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Eu quero dormir em paz

Outro dia perguntaram qual seria meu método de trabalho e expliquei... passo os dias em frente ao World com TV, pilhas de jornais e revistas, rádio e telefones ao alcance das mãos e dos olhos. De quebra ainda fico conectada na Internet pois neurose pouca é bobagem.


Outro dia perguntaram qual seria meu método de trabalho e expliquei... passo os dias em frente ao World com TV, pilhas de jornais e revistas, rádio e telefones ao alcance das mãos e dos olhos. De quebra ainda fico conectada na Internet pois neurose pouca é bobagem.


Então, entre zapeadas, telefonemas, sites e notícias vou escrevendo, entrevistando e resolvendo pepinos. Uma vida normal, diria. Só percebo eventuais distúrbios quando consigo lembrar dos sonhos que tenho à noite... invariavelmente ligados ao que passou durante o dia ou semana.


Quinta-feira à noite, seguramente tomada pela avalanche de (des)informação que recebo diariamente, misturei televisão e computadores em meus sonho. Sonho não... pesadelo. E daqueles.


Sonhei que poderosos vírus atacavam minha televisão, ao molde do que fazem estes pestinhas nos PCs. Os vírus eram visíveis na telinha da TV, que funcionava em aparente normalidade. Mas não... enquanto eram transmitidas suas imagens... os vírus corroíam o tubo de imagem e as válvulas (no caso do meu Telefunken 76), criando efeitos aterrorizantes.


O pior destes vírius adentrava minha TV durante a exibição do programa Roberto Leal. Lembram dele? Aquele portuguesinho mala que agora tem programa na CNT/Gazeta. Ele apresenta a Família Lima e enquanto o grupo canta e rebola numa imitação barata de Michael Jackson entro em desespero ao ver meu estimado aparelho se desfigurando.


Tento fazer download do novo McAfee e  “acesso” a TV Cultura (para alguns Educativa). Não consigo pois a versão de Antunes Filho para Vestido de Noiva, por mais “cultural” que seja, é teatro gravado... muito antiga para combater o vírus que me aborrece e que ganha novos formatos, se multiplicando em grande velocidade.


A TV, num descontrole total, cria sozinha uma sucessão de imagens desconexas, como um clip  ensandecido. Todas as homenagens que registravam o primeiro aniversário da morte de Leandro estouravam como pipoca no vídeo. Era Leandro no Jornal Nacional, na Marília Gabriela, no Serginho Groissman, no próprio Roberto Leal... ufa!!!


O suor toma conta do meu corpo e saco o controle remoto para sintonizar na MTV. “Aqui não terá Leandro e nem Família Lima para acabar com meu winchester”, penso. Mas que nada... como em um filme de Hitchcock, se tratava apenas da tradicional trégua que precede o pânico final.


Não... não era Phill Collins, que eu até preferiria nesta situação.


"Nosso amor foi feito pra ficar, vou te amar... Fernando”... era o vírus Perla entrevistado por João Gordo. O rosto da cantora paraguaia ganha a tela num close que chega até a boca. E dela sai, em voz gutural como no filme O Exorcista, a última frase... no estertor: “você se ferrou... você se ferrou... hahahahahaha”.


Eu já avisei. Um dia ainda processo as emissoras de TV por perturbarem meu sono. E não me venham dizer que vejo esta droga toda por que quero.


Os tabagistas conhecem o perigo do fumo mas ganham rios de dinheiro processando as indústrias norte-americanas.