Não tive filhos. Não por cinismo ou grandeza, como teria ocorrido com Machado de Assis ("não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria"). Não tive porque não os tive. Provavelmente porque nunca os quis, já que oportunidades e práticas para tal nunca faltaram. Nas raras vezes em que pensei sobre o assunto, confesso, só um medo me abateu. "E se for burro"?
Jamais temi que apresentasse alguma deficiência de saúde fisica ou mental, mas sempre pensei: "e se, a despeito de meu empenho com sua educação, mesmo com saúde criar um ser desprovido da capacidade de ligar as informações recebidas de forma lógica (eufemismo para burrice)"? Conhecedora de como um filho pode ser capaz de ferrar com sua própria vida para afrontar pais, sempre imaginei esta como uma hipótese bem real.
Hoje tive certeza de minha escolha ao acompanhar matéria veiculada pela Rádio CBN Curitiba, brilhantemente elaborada pelo repórter Augusto Galarda. Eu não suportaria ver meu filho (ou filha, claro) engrossando as fileiras de uma das marchas mais patéticas das quais tomei conhecimento neste ou em qualquer outro tempo.
Hoje, dia 25 de agosto de 2008, 250 jovens caminharam no centro de Curitiba (seria em outro lugar?), bradando contra o anunciado encerramento das atividades do grupo mexicano RBD, os Rebeldes da novelinha do SBT.
Lágrimas desesperadas e gritos histéricos marcaram o happening.
Qualquer tipo de marcha coletiva me causa um pouco de desconfiança pois sempre há, por detrás de sentimentos supostamente puros, grande dose de manipulação. Mas há causas e causas. É certo que sempre alguém lucra com tudo, mas às vezes o lucro do outro traz algum benefício coletivo também. Não me parece o caso. Perdoem-me os fãs ensandecidos, este RBD nem esteticamente vale a pena. E falo em estética artística E física.
De qualquer forma acho que vale ouvir a matéria do Augusto clicando abaixo, na logo da CBN. É engraçada de tão non-sense a situação. Ou ler o que registrou o site da emissora.
Eu li, ouvi e fiquei radiante por não ter filhos.