Aproveito que minha mãe jamais lê este blog para declarar publicamente que meu avô, o pai dela, era um grosso. Não era pouco grosso... era um animal. Digo isso pois é uma revelação recente em minha vida e preciso compartilhar. Sempre o tive como um velhinho meio tosco mas generoso... que nada!!! Nesta semana me veio à lembrança um fato ocorrido há pelo menos 35 anos e que, possivelmente, tenha reflexos em minha vida até hoje. Explico. Quando eu era criança os pais de minha mãe foram morar em Itaqui, cidade separada da Argentina pelo Rio Uruguai. De um lado estava Itaqui e do outro a cidade de Alvear. Era comum os visitar nas férias, o que para mim era uma grande emoção pois significava tomar o trem Minuano, que me levaria de Porto Alegre a Uruguaiana, onde então me buscavam de carro para cumprir o resto do trajeto. Só que além de ser separada de Alvear por um rio... Itaqui também é separada de Uruguaiana pelo Ibicuí. E é neste ponto que as lembranças me fervem na alma. Naqueles dias ainda não havia ponte a ligar os dois municípios da fronteira gaúcha e para se chegar a Itaqui via Uruguaiana era necessário atravessar uma balsa. Como o trem chegava muito cedo a Uruguaiana, quando chegávamos ao ponto da travessia ainda não havia balsa disponível e tínhamos que esperar amanhecer dentro do carro. Nesta espera aquela "meiga e doce figura" ficava o tempo inteiro dizendo coisas do tipo: "não estou com paciência de esperar... o rio não é tão fundo e dá pra atravessar de carro". Frases como esta eram repetidas e repetidas e repetidas. Me vejo espremida num canto do carro pedindo pelo amor de deus que meu avô não fizesse o que ameaçava, que não atravessasse o rio no automóvel. Tenho certeza de que neste momento o pânico tomava conta de mim para diversão do meu avô, imagino hoje. Grande diversão! Um perfeito idiota. Qual a graça em deixar uma criança apavorada? Por estas e por outras que eu tenho pânico de andar na carona de qualquer pessoa. Me controlo o quando posso, claro, mas se há uma situação que me deixa desconfortável na vida é a de me deixar conduzir em automóveis, sejam eles particulares ou de aluguel. E olha que eu já voei de balão na boa... enfrento o alto-mar em veleiros médios sem problemas e não há vôos turbulentos que me apavorem. Será culpa do cretino? Hoje tenho claro que sim. Nem a vez que dei de cara num muro de pedra me deixou lembranças tão amargas.
O bom velhinho
Aproveito que minha mãe jamais lê este blog para declarar publicamente que meu avô, o pai dela, era um grosso. Não era pouco grosso... era um animal. Digo isso pois é uma revelação recente em minha vida e preciso compartilhar.