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Modelo exportação

Amiga industriária conta qual a diferença entre o produto consumido no mercado japonês e o produto japonês para exportação.

Mafalda - Quino


Noite passada conversava com uma amiga que vive no Japão. Uma das milhares de nisseis, sanseis e yonseis que foram pra lá em busca de trabalho e melhores condições de vida e que agora está apavorada com a real possibilidade de perder seu emprego para os chineses.


Minha amiga "Japa Girl" contou coisas de arrepiar o cabelo. De fazer com que eu olhe para meus "brinquedinhos eletrônicos" e tenha sentimentos muito diversificados. Nefastos, em geral.


Contou-me ela que a indústria para a qual trabalha, que produz celulares, foi vendida e que é possível que passe a importar ainda mais componentes da China. E começou a falar sobre o que isso pode representar. "Agora estou em um setor que revisa as peças que vêm da China e que são usadas em produtos que abastecem o mercado interno (Japonês). Você precisa ver a quantidade de peças com defeito, um horror... mas eles falam que ainda compensa fazer lá e trazer para a segunda revisão. que passar por novo controle de qualidade ainda sai mais barato que pagar mão de obra local".


E pra piorar ainda mais, falou: "o que me assusta é que pra exportação sai tudo direto de lá. O que revisamos aqui é só pra consumo interno. Você imagina a caca que vai para os outros países? É por isso que aqui já não compramos nada chinês, nem mesmo produtos modelo exportação, pois a maioria é chinesa".


Olha, se isso que minha amiga falou é verdade, e acredito nela e em todo seu conhecimento de operária que atua diretamente em grandes indústrias japonesas há alguns anos, estamos ferrados. De onde saem os componentes das nossas máquinas fotográficas Canon, Nikon, Sony etc? As placas do PC em que escrevo agora? Enfim, tudo o que me cerca vem de onde?


Não posso acreditar que toda esta conversa da Japa seria fruto do seu pânico de perder o emprego. Ainda mais depois que amanhece e, ao abrir a porta, vejo meu jornalzinho diário parado ali na minha porta com manchete estampando notícia sobre a descoberta da adição de GHB, o "ecstasy líquido" nos brinquedos Bindeez, comercializados no Brasil mas fabricados na China. Este produto, segundo autoridades norte-americanas, teria "chapado" criancinhas por lá. Isso depois dos diversos "recalls" de brinquedos fabricados na China este ano (bonecos Polly e Batman, brinquedos da Fisher-Price etc).


Sério mesmo. Vivemos a era do barato. Produtos baratos... vidas baratas.


Made in China, Paraguai ou fundo de quintal?


Tristes escolhas as nossas.