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Guiminha, Tiffany e Júnior se perdem numa rave

Recebi, nesta semana, a longa mensagem de uma senhora que assina o improvável nome de D. Gertrudes Mananguá, de Foz do Iguaçu.

Recebi, nesta semana, a longa mensagem de uma senhora que assina o improvável nome de D. Gertrudes Mananguá, de Foz do Iguaçu. Reservo-me o direito de editar suas palavras e tecer alguns comentários, point-by-point... se é que esta expressão existe.


Vamos ao que nos diz dona Gertrudes:


"O que me assusta hoje já não é a tecnologia. São os padrões morais, os valores que devem sustentar a organização da sociedade. Estou estupefata com a novela Torre de Babel. Gostaria que você me explicasse o que entendi, porque me parece, 'não tô entendendo'. No enredo, há famílias exemplares. Com pais, mães e filhos exemplares: Marta e César não parecem pais traumatizados porque perderam um filho adulto e nunca deram conta do envolvimento do filho com as drogas, ao ponto da nora ter que sustentar seu vicío às custas de se prostituir pra sustentar Guiminha. (...)”


Até aí tudo bem. A vidinha nossa está cheia destes exemplos. Pais, como maridos traídos, são sempre os últimos a saber mesmo. César esteve mais preocupado em detonar o detonador Clementino e Marta passou a vida absorta com a paixão que seu marido mantinha por Lúcia. Coisa normais de família...


"O outro filho também adora consumir drogas (primeiro, a Sandrinha, esmurrada com o apoio machista dos telespectadores) e depois a mulher do pai! "


Aí o caso é mais grave. Todo mundo acha normal e não aconselha tratamento para um "saudável" jovem advogado que tem por hábito se apaixonar louca e subitamente por qualquer mulher que apareça em sua frente. Primeiro uma galinácea e depois a ex do pai. Caso tão banal que todos temos um primo igual...


"Irmãos, irmãs e cunhadas exemplares: Clara é irmã de criação de Marta que, em detrimento deste laço, deixa a outra morar numa biboca e depender dos favores de Bina pra montar uma bodega que servirá de ganha-pão."


A Senhora, D. Gertrudes, parece não ser do interior do Brasil. Na sua família nunca existiu a figura da "agregada"? Aquelas figuras que moram na casa da sua família e que são consideradas "como filha" mas que, na verdade, não passam de empregadas sem remuneração. Era este o caso da Clara. César e Marta deram graças a Deus por ela ter ido embora sem jogar pra cima deles uma ação trabalhista após anos na função disfarçada de governanta...


"O cunhadão imoral, aquele mesmo pai do drogado e corno por tabela, por obra do próprio filho, odeia o marido da irmã da esposa e tudo faz pra sabotá-lo. O mesmo César consegue ser o rei dos otários pra sua funcionária vingadora - devia, agora, transar com ela e depois viver feliz para sempre. Aliás, ela deveria ter como alvo o irmão imbecil Alexandre, muito mais fácil de enrolar e bem menos disputado."


Belíssima sugestão. Alexandre, o Boina, teria então mais uma paixão avassaladora, desta vez, por Ângela. Seguiria sua trilha de escolhas insensatas... E, no último capítulo, estariam todos juntos na ceia de Natal. Inclusive a ex-amante do pai, que no momento, ainda é a namorada do filho. Lúcia inclusive, voltando à idéia inicial do autor, terminaria a novela com Marta, concluindo o que não foi possível com a dupla Pfifer/Torloni...


"Filhos bem agradecidos: a mãe de Claudia Raia (que se obriga a conviver com as horríveis cenas eróticas da caidérrima Letícia Sabatella com seu marido inteiraço) trabalha de empregada não só pra lavar, esfregar e servir aos patrões, mas também pra servir à vingança da filha, sentimento altivo cultivado pelas duas em detrimento de todo o conforto e a boa vida que poderiam estar usufruindo."


A Senhora não conhece a máxima que diz: "se você pode ser infeliz... pra quê ser feliz"? Está querendo acabar com a novela? Sinto dizer que é impossível uma boa trama sem uma dose de vingança. Ângela faz tudo para se vingar de César, que, no passado, explodiu sua família em uma construção. Aliás... Sílvio de Abreu tem uma certa obsessão por explosões, parece...


"Vilma ataca de boa mãe, quando volta de longa viagem ao exterior.


O bom pai-padrão de Sandrinha, além de matar a mãe dela é incapaz de um gesto de paternidade prá com a moçoila que, obviamente, herdou a galinhagem e o mal gosto da excelente criação que o próprio pai desnaturado lhe proporcionou.<br>


Bina faz a tia de idiota e a pretensa sogra, mãe Diolinda, vai muito além dos golpes do baú que podem soar como piadas: cria um filho em condições ideais pra ser um estúpido idiota, massa de manobra de um estereótipo de quantas mães chantagistas que este mundo já viu."


Puxa... famílias boas são estas. Pensando bem... existe, na novela, algum núcleo que possa ser enquadrado no que se imagina uma família razoavelmente estruturada?


"Perderam uma excelente oportunidade para mostrar a utilidade do apoio às famílias de dependentes; a possibilidade de felicidade conjugal entre homossexuais; as lições de solidariedade para com ex-presidiários, egressos recentes de casamentos malogrados; ex-prostitutas e avós que, tão comumente hoje, se obrigam a desempenhar papel de pais e mães."


Que idéias são estas, D. Gertrudes? Eles não saberiam fazer isto. Quando tentam ser positivos caem em outros erros: ou se tornam piegas, como em Carossel e Cia, ou maniqueístas, como em "Mulher" e "Você Decide". Os autores de novelas têm tanto trabalho para entregar os capítulos que acabam se tornando malucos. Passam o dia inteiro na frente do computador escrevendo maldades como forma de vingança contra os alegres banhistas que vislumbram de suas janelas com vista panorâmica para a Barra da Tijuca. Ou contra os jovens alegres que passeiam por Jardins...


"A família brasileira deve ter se espantado com a preocupação dos avós Marta e César que, muito além de topar um merchandising (ou plug) prum colégio abonado, falam o seguinte texto: 'As crianças não vêm jantar porque estão fora, foram a um passeio com o colégio'. Que colégio é este que leva crianças daquela idade prum passeio noturno numa grande capital? Devem ter ido assistir Garganta Profunda ou Mamãezinha Querida, onde a sordidez e o escárnio, pelo menos, não estão travestidos de trama light do shopping center..."


Realmente. Como a estória acontece em São Paulo, imagino que a professora tenha levado as crianças para uma rave. Parece que Guiminha, carregando os genes de Guilherme, foi visto embolado em uma almôndega após ter tomado três Ecstasy ao som do melhor techno. Tiffany encontrou um intelectual que a convenceu a tomar café da manhã na loja de mesmo nome, em Nova York, como faria Holly Golightly no livro de Trumam Capote. E Júnior foi o único que voltou para casa aparentemente na boa. Também seguindo a tradição da família, não contou nada do que a irmã e o primo fizeram e hoje compra cartuchos de videogame com a mesada que os dois repassam, religiosamente, para ele em troca do silêncio.


Faz sentido, não? Escreva sempre D. Gertrudes.