Aqui em Curitiba, e em quase todo Paraná, chove há aproximadamente dois meses. Não bastassem o atraso do preparo do solo e plantio, as enchentes, os prejuízos para horticultura, um problema quase incomensurável se sobrepõe sem que a maioria perceba: o astral. Deus me livre! Está difícil suportar o humor do povo, inclusive o meu. É como se o perene cinza do céu e do asfalto se expandisse para dentro de nós, roubando o lugar de todo colorido que porventura habitasse nossa alma. Além de ele, o cinza, fixar-se em nossa pele carente de um pouco de sol. E não é só o cinza. Ainda que esta cor sem graça seja capaz, sozinha, de quando em excesso enterrar a alegria, há também a umidade. Se a estiagem favorece a aridez humana, a umidade nos embolora? Ficamos mofados? Tanto faz. Só resta tomarmos consciência disso e controlarmos o nível de grossura que produzimos. Tentarmos viver, apesar da chuva. E lembrarmos sempre que o porteiro, o amigo, o vizinho, o colega, o chefe e o subalterno... a culpa não é deles. Que também estão ficando cinza.
Cinza, cinza, cinza…
Chove há dois meses, pouco mais ou pouco menos, e o cinza começa a entrar na alma.