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O amargo regresso

Depois de quase um mês sob o escaldante sol da Bahia... eis que volto me sentindo a própria Sílvia Pfifer.

Depois de quase um mês sob o escaldante – e paradoxalmente maravilhoso - sol da Bahia, longe de jornais, TV, Internet e qualquer tipo de informação ao qual estou habituada... eis que volto me sentindo a própria Sílvia Pfifer. Não que tenha crescido, emagrecido ou embelezado como a tal... nada disso. É que eu também sou outra. Acho que sou minha irmã gêmea que tomou meu lugar para livrar-me do perene tom plúmbeo do céu curitibano.


Ai quem dera fosse! Sou eu mesma aqui e não mais a interina Lara, que gentil como sempre assumiu a coluna durante minhas férias (e uma multa enquanto se dirigia ao aeroporto para me buscar).


Ao chegar, ciente do compromisso semanal de mantê-los absolutamente informados sobre minhas imprescindíveis opiniões acerca do que nos apresenta a TV, retiro ânimo para folhear jornais e revistas que se avolumaram em minha caixa de correspondência. É hora de dar uma conferida na programação.


Começo pela revista da NET, que de destacável traz a inclusão do Canal Brasil (24 horas de filmes nacionais) na sua grade. Os três filmes do Roberto Carlos; Tati, a garota; um festival Zé do Caixão; A Hora da Estrela; O Quatrilho e muito mais.


Mas as novidades mesmo estão na minha querida Globo. Na mesma semana temos a estréia de O Auto da Compadecida e do novo programa do Chico Anísio. Uau! Vamos ao que interessa. Abandono revistas e jornais e prostro-me diante da telinha. Voilá!!


O Auto da Compadecida 


Antes de tudo, devo contar algo que delata minha idade. Quando li nos jornais que texto de Ariano Suassuna estaria na programação da semana, minhas primeiras lembranças não estavam relacionadas a qualquer de suas montagens teatrais. Imediatamente lembrei do Mederix - personagem de Ney Latorraca em Estúpido Cúpido - que com outros personagens interpretou a peça no decorrer da trama. Além de velha descubro que tenho memória.


E já que falei em Estúpido Cúpido... onde anda Djenane Machado, que fazia uma freirinha moderna na novela e que há anos não vejo ou tenho notícias? 


Bem... isto é outro assunto...


Interessante que um dos principais méritos de O Auto da Compadecida é justamente o que causa certa estranheza. Este negócio da Globo, vez por outra, produzir seus programas em película apresenta um resultado no mínimo curioso e, confesso, ainda não tenho claro se gosto ou não. É claro que há um salto na qualidade das imagens, mas também é fácil identificar a fonte de meu estranhamento.


Minha formação audiovisual é tanto cinematográfica quanto televisiva. Criei-me entre uma e outra e instintivamente fui me habituando às distintas linguagens de ambas. E agora vem a Globo e reverte isto... nem sei se por opção ou vício.


Explico. Guel Arraes, o diretor de O Auto da Compadecida, fez televisão com textura de cinema. Ou cinema com enquadramento de televisão. Como preferirem. Uma espécie de Frankstein no qual as cenas do "filme" são quadradinhas como as tradicionais novelas do formato televisivo.


Estranho. Muito estranho.


Chico Anísio


Há alguns anos, quando ainda pilotava sua Escolinha do Professor Raimundo, Chico Anísio comprou uma enorme briga com os humoristas da nova geração e alguns setores da Globo. Na época humorista, vociferou contra a fórmula de Bussunda, Arraes & Cia.


Depois deste episódio, talvez não por causa dele, Chico foi colocado na geladeira (e para piorar a situação, lá ficou enclausurado junto a Zélia Cardoso de Mello, então sua esposa). Passado o período de ostracismo, Chico volta em um programa no qual aproveita para exorcizar os dois demônios.


Abandona a desgastada fórmula de múltiplos personagens e abraça um humor de crítica comportamental, típico daqueles que no passado criticou. Se sua intenção era mostrar que sabe fazer, e melhor, este tipo de humor... de certa forma conseguiu. Sem sombra de dúvida é um ator infinitamente mais requintado que Fernando Guimarães e Pedro Cardoso. E buscou apoio em Regina Duarte, que não merece ser comparada a Maria Paula de Casseta e Planeta. Goste-se ou não dois dois.


Exorcizou com sucesso o primeiro demônio.


O segundo... bem... o segundo é mais pessoal. Separado de Zélia e acumulando "n" pensões alimentícias, Chico Anísio fez galhofas sobre o casamento numa espécie de Comédia da Vida Privada conservadora. Seu personagem riu, debochou e escrachou a ex-mulher. O autor encontrou para ela um relacionamento afetivo-intelectual e, para ele, o ex-marido, uma aventura sexual. Estereótipo pouco é bobagem, mas talvez numa espécie de mea-culpa, o bom e velho Chico pára por aí. Faz piadas mas conclui, ao voltar para sua ex-mulher (Regina Duarte), que não dá conta de Luana Piovani e que no fundo no fundo "panela velha é que faz comida boa".


As duas estréias da semana são competentes. Mas não surpreendentes.


Obs: assistindo a uma reprise do Jô vejo Adriana Calcanhoto cantando no final do programa. Se ela é uma gaúcha que mora no Rio de Janeiro, eu entenderia se passasse a "chiar"... mas porque ela cantou repetidamente "córação"... ao melhor estilo nordestino?


* Lancei aqui nesta coluna um concurso que premiaria o leitor que acertasse quais seriam as atrações musicais do especial de Natal da Xuxa. O leitor que mais se aproximou da resposta certa (Netinho, Leonardo, Daniel e Fat Family) foi Rogério C. Borges, de São Paulo. Ele deixou de fora apenas a Fat Family e já recebeu o CD de sua escolha (Chet Baker – The Last Great Concert – Vol. 1 e 2).