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Entrei pelos tubos

Eles estão por tudo. Nos camelôs, nas conversas, nas rodinhas. Eles são... os Teletubbies.

No trabalho não falta uma mãe que repete-repete-repete seus bordões, em uma lista de discussão recém-pós-teenager-mas-nem-tanto da qual participo, volta e meia, o assunto são eles. Eles estão por tudo. Nos camelôs, nas conversas, nas rodinhas. Eles são... os Teletubbies. Seres coloridinhos, gordinhos, meigos, repetitivos e telemaníacos como quase todas as crianças de idade entre 2 e 5 anos. E, para o meu gosto, chatinhos como quase todas as crianças desta faixa etária.


Eles são muito educativos, temos que convir. Ensinar crianças a soma de 1 + 1 realmente justifica sua produção milionária. Brincadeirinha. Outro dia até vi algo interessante sobre as formas geométricas, com uma bola se transformando em quadrados, triângulos, retângulos...


Há também aquela espécie de televisão que eles carregam na barriga e que, como sempre, repete tudo quantas vezes for acionada para tal. Na verdade este é o melhor achado do programa. Você já levou seu irmãozinho na videolocadora para escolher uma fita? Não importa quantos lançamentos as prateleiras exibam... ele sempre vai querer o mesmo desenho, num ato que desconfio ser absolutamente deliberado para enlouquecer pais, mães e irmãos.


Outro ponto até bacaninha destas televisões é que, apesar de serem uma criação inglesa, os Teletubbies abrem espaço para que, a partir das telas abdominais saiam reportagens sobre temas locais. Lembre-se que o programa é comprado por mais de 20 países e sempre é interessante permitir, com uma simples edição, a inclusão de conteúdo local.


Os Teletubbies diferenciam-se por cor, por estranhas formas que prolongam suas cabeças e alguns adereços. Tinky Winky, o roxo, carrega uma bolsinha vermelha; Laa-laa, a amarela, brinca com uma bola; e Po, o vermelho, tem um patinete; e Dipsy, o verde, um chapéu estilo vaca holandesa. Impossível não decorar quem é quem.


Também como crianças de 2 a 5 anos, não andam... correm. Não conseguem simplesmente caminhar. O cenário, bem, não lembro como eu via as coisas quando era criança, mas aquele mundinho chapado, de vastas planícies gramadas e flores arrumadinhas parece corresponder ao que imagino, fosse minha visão naqueles dias. E falo isto baseada na minha crença em que, depois da morte, nos sentamos em nuvens e ficamos comendo moranguinhos.


Outra semelhança com as crianças pequenas é a eterna luta para dormir. Sempre ao final do programa sai do gramado um periscópio-falante que repete algumas vezes "é hora de dar tchau". É claro que os pequenos seres não se deixam comover de primeira e só não prolongam a "cerimônia do adeus" porque trata-se de um programa de televisão, com tempo de duração rígido.


Sobre os Teletubbies muito se tem falado e escrito nos últimos tempos. Há quem veja na bolsinha vermelha de Tinky Winky uma espécie de referência gay. Pode ser... vai se saber as referências do criador deste personagem. Mas não seria impossível também simplesmente tratar-se de mais uma reprodução do universo infantil. Posso dizer que muitos machos de camisa xadrez que andam por aí, quando criança, vez por outra se travestiram por brincadeira. Normal.


Imaginar conteúdo gay no programa pode muito bem ser obra de gays, que adoram lembrar que grandes nomes da história eram homossexuais... até como forma de mostrar à sociedade que gays também brilham (sem trocadilho, por favor). Da mesma forma, esta colocação pode ter partido da patrulha anti-gay. Irrelevante portanto a discussão, visto que infrutífera.


Olhando Teletubbies assim, rapidinho, o que dá para perceber é sua clara intenção de colocar na telinha o jeito das crianças. É um pouco forçado nesta infantilidade, pois acho que criança não gosta de ser tratada como imbecil, não fosse assim, Vila Sésamo, Sítio do Pica-Pau-Amarelo e Rá-Tim-Bum não teriam feito tanto sucesso.


Mas na verdade o que mais me interessou, depois de assistir, o programa foi a avaliação do meu amiguinho Lucas, de 9 anos.


Lucas, quando perguntei o que ele achava dos Teletubbies, começou a cantar e dançar pela sala, do jeito desengonçado e rodopiante do quarteto televisivo. Seu rosto lindo de Leonardo di Caprio transfigurou-se. O queixo foi para a frente e o olhar ganhou um caráter alienado. A voz, normalmente rouca e forte para um garoto de sua idade, tornou-se um pouco mais aguda e infantil.


Ao final daquela estranha dança, ele virou pra mim, ainda com as feições e voz encarnadas, e disse: "é completamente débil, é completamente débil, é completamente débil”.


Aí fiquei tranqüila. Isto passa. Agora... se você conhece alguém de mais idade que consiga curtir os Teletubbies, encaminhe a um tratamento. Se seu filho abandonar o programa para passar a ver e ouvir Sandy & Júnior... o caso pode ser grave.


Já as crianças de 2 a 5 anos... bem... estas a gente só vai saber daqui a um tempo.


É hora de dar tchau, é hora de dar tchau, é hora de dar tchau.