter sido outras tantas mas nunca percebi pois felizmente em minha família não eram fornecidos privilégios a meu irmão pelo fato de ser homem. Sempre me foi permitido ir a festas, namorar livremente, dirigir automóveis, viajar, dormir fora de casa etc. Estudar e construir carreira não me eram permitidos... mas estimulados. Jamais fui criada para o casamento, como contecia com muitas amigas contemporâneas.


Por conta de minha formação sempre circulei em ambientes relativamente civilizados (ou hipócritas), nos quais seriam intoleradas manifestações preconceituosas de qualquer natureza, sobretudo de forma ostensiva. Menos uma vez.


No final da década de 90 eu pedi demissão de um emprego para abraçar novas e diferentes oportunidades. Quando cumpria o aviso prévio, fui questionada por meu chefe se teria alguém que eu indicasse para a vaga que se abriria com minha saída. Sugeri então o nome de um colega jornalista que conhecia muito bem o setor com o qual eu lidava. Meu ainda então chefe saiu-se com essa: "ah.. ele é bom mesmo. Mas é homem. Se eu contratar terei que pagar mais".


Quem me conhece sabe que em situação normal não deixaria por menos tal absurdo mas preferi o silêncio. Na verdade o impropério até me causou certo alívio visto que, se antes estava temerosa quanto à decisão tomada, agora tinha certeza de que o melhor para mim era mesmo me afastar daquela agência.


Isso explica o motivo para não me sentir confortável com relação ao que considero "deferências". Não gosto de deferências. Gosto do que é certo. Não quero ser lembrada em um dia e prefiro acreditar que tenho o poder de me deixar, ou não, ser explorada.


Mas aí abro o jornal e vejo que somente em julho de 2007, pela primeira vez, o tradicional torneio de Wimbledon, o mais antigo do circuito mundial de tênis profissional, pagará o mesmo valor a seus campeões das chaves masculins e feminina. Em plena Inglaterra.


Isso desmancha um pouco a teoria de que tenho algum poder sobre qualquer coisa. Se eles fizeram isso com as poderosas Sharapova, irmãs Willians, Mauresmo, Chris Evert, Billie Jean King, Monica Selles etc... quem sou eu? Sou uma pobre afegã-somali-nordestina neste circo.


Mas continuo achando errado precisarmos disso. De minha parte acho que dispenso. Ou não acho mais?


Ó dúvida feminina!