Duas mulheres agem de forma parecida com propósitos diversos. Uma em São Paulo, a Sra. Pitta, outra em Curitiba, a Sra. Martins de Oliveira.
Nicéia Pitta vai para frente da câmera da Globo denunciar o esquema de corrupção que envolve (ou é capitaneado por) seu marido. Cristina, mulher de Cândido Martins de Oliveira, ex-secretário da Secretaria de Segurança Pública do Paraná, assume o microfone da CBN para defender o marido afastado do governo paranaense no rescaldo das investigações do narcotráfico.
Duas mulheres. Uma movida pela ressaca de um casamento desfeito. Outra, pela lealdade ao maridão. A despeito de ambas denunciarem verdades ou mentiras, tanto faz, são movidas pelo mesmo instinto básico: a paixão.
Discutir se estão certas ou erradas é algo que não me interessa, já que às emissoras e às protagonistas destes episódios sempre restará o argumento do interesse público. Algo pior me ocorre, como sempre.
Ao ouvir o que tinham a dizer penso que os veículos de comunicação substituíram o tanque das lavadeiras (como todo respeito a estas dignas profissionais).
Do primeiro ao último andar de qualquer pirâmide social, a humanidade parece ter escolhido os veículos de comunicação como o novo grande fórum. O tribunal soberano. D. Nicéa e D. Cristina não poderiam simplesmente buscar um promotor de justiça para a ele fazerem suas denúncias ou defesas. Isto seria pouco glamouroso.
E os veículos, ah! Estão adorando. Sai barato colocar no ar um pobre coitado esbravejando contra qualquer coisa. Dá resultado patrocinar estas catarses, acompanhadas avidamente por uma população louca por um espelho que mostre que sua loucura não é original.
E antes de continuar, uma observação: quando falo em “pobres coitados” não me refiro, considerando os exemplos citados, ao contra-cheque. Falo mesmo de uma carência que de certa forma é mais problemática... Carência de equilíbrio emocional.
A TV e o rádio, principalmente, estão passando por um processo de empobrecimento que não sabemos para onde nos levará. Não há emissora que escape. É Ratinho no SBT, Marcelo Rezende na Globo, Leão... Temos até canal especializado em fofoca, o E!
Não há hierarquia social, há baixarias para todos os bolsos. A exploração da miséria, humana e monetária, parece ser a grande pauta.
Fico triste. Não gosto de ver o ponto de degradação a que chegamos. Faz-me mal ver pessoas lutando por um milhão nas noites do SBT, tentando responder, sem sucesso, a questões tão difíceis quanto o nome do produto eletrônico que nos ajuda a fazer contas.
Acho irritante o “estelionato” da Globo, que “vende” como inédito um capítulo de novela que é quase puro flash-back, como disco “novo” do João Gilberto.
Ver TV, para as pessoas minimamente saudáveis tem sido deprimente. Ainda bem que a safra de cinema está boa. Morro de inveja do meu colega Gastal.