“Central do Brasil marcou um importante ponto na corrida pelo Oscar 99: o filme brasileiro ganhou, na madrugada desta segunda-feira ( 1h45m, hora de Braslia), o Globo de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro, derrotando produções como a dinamarquesa "Festa de famlia" e a holandesa "The polish bride". O prêmio, entregue pela Associação de Correspondentes Estrangeiros de Hollywood, o segundo mais importante da indústria cinematográfica americana, considerado uma prévia do Oscar. (Hugo Sukman/OGlobo) Fonte(s): O Globo"
E agora uma pergunta: Quantas vezes você ouviu ou leu a frase "o prêmio, entregue pela Associação de Correspondentes Estrangeiros de Hollywood, o segundo mais importante da indústria cinematográfica americana, considerado uma prévia do Oscar"? Por mais verdadeira que seja a frase, e parece que o é - a não ser que seja um belo exemplo da máxima que afirma que uma mentira repetida mil vezes se torna verdade -, a falta de imaginação para dizer ou escrever isto é gritante. Ouvi esta mesma construção em pelo menos 3 telejornais, dois programas de canais por assinatura e li em muitos, muitos jornais. Isto faz lembrar algo em Fernanda Montenegro que sempre me chamou a atenção... o jeito que ela diz "ai meu Deus". Infelizmente, não sei usar os recursos de cyber-audio que o colega Alex Saba muito bem utiliza em sua coluna. Se soubesse, poderia demonstrar ou simular a entonação que a atriz "imprime" nesta expressão.
Um "ai meu Deus" suplicante, mas um pouco abafado. Diferente de todos os outros que andam por aí. O "ai meu Deus" é da Fernanda Montenegro.
E por que a repetição do texto sobre o Globe Awards me remeteria a Fernanda Montenegro? É que tenho uma dívida terrível: será que todos personagens falam "ai meu Deus" e nunca percebi ou a interjeição na boca de Fernanda Montenegro ganha destaque? Ou será um vício da atriz transportado a suas interpretações?
Ai meu Deus digo eu ao imaginar as mensagens que chegarão de leitores me acusando de não ser digna de, supostamente, apontar uma fraqueza de Fernanda Montenegro. A grande Diva. A 1ª Dama do teatro brasileiro. Nossa jóia mais preciosa.
Calma! Se um vício... um vício da Dona Fernand(oida)ona. Não se compara ao ligeiro tremular de cabeça do Francisco Cuoco, totalmente desprovido de classe. Muito menos ao jeito que Tarcísio Meira invariavelmente simboliza preocupação, levando os dedos polegar e indicador imediatamente superior ao nariz, entre as sobrancelhas. Não. Se é um vício, um vício vivido com estilo, reconheçamos.
Esta Fernanda Montenegro é terrível. Suas atuações soam tão naturais que, quando ela fala por ela mesma, em entrevistas ou depoimentos, não fica muito diferente de quando a vemos nos palcos ou na telinha, o que pode levar os incautos a acharem que ela está sempre representando. Como a pausa entre o "My English is not very good... my soul is better (longa pausa)... you choose", que ela disse ao agradecer o Globo de Ouro de Central do Brasil.
A pausa pareceu uma marcação.
Posso até estar fazendo conjecturas estapafúrdias. Mas senão... quem há de criticá-la por seu talento em transitar entre palcos e "falas" com similar empostação? Depois de longa vida nesta vida...
A primeira vez que escrevi em um jornal tinha 16 anos e hoje estou com quase 37. Seguramente, a mesma Márcia que conversa é a que questiona em entrevistas. Já ouvi algumas vezes pedidos para que deixasse na redação a jornalista, coisa que sempre me pareceu impossível.
Por isso, não pediria a Fernanda Montenegro que, fora do palco, deixasse de ser atriz. Não adiantaria.