Tenho muitos defeitos. Alguns conheço, outros nego e muitos, talvez a maioria, deles nem tenho consciência. Estou definitivamente longe da perfeição mas também não consigo me ver como um ser de difícil convivência. Bem... com certeza não sou simpática e tenho o péssimo hábito de não gostar de preconceitos de qualquer natureza, o que muitas vezes me torna "a chata" politicamente correta.
Muitos acham também que não gosto de pitacos em minha vida, o que é uma verdade parcial. Não são os pitacos ou conselhos que me enervam... é o fato dos pitaqueiros não se contentarem com o pitaco dado. Querem que, além de ouvi-los, eu os acate, deixando visível o descontentamento com minha não adesão à sugestão dada.
Hoje, contudo, descobri que para pelo menos uma pessoa no mundo tenho um defeito (para mim novo) horroroso. Alguém que se considera tremendamente injustiçada porque ousei impedir que pela centésima vez entrasse em MINHA casa, abrisse MINHA geladeira, pegasse MINHAS cervejas e as levasse para SUA casa, apontou para um defeito irreparável em minha pessoa. Achou que poderia continuar entrando em minha casa a qualquer hora do dia e da noite (isso não é força de expressão e nem qualquer figura de linguagem, é fato) e dela levar o que quisesse, sobretudo minha paciência. E tudo isso por que, afinal de contas, eu havia "cagado" na casa dela.
Perdoem-me. A intenção aqui não é ser escatológica e menos ainda baixa. Acontece que os termos "evacuar", "fazer coco", "ir aos pés", "defecar"... nenhum deles caberia nesta narrativa. Fui mesmo acusada de "cagar" na casa alheia.
Pensei em escrever para Danuza Leão e perguntar se é falta de educação usar o banheiro dos outros. E mais... se isso conferiria alguma espécie de crédito ao proprietário do banheiro. Não poderia esquecer de mencionar que destas utilizações (duas ao todo) não teriam restado qualquer resquício indesejável. Minhas "obras" perderam-se tranqüila e derradeiramente nos labirintos do esgoto municipal, sem que delas sobrasse qualquer vestígio.
Tenho certeza que Danuza me absolveria quando soubesse que na casa em questão existe lavabo, peça que usualmente se destina à utilização dos visitantes. Em todas suas necessidades, presumo.
"Posso tomar suas cervejas, usar seu telefone, bater na sua porta às 4 da manhã e ligar pra você a cobrar quando estou bêbada porque, afinal de contas, você cagou na minha casa".
Vou contar uma coisa pra vocês. Não é a primeira vez que esta minha natureza abençoada é motivo de assunto. Sou daquelas pessoas de intestino perfeito, que desconhece a real dimensão do termo "prisão de ventre". Tenho um número infindável de amigos que dão risadas e dizem me invejar quando sumo em meio a compras no supermercado ou lojas para tão natural "trabalho".
Sem querer humilhar, meu corpo e mente chegaram a um ponto de equilíbrio que aceitam perfeitamente minha humanidade. No que há de mais primitivo nela, o básico ciclo digestivo.
Não sou perfeita mas meu defeito, definitivamente, não é este. Ninguém vai me fazer sentir culpada ou em débito por isso. E a quem acha que o fato de usar seu banheiro cria qualquer espécie de vínculo incondicional entre nós, deixo uma frustração. Eu uso o banheiro do Wal-Mart, das Americanas, do shopping... de qualquer lugar.
Alguém aí já visitou o Guartelá? Sabe aquele banheiro precário? Pois é... eu já usei.
E isso não me torna íntima do prefeito de Tibagi.