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Há de haver uma maneira

Quando morreu Tom Jobim a mídia derramou-se em justas homenagens. E como seria impossível falar do músico sem mostrar sua ligação com o Rio de Janeiro, fomos brindados com as mais belas cenas cariocas.

Houve época em minha vida que mantinha o hábito de escrever ao ombudsman da Folha de São Paulo, então Caio Túlio Costa. Nem lembro o assunto sobre o qual escrevi na primeira vez, mas lembro que em sua resposta me convidava a escrever sempre que o desejasse. Coitado, mal sabia que abria terrível brecha pois naquele momento, morando no temporariamente no interior do Paraná, sofria por uma total falta de interlocutores.


Deve ter nascido ali, ou ao menos ali se fortalecido, esta minha mania de observar o que acontece nos veículos nacionais de comunicação. Caio sempre respondia. Gentil, algumas vezes concordava e acrescentava importantes argumentos às colocações feitas por mim. Gentil, outras vezes discordava com aceitáveis, ou não, argumentos. Sempre gentil.


Acho que minha mania de escrever para o ombudsman da Folha parou com a entrada de Júnia Nogueira, não tão gentil. Seja como for, lembro de uma carta escrita para Caio quando da morte de Tom Jobim. Na ocasião todos os jornais e emissoras de TV derramaram-se em justas homenagens ao compositor. E como seria impossível falar do músico sem mostrar sua ligação com o Rio de Janeiro, fomos brindados com as mais belas cenas cariocas, usadas como personagens de clipes ao som do Samba do Avião.


Era de arrepiar pois os brasileiros haviam esquecido que o Rio de Janeiro realmente continuava lindo. Eram tempos de rixa entre Globo e Brizola e daquele estado só saíam notícias negativas na emissora. Só seqüestros, arrastões, tráfico, escândalos...


Não tenho comigo a carta dirigida ao ombudsman mas o teor do que escrevi lembro bem. Falava que havia ficado feliz com a cobertura da morte do meu ídolo. Que graças a ela o país viu uma cidade linda pela TV. Sugeri que aquelas imagens não teriam resolvido os problemas dos cariocas mas que, sem dúvida alguma, melhoraram a vida dos demais brasileiros, cansados de tanta violência via satélite no almoço e no jantar.


Isto, dito aqui, pode não fazer sentido para quem nem era nascido ou era pequeno demais. Também não fará sentido para quem não se liga nestas coisas ou tem memória fraca.


Mas foi o que brotou em minha cabeça ao assistir a edição do Jornal Nacional no dia 25. Tomados pelo "espírito natalino", os editores do programa abdicaram de falar sobre Brasília (e nem teriam o que mostrar pois o recesso era total), deixaram de lado o plantão policial, renegaram as informações bélicas e descartaram totalmente as notícias sobre doenças.


O mundo era lindo naquela noite. Terno e meigo como nunca. Vendo aquilo muitos devem ter pensado que o Brasil pode ser maravilhoso quando saem de pauta os políticos e a polícia, juntos ou separadamente. Não chego a tanto mas, confesso, foi uma alienadinha legal.


É complicado este negócio da comunicação. Não sou do tipo que acha que jogos eletrônicos forjam bandidos e nem que filmes criam vândalos. Mas há fatos coincidentes, isso há.


Quando era criança pude assistir, em paz, muitas partidas de futebol. Sentava com meu pai na geral do Beira Rio e tudo o que víamos era uma ou outra briga isolada, nada comparável aos terrores de hoje. As pancadarias ao final dos jogos são eventos pós-hooligans (???).


Aqui em Curitiba um bando assaltou um condomínio inteiro, prendendo seus moradores no salão de festas. Deu manchete em rádio, TV e jornais. Não demorará muito para tal fato se multiplicar por até-bem-pouco-pacatas cidades do interior.


É óbvio que a mídia não cria personalidades criminosas. Isto é trabalho da vida. Mas ela até que dá "boas" e novas idéias. Como eu disse... complicado este negócio da comunicação. Se não mostra, aliena. Se mostra, (des) educa.


Há de haver uma maneira...