A chata que não bebe – Márcia Mendes Ribeiro

Alguém já olhou pra você e o (a) viu como uma aberração? A mim isto acontece com alguma frequência e o que mais me deixa perplexa é que este olhar não se deve a qualquer anomalia física que eu apresente. Não sou um modelo de beleza mas estou a quilômetros de espantar por feiúra. Também sou plenamente saudável, o que exclui olhares preconceituosos mirando qualquer imperfeição física ou mental que pudesse exibir.

Este olhar, pasmem, me é dirigido quando não aceito bebidas alcoólicas em festas. Ante a insistência e o olhar incrédulo do anfitrião, pioro a situação quando digo: "eu nunca bebo". Deve ter gente que pensa: "hummmmm... ela deve estar em recuperação no AA". E como poucos se agüentam, logo o assunto é espichado e preciso explicar que nunca bebo ou bebi. Que simplesmente não me agrada o sabor de qualquer bebida alcóolica. Que se for por paladar... prefiro refrigerante ou suco.

Para as pessoas é incompreensível alguém passar a vida sóbria. "Como suporta?", já me perguntaram. E foi pensando nesta pergunta que resolvi listar os motivos para preferir a sobriedade:

1. Como já mencionei, não gosto do sabor;
2. não suporto a ressaca;
3. olho o comportamento dos bebedores, sociais ou não, e não vejo algo que me agrade;
4. a "alegria" liberada pelo álcool me enche de tédio. Não consigo ser tão feliz quanto aquele povo que corre atrás do trio elétrico por dias e noites do carnaval da Bahia;
5. perder o controle sobre a razão só é aceitável quando estou apaixonada. Fora disso não compensa;
6. jamais tive que tomar "umas e outras" para me liberar para dançar, rir, paquerar etc;
7. sóbria consigo compreender e perdoar os outros com alguma facilidade; e, finalmente,
8. sóbria jamais tive que me perdoar no dia seguinte, funcionou até hoje.

Então, amigos, não venham tentar me convencer a beber no final do ano e férias e não me olhem com cara de estranheza, principalmente.

Eu juro que sou normal.