Lágrimas e esta frase pronunciada sabe-se lá como. Assim foi o discurso de Roger Federer na cerimônia de premiação do Australian Open, primeiro dos quatro Gran Slam do ano, torneio no qual perdeu para seu rival mais respeitável, o espanhol Rafael Nadal. Eu, e imagino que milhares de fãs ao redor do mundo, também me acabava em choro. "It's killing me" era a frase que soava como uma tristeza grandiosa. O olhar aflito de Mirka, a mulher de Federer, impotente lá nas tribunas, em nada ajudava. Nem ela e nem qualquer pessoa poderia invadir a cerimônia para consolar o ex-número 1 do tênis mundial. Vitórias e derrotas são assim... solitárias.
Muitos dirão que Federer não soube perder. Não, não soube. E quando escrevo isso não me refiro ao jogo de hoje. Por mais que Federer sempre soubesse da efemeridade das glórias esportivas, hoje ela materializou-se. Um grande insight. "Talvez eu não esteja aqui no ano que vem". Ele só quer igualar Sampras em números de Gran Slams. Se conseguir, é certo que irá querer superar os 14 títulos do tenista americano. Hoje era a hora disso. A próxima oportunidade será em Rolland Garros, que não é exatamente uma oportunidade clara para Federer, que jamais (como Sampras) ganhou este torneio disputado em quadras de saibro. Depois vem Wimbledon, que deixou de ser seu templo sagrado quando, no ano passado perdeu para Nadal. Destaque-se que Federer não é Benjamin Button. Não fica mais novo a cada dia, ao contrário de seus sucessivos adversários.
Federer perdeu e há quem pense que com seu choro estragou a festa de Nadal. Não é verdade. É fato que Nadal não pulou e mesmo a mordida no troféu, seu gesto característico,saiu meio sem jeito. Constrangido em demonstrar a merecida alegria que com certeza sentia. Mas foi um gigante em sensibilidade. Colocou-se no lugar de Federer, a quem nitidamente admira, e o apoiou. Pudera, o choro de Federer não foi o choro do "piá-pançudo" que perdeu o jogo e não se conforma. Foi o choro de um amor que termina. Como dói, sabemos.
Dois príncipes. O frio Federer em prantos que finalmente podem aliviá-lo da obrigação de vencer. E Nadal teve uma lição de vida: tudo acaba. Um chora e o outro dá colo. Muita grandeza de ambos.