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De incas venusianos ao ultra-pós-moderno

Chegou o tão esperado terceiro milênio e, a não ser pela enxurrada de comentários e programas que especulam sobre o futuro da televisão, nada mudou na minha telinha a não ser a própria.

Chegou o tão esperado terceiro milênio e, a não ser pela enxurrada de comentários e programas que especulam sobre o futuro da televisão, nada mudou na minha telinha a não ser a própria. Quando comecei a escrever na Internet sobre televisão tinha uma charmosa Telefunken (caixa de madeira, seletor quase mecânico e sem controle remoto), hoje substituída por um aparelho estéreo de 29 polegadas.


Fora isso... nada. Um nada em tantas línguas quanto as abrigadas na NET, TVA, DirecTV ou SKY.


Sou míope e algumas vezes me utilizo desta deficiência (???) em causa própria. Tiro os óculos ou as lentes de contato para, deliberadamente, não enxergar o desagradável. Para que uma visão perfeita se não existe perfeição a ser vista?


Toco neste assunto por conta da enxurrada de artigos publicados em jornais e revistas do mundo inteiro e mencionados lá em cima, no primeiro parágrafo. 


TV de altíssima resolução... TV interativa... TV em banda larga... TV... TV... TV...


OK! Investi uma pequena fortuna em um aparelho tela plana que vale mais que minha Honda Dream e o que vejo? Mais detalhes do rosto enrugado do velho Rei em seu tradicional especial de fim de ano. A fina penugem que recobre a bela face de Vera Fischer.


O que ouço no refinado som estéreo?  As vozes enjoativas de Gugu Liberato e Xuxa (como podem fazer sucesso com aquelas vozes tão chatas?).


Entramos no terceiro milênio e o homem continua o mesmo. 


A dramaturgia humana ainda só se interessa pelos mesmos velhos mitos do amor, do ódio, da vingança, do poder e da morte, temas que, misturados em doses variadas, resultam sempre nos mesmos roteiros.


Não é o futuro da TV o que me interessa. É o futuro da humanidade. E este, a considerar o que assistimos, não é muito diferente do que nossos ancestrais viveram.


Édipo pode ter sido substituído por Dawson (Dawson’s Creek – Sony), Medéia foi trocada por Lilly (Once and Again – Sony)... mas as relações pais e filhos continuam top de linha. Prosérpina era uma mãe tão opressora e invasiva quanto Alma (Laços de Família - Globo) e Fausto continua se vendendo nas milhares de tramas contemporâneas. Isto sem falar em Maria Madalena...


Um dia sentaremos em nossa poltrona marciana, ligaremos o que quer que seja que sirva para vermos o que hoje corresponde a nossa televisão... e lá estará passando um tremendo drama sobre o amor impossível entre um venusiano e uma terráquea.


Não há saída pois como sempre digo... nós humanos conseguimos inventar as maquinetas... mas ainda não sabemos o que fazer com elas. Ou pior... inventamos máquinas que cada vez mostram com mais precisão os nossos mesmos velhos sonhos.


Happy new year... humanóides.