A crítica especializada em televisão, psicólogos, educadores e sociólogos... enfim... toda hora encontramos seus artigos denunciando aquele que seria um dos maiores problemas da programação televisiva, a banalização.
Banalização de tudo. Da violência, do sexo, da miséria, do mau gosto... tudo é normal, corriqueiro. Pais e filhos, tal o mito de Édipo, disputam a mesma mulher em novelas quase vespertinas. Apresentador faz paródia de novela e batiza sua obra de A Xupadora, numa alusão a A Usurpadora...
Um jogador de futebol tem sua idade adulterada em documentos oficiais para que possa disputar campeonatos profissionais e a crítica diz claramente: "tem tanta gente roubando... ele só quer trabalhar". Como se não se tratasse de crime de falsidade ideológica.
Enfim... como em Tangos e Tragédias, o mais que decano espetáculo dos gaúchos Hique Gomes e Nico Nicolaiévski (??), isto aqui é mesmo uma Sbórnia.
Agora a banalização chegou ao máximo com a colaboração do nosso presidente. FHC perdeu completamente o senso de realidade para viver um mundinho só seu. Virou Alice no País das Maravilhas.
Nesta semana, um grupo de ex-acampados foi para frente da propriedade rural do presidente reivindicar recursos para a agricultura. FHC, questionado sobre as ameaças do grupo, ironizou a situação dizendo que provavelmente estariam ali para homenageá-lo pelo tanto de terras que já distribuiu entre os integrantes do MST.
O grosso da população urbana brasileira, que nada sabe sobre a realidade rural do país, com base na cobertura feita pelas emissoras de televisão, deve ter pensado: "estes petistas... já ganharam terra... o que querem mais"?
Pois as emissoras perderam uma excelente oportunidade de mostrar o que efetivamente acontece no universo dos pequenos proprietários agrícolas. Desculpem se fujo um pouco ao meu estilo para adotar tom um pouco mais sério. Se vocês já leram minha apresentação ao final da coluna sabem que esta é minha "praia". Ou melhor, meu "campo".
Ocorre que os sem-terras, agora transformados em pequenos produtores, não melhoraram muito de status. Sem um programa sério de custeio agrícola, sem um programa efetivo de investimentos oficiais em tecnologia... danaram-se.
É claro que os juros praticados em empréstimos para o setor são mais baixos que os demais. Só que não há dinheiro para todos e, mesmo que houvesse, quais garantias dariam os pequenos produtores já endividados? Ou quem avalizaria um empréstimo dos novos-produtores? E por que os bancos investiriam no setor se outras linhas de crédito são tão mais rentáveis?
A prova do que escrevo é o que está acontecendo em regiões de minifúndio como o Sudoeste do Paraná, tradicionalmente agrícola. Em Pato Branco, por exemplo, as revendas que representam duas das maiores indústrias de máquinas agrícolas em operação no Brasil estão atravessando grandes dificuldades, enfrentando até concordata e falência. Se estão assim as duas não será por má administração, seguramente. Ao menos não ambas, seria muita coincidência. Ocorre que os pequenos proprietários da região não conseguem renovar seu parque de máquinas como, de alguma forma, fazem seus colegas ricos do Centro-Oeste do país, que conseguem se auto-sustentar.
E aí vem a propaganda do governo, SEBRAE e o "escambau" falando que só terá sucesso quem investir em produtividade... que o novo mercado global, agora comandado pelas tais commodities, exige uma agricultura moderna... blá blá blá.
Este povo então tem que agüentar as ironias de FHC.... vê-lo tripudiar sobre a situação, como se ele não fosse também responsável pela falta de um projeto agrícola no país.
E vem a televisão novamente banalizando tudo. Como se por trás daquele grupo pequeno não houvesse milhares de brasileiros que não sabem mais o que fazer para sobreviver no campo.
Mas a TV prefere discutir sementes transgênicas... desconhecendo que a maior parte dos produtores só consegue plantar com um punhado de semente de galpão.