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Esta semana convivi com o óbvio e fiquei encantada

Segunda e terça-feira estive totalmente envolvida com a visita de Tenzin Gyatso, o XIV Dalai Lama.

Segunda e terça-feira estive totalmente envolvida com a visita de Tenzin Gyatso, o XIV Dalai Lama, que veio a Curitiba para o seminário Valores vHumanos e sua Prática na Vida Cotidiana. Sua Santidade, como o chamam os budistas, é uma figura engraçada. Ri dos próprios “erros do seu inglês ruim” e responde infinitas vezes as repetitivas perguntas que lhe fazem. E por mais distintas que sejam estas repetitivas perguntas, as respostas sempre seguem o mesmo caminho e desembocam na mesma questão, a valorização das possibilidades humanas.


Como não gostar de um homem que acredita que o importante é a prática de se viver a vida eticamente? Que sem ser tolo ou inerte também não se deixa cair na beligerante neurose que temos visto entre tantos povos e facções do mundo moderno. E olha que ele bem teria motivos para uns atos de terrorismo de uma Ação Revolucionária Tibetana da vida.


Mas este não é o papinho dele, que prefere refletir sobre a raiva e o ódio e que está convencido de que estes dois sentimentos não são meios para solucionar problemas. Prefere falar sobre compaixão. Do you know it? Sobre ser feliz.


Fala de uma maneira tão óbvia que é impossível discordar. É tão óbvio que se torna um pouco irritante ver que é necessário o Sr. Tenzin sair de seu mosteiro e percorrer o mundo porque o óbvio, infelizmente, às vezes precisa ser dito. E ele diz e diz e diz. Tornou-se seu ofício e ele o realiza com grande prazer, percebe-se claramente.


Apesar de rir como criança e falar com a pureza só imaginável em uma criança, não é bobo. De jeito nenhum. Sem dizer uma palavra sequer sobre o assunto, conseguiu ser recebido por Fernando Henrique Cardoso depois de dias de negativas. E conseguiu isto não como uma deferência. Conseguiu como uma vitória política num mundo de lobos. Não, bobo ele também não é.


Esta sua falinha mansa que a uns conquista e a outros irrita, a muitos deixa uma sensação de ser politicamente incorreto não apoiar sua causa, por mais que sequer a entendam direito. Talvez até levados um pouco pela doce criança que foi segundo a versão Brad Pitt de sua vida, o filme Sete Anos no Tibet.


Dalai Lama, tirando os chineses, é quase uma unanimidade. É bem verdade que os chineses são muitos e desequilibram qualquer balança... mas foi por isto que FHC o recebeu, a despeito do temor de ver complicada a relação diplomática entre Brasil e China. O presidente deu um jeito de se encontrar fora do Palácio do Planalto com o líder tibetano. Ficaria chato para ele se não o fizesse. Comprovaria a tese de Luiz Fernando Veríssimo e teríamos todos a certeza de que este FHC é mesmo um clone daquele outro, o sociólogo.


Mas e o que isto tudo tem a ver com televisão? Há um link, sempre há. E calma, não vou falar da cobertura que as emissoras fizeram do evento, o que até poderia ser interessante. Vou contar um certo burburinho que circulou entre os 2500 participantes do seminário.


No Teatro Ópera do Arame, em Curitiba, havia pessoas de toda parte do país e até de outros países, próximos e distantes. Havia budistas, havia simpatizantes, estudantes, jornalistas, pesquisadores... havia de tudo. E havia artistas. Artistas famosos e outros nem tanto.


Sim. Estavam lá Christiane Torloni, Maitê Proença, Karina Barum, Ruth Escobar, Fernando Eiras, Gilberto Gil, Elba Ramalho, Baby (Consuelo) do Brasil, Rita Lee...


A imprensa, é óbvio, abriu espaço para eles e isto irritou profundamente uma boa parcela de "autênticos" budistas. Era comum ouvir comentários do tipo "ele só quer aparecer" e outros menos lisonjeiros. E eu lá, ouvindo tudo isto e pensando que todo mundo acha legal o Richard Gere ser budista... mas a Maitê? Aquela loira??? Quanto preconceito! Que sentimento pequeno e nada ligado aos ensinamentos do líder. Que paradoxo.


De repente me vi, a grande gozadora dos “televisíveis”, defendendo a galera. Será que só porque são famosos não podem ter admirações e crenças? E se as tiverem devem escondê-las? Aí entendi porque a missão de Dalai Lama sobre a terra é repetir, repetir e repetir as mesmas coisas. É ser óbvio. Nem seus seguidores entendem o que fala. Até os budistas têm muito o que aprender sobre compaixão.