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Medo ou indiferença?

Minha amiga e colega Juliana caiu no estacionamento do Mercado Municipal de Curitiba. Uma queda grave, daquelas que deixam os pés virados para trás, como os do Curupira, e os joelhos ardendo no chão. Ao lado dela, que estava imóvel, estabacada, uma mulher a tudo via impassível, confortavelmente sentada em seu automóvel. Assim ficou Juliana até que finalmente sua mãe apareceu e, vendo a cena, ficou inconsolada com a atitude da tal mulher.


Minha amiga e colega Juliana caiu no estacionamento do Mercado Municipal de Curitiba. Uma queda grave, daquelas que deixam os pés virados para trás, como os do Curupira, e os joelhos ardendo no chão. Ao lado dela, que estava imóvel, estabacada, uma mulher a tudo via impassível, confortavelmente sentada em seu automóvel. Assim ficou Juliana até que finalmente sua mãe apareceu e, vendo a cena, ficou inconsolável com a (falta de)atitude da tal mulher.


Tenho pensado muito nisso e praticado outro tanto. A solidariedade. A tolerância. O trânsito sempre nos oferece oportunidade para ambos, para pensarmos e praticarmos a solidariedade. Aliás, se não o fizermos, do jeito que a coisa vai estaremos em uma selva rapidamente. Por isso eu sempre deixo um carro entrar na frente do meu em um cruzamento. Sempre entendo o pedido de espaço de um que precise mudar de pista. Estes pequenos atos, tenho certeza, melhoram a vida de todos.


Ainda assim fiquei pensando no fato narrado por Juliana. Como culpar esta mulher sem a certeza da sua má intenção? Como bem diz a campanha de prevenção ao HIV, "quem vê cara não vê AIDS". As notícias não ajudam no sentido de termos a certeza de que aquela adorável mocinha não seria, isso sim, uma farsante fingindo queda. E quem garante àquela mulher que Juliana não estaria apenas preparando terreno para um seu comparsa atacar a generosa senhora tão logo saltasse do carro para auxiliar a ferida? Mais um sequestro relâmpago destes que ocorrem aos borbotões nas grandes cidades.


Tudo isso é estranho. Não sou saudosista mas lembro quando minha família, nos anos 70, entrava na "Freway" (estrada que liga Porto Alegre aos balneários do litoral norte do Rio Grande do Sul) e víamos uma fila de meninos pedindo carona para a praia. E mais, parávamos para carregar um ou dois mochileiros barbudinhos.


E não lembro de termos feito isso com medo. O "pior" que aconteceu nestas aventuras foi certa vez termos dado carona a um menino compeletamente gago. Conversar com ele era bem difícil. Hoje isto seria uma total irresponsabilidade. Imaginem dar carona para desconhecidos colhidos à beira da estrada.


Pensando assim dá para conceder o benefício da dúvida à personagem do "caso Juliana". Mas seja por medo ou por indiferença que não recebeu ajuda, é triste ver o ponto a que chegamos. E  de qualquer forma a falta de socorro não se justifica em tempos de celular. Se não quisesse levantar e socorrer pessoalmente, acionasse ajuda por telefone. A civilidade estaria preservada.