Bibi Ferreira respondeu certa feita, ante indelicada pergunta sobre sua idade, que a velhice pode ser eterna, mas a juventude é efêmera. Esta idéia, que aqui não reproduzo literalmente por absoluta falta de lembrança das palavras ditas durante entrevista a Jô Soares, é perfeita.
Uma série de fatos me fez lembrar Bibi. Um deles foi a visão de nota publicada na coluna do fotógrafo Jader Rocha, no Jornal do Estado, aqui de Curitiba, no dia 10 de abril. Nesta nota um fã de Chico Buarque teria comentado, à saída do show do artista aqui na cidade, que “é duro ver um ídolo envelhecer”.
Como assim? Eu adoro a idéia de ver Chico Buarque velhinho, compondo com uma taça de vinho ao lado (ok… talvez sejam remédios) e olhando sorrateiro pra as bundas das meninas que passam. Um velhinho safado, como insinuou a música do Nei Lisboa. Triste, para mim, foi ter visto a morte prematura de Elis, Cássia Eller, Chico Science, Cazuza, Renato Russo e até de quem eu nem era fã, como Mamonas Assassinas e este moço que se foi agora, o tal Fabinho ex-Travessos que eu sequer conhecia.
Que tempos vivemos? Minhas amigas revoltadas com a inexorável chegada dos 40 me fazem lembrar Dona Alba, senhora minha mãe. Desde que me conheço por gente ela comemora MUITO o aniversário. E não há risco de alguém esquecer a data pois ela não deixa. Ela adora festejar seu nascimento e nunca, jamais mentiu a idade, indo na contramão de grande parte das mulheres.
Diz que as mulheres que diminuem a idade são burras. Que ela preferiria até aumentar, para que seus interlocutores dissessem “nossa… como você está bem. Não parece que tem xx anos”. E dá risada: “pra que vou diminuir… para que digam que estou acabadinha”? Faz sentido.
E sobre o gosto por comemorar dá uma lição de lógica elementar: “gosto de comemorar porque só quem faz aniversário são os vivos. Só há uma alternativa ao não-envelhecimento e eu prefiro envelhecer”.
Entendo, contudo, que poucas pessoas são capazes desta compreensão. O que preocupa o fã de Chico não é, de fato, o envelhecimento do compositor mas o seu próprio. É ver que os belos olhos verdes do ídolo, como os seus, são emoldurados agora por uma pele não mais tão lisa, o que em tempos de botox, anorexia, personal-training, lipo etc é assustador.
Ah… mas nisso eu levo uma vantagem enorme. Outra noite comentei com amigos sobre um breve affair que mantive há anos com um cara que hoje conduz um programa de relativo sucesso na televisão, o Miranda (Ídolos, Trama, Bizz etc). Quando mencionei o “casinho” um já saltou: “Credo… você sempre teve mal gosto”?
Não. Em primeiro lugar ele está gordo e grisalho mas era (e ainda é) muito bonito. Além do mais… sempre foi uma pessoa brilhante e meu gosto por pessoas brilhantes é maior que meu interesse pelos belos. Ainda que tenha tido a sorte de reunir, por diversas vezes, os dois atributos em uma só pessoa.
Parodiando Bibi Ferreira, a beleza, como a juventude, é passageira. A inteligência, como a velhice, é eterna. Aliás, não. A inteligência e o conhecimento podem aumentar ao longo dos anos.
E pra falar a verdade eu nem acho que a beleza seja passageira. Ela se transforma.