Tenho aqui em casa um daqueles CDs "the best of" do Elton John. É impressionante a quantidade de singles campeões da Bilboard e afins reunidos nos dois disquinhos. Quem só conhece o gordinho emperucado dos shows-tributo a Lady Di talvez não consiga imaginar a importância deste artista que atravessa décadas sem jamais cair no ostracismo. Sou fã do Elton John baladeiro de Your Song, do roqueiro de Pinball Wizard (ópera-rock Tommy, do The Who), do pop de Don´t go Breaking my Heart... de todos. E é na qualidade de grande admiradora do Elton John como artista e como cidadão que sempre esteve ao lado das boas causas que fiquei estarrecida com o cara nesta semana. Soube através da mídia que um dos meus compositores favoritos pediu o fim da internet para salvar a indústria musical. Segundo notícia amplamente divulgada, Elton teria dito: "A Internet fez com que as pessoas deixem de se comunicar e se encontrar e evitou que coisas fossem criadas. Em vez disso, (os artistas) se sentam em suas casas e criam seus próprios discos, que algumas vezes são bons, mas que não têm uma visão artística a longo prazo". "Estamos falando de coisas que vão mudar o mundo e a forma como as pessoas escutam música e isso não vai ocorrer enquanto continuarem aumentando os blogs na internet". "Esperamos que o próximo movimento no mundo da música acabe com a internet. Saíamos às ruas, marchemos e façamos protestos, em vez de nos sentarmos em casa e entrarmos em blogs". "Há muita tecnologia disponível. Estou certo de que, em termos de música, (sem a internet) seria muito mais interessante do que agora".
Ó céus!!! Torço para que seja mentira tudo isso por que fiquei muito desapontada. Cada uma destas frases me faz revirar o estômago. Todas já foram ditas quando do surgimento do rádio, da TV e do vídeo. Até meu pai, aos 72 anos, sabe disso e tem a internet como aliada, vendendo seus serviços e livros exclusivamente através da rede. Sem minha ajuda, deixo claro e registro com culpa. Sugiro que Elton John também se modernize para não sofrer pelo fato de seu último disco, The Captain & The Kid, ter vendido apenas 100 mil cópias. Atualizar-se é melhor que culpar os downloads e chorar feito uma tia saudosa dos tempos de "antão".
Em contrapartida, e para reforçar o que penso, vejam o belo exemplo de dois contemporâneos de Elton John, de quem sou também fã. Gilberto Gil e David Bowie.
Gil batizou sua atual turnê de Banda Larga, com direito a lançamento de música no YouTube. Na contramão do que se vê nos espetáculos em geral, com a proibição de fotos, gravaçoes e vídeos, Gil conclamou seus fãs a registrarem cada espetáculo seu e a enviarem o resultado para ele, para publicação deste conteúdo em seu site. Lá no site Gil ainda oferece músicas para que os internautas façam seus próprios remixes e mais algumas brincadeirinhas.
Quanta diferença!
Já David Bowie, o eterno visionário do pop, recebeu neste ano o Weeby Award pelo conjunto da sua obra e por sua importância no processo de união da arte e com a tecnologia, de Ziggy Stardust ao BowieNet, provedor que criou em 1998 e no qual incentivou seus fãs a contribuirem com letras, downloads e remixes. Sem falar no BowieArt, que inova ao conectar jovens artistas com colecionadores do mundo todo.
Ambos, Gil e Bowie, têm algo em comum e que falta a Elton John: disposição de aprender. Enquanto Elton reclama que a internet afasta as pessoas, Gil e Bowie as foram buscar. E cada um achou sua maneira de ganhar dinheiro sem lastimar o eterno bla bla bla do fim da indústria fonográfica. Gil está em turnê (Europa e Brasil), faturando. Aqui no país sua mulher toca as empresas da família, que incluem produtora, selo, editora, empresa de carnaval e sei lá mais o que.
E David Bowie.. bem... a este ninguém precisa ensinar como se ganha a vida. Nunca dormiu sobre a glória e, goste-se ou não dele, é especialista em se reinventar.
Reconheço que Elton John está certo quando saca que não dá mais pra viver da venda de discos. O próximo passo é o que interessa e parece que não está aberto a dar: aprender a usar esta ferramenta. Sim, isso mesmo. Não pensem que aquela verborragia anti-tecnologica signifique que ele não tenha sua lojinha no cyber-espaço. A despeito do que dá a entender através de seus supostos pronunciamentos anti-net, Elton John tem um site. É ruim demais, mas tem.
Lá estão a agenda de shows (com direito a comprar os tickets pela net), fórum, alguns vídeos, muitos releases e poucos serviços aos fãs. Ah, uma lojinha de quinquilharias que vende até sunga, caneca e camisa de boliche "eltonjohn".
É pouco para astro de tal grandeza. Se contentar em vender ingresso e cuecas não pode ser suficiente para quem criou Crocodile Rock.
Eu me envergonharia de ser Elton John e não conseguir fazer nada melhor. Mas eu não iria propor o fim da internet. Acho que contrataria uma aquipe melhorzinha.