Tenho uma amiga que costuma dizer, quando estou um pouco chateada com algum comentário feito, “liga não, Márcia... ele fala porque tem boca”. E é impressionante como existem muitas pessoas que falam porque têm boca.
Já é notória a quantidade de besteiras que fala Galvão Bueno, tanto que é até conhecido, créditos para o José Simão, como “Magdo”. Estava assistindo o jogo entre São Paulo e Corínthians, aquele em que o convidado era o Meligeni. E o Galvão, lá pelas tantas decide explicar para os telespectadores o que é o Grand Slam, formado pelos quatro maiores torneios de tênis do mundo.
Bem... então ele enumera os quatro e diz que “sem dúvida alguma Rolland Garros é o mais charmoso”. Deve ter dito isto para valorizar os feitos de Guga e Meligeni. É a única explicação para que nosso maior ufanista dissesse tal besteira. O torneio mais charmoso do Grand Slam é Wimbledon, meu caro.
Ele jamais deve ter sequer ouvido falar no que significa comer uma taça de morangos com nata nos jardins do famoso clube inglês nos intervalos das partidas. Mas classe não deve ser o forte de alguém que “criou-se” nos boxes engraxados do circuito mundial de Fórmula 1.
Mudando radicalmente de assunto, uma leitora desta coluna comenta a entrada da Band no mundo do sitcom... dos seriados de televisão ao molde do que fazem os norte-americanos. Ela acredita que não vai dar certo pois só os americanos sabem fazer grandes tolices alcançarem bons resultados e cita Dawson, Friends, Felicity, Party of Five, Barrados no Baile e por aí a fora.
Concordo e discordo dela ao mesmo tempo. Temos algumas experiências neste sentido no Brasil. “Confissões de Adolescente” e “Malhação”, são mais recentes mas há ainda “Malu Mulher”, “Plantão de Polícia”, “Amizade Colorida” etc.
Desta forma acredito que a iniciativa da Band é interessante mas, se olharmos para o setor de teledramaturgia nacional e o encararmos como uma empresa, eu diria que se trata de uma distorção de vocação. E explico.
Os melhores produtos da televisão brasileira são as minisséries, que me parecem a verdadeira vocação nacional. E há uma razão para que sejam nosso melhor produto. Vejamos o que acontece com as novelas. As novelas são muito bem feitas mas longas demais e por isso se perdem no meio do caminho. Para encompridá-las é necessário colocar o que popularmente se chama de “encheção de lingüiça” e os roteiros são alterados de acordo com a repercussão de determinado personagem ou tema.
Nas minisséries nada disso acontece. Aproveitam a técnica desenvolvida na indústria das novelas mas por terem poucos capítulos não há o período de “banho-maria”. E por serem obras fechadas, que só vão ao ar depois de concluídas, são bem mais autorais.
Neste sentido os seriados se assemelham com minisséries e podem dar certo. O que me faz também concordar com minha leitora é que enquanto ela me falava sobre sua descrença no sucesso dos seriados é que eu ia ouvindo e associando tudo isto com literatura.
Seriados são curtinhos. Cada episódio tem início, meio e fim, ainda que exista uma ligação entre eles. Isto é mais ou menos como são os contos. E ninguém bate os americanos em short-stories.
Talvez seja mesmo um desvio de vocação.