Não está fácil escrever sobre televisão nestes tempos de futebol. É uma verdadeira overdose. Sugiro aos institutos de pesquisa uma checada na opinião pública para saber se a unanimidade brasileira em torno do futebol é concreta. Olho em volta e não vejo isto como uma realidade incontestável.
Se você pertence a esta minoria que não considero assim tão inexpressiva, receba aqui minha solidariedade. Só posso me compadecer daqueles que não gostam de futebol nos dias que seguem.
Veja só: são 64 jogos transmitidos ao vivo ou não. 13 mesas-redondas e todos os telejornais brasileiros com boletins direto da França, mais os internacionais. De quebra o "Boteco do Ratinho". Não sobra muita coisa.
A coisa é tão triste que o destaque da programação para o dia 11, segundo o caderno TVFOLHA, da Folha de São Paulo, era um seriado sobre a vida de David Hasselhoff, astro de SOS Malibu, no GNT. Você pode imaginar sua vida sem isto?
Fui conferir o que rolava e - além de filmes, desenhos animados, seriados e documentários de sempre - dei de cara com uma reprise da homenagem a Bob Dylan. Na minha janela uma procissão de Corpus Christi e na telinha a imagem de Dylan e Neil Young. A volta dos mortos vivos perde.
Por incrível que pareça a única coisa interessante vinha da RTPI, uma entrevista com a cantora Eugenia Melo e Castro. Ela anunciava algo interessante para o Brasil. A RTPI e a Cultura de São Paulo "estão a co-produzir" um programa que entra na grade em junho (já entrou?) e que tem uma fórmula legal. Duplas de artistas, um português e um brasileiro, se apresentam juntos. Uma idéia bacana pois acho fundamental promover algum tipo de intercâmbio entre Brasil e Portugal que não seja de piadas e dentistas.
Isto é tudo.
Agora, além de minha solidariedade e compaixão, posso ainda dar um conselho: caso você não goste de futebol, jamais mencione isto publicamente. Vocês não sabem a quantidade de mensagens desaforadas que recebo cada vez que digo não gostar deste ou daquele programa.