Nunca um nome de personagem de novela foi tão apropriado: Helena. Uma típica mulher de Atenas, como tão bem cantou Chico Buarque. Mirem-se em seu exemplo.
Helena não é uma mulherzinha qualquer. Destas que fecham o barraco quando vêm seus homens partirem nos braços de outras. Ela é maior do que isso. Aceita até que esta outra seja sua filha.
Mais do que isso. Fica feliz quando a pimpolha engravida de seu ex e consegue até recebê-lo em casa e preocupar-se com a incipiente carreira médica de seu ex-amor agora genro.
A Helena de Atenas não põe a filha a correr. Sequer torna um inferno os almoços dominicais com indiretas e provocações. Ela não corta a mesada da filha e sofre, de verdade, a cada pequena tristeza da moça. Esta Helena não prepara armadilhas e retaliações aos traidores.
Com voz doce e olhar lânguido, Helena de Atenas diz para a filha grávida: "aceitar tudo do filho. Isto é ser mãe". E, ironicamente, este olhar e voz melíflua são de Vera Fischer, a escancarada. Aquela que notadamente vive paixões e ódios intensamente. Ah, a ficção!
Mas Helena de Atenas vai mais longe. Supera todos os complexos embasados em seu conterrâneo Édipo e aceita que seu lindinho... seu único filhinho homem... seja apaixonado por uma garota de programa que já traz no nome o estigma da traição machadiana, Capitu.
Que estigma tem esta Helena. Começou a vida tendo que mostrar sua magnitude. Entregou ao marido a paternidade de filho que não era dele. Fez por maldade? Nada! Fez por amor à filha e respeito ao cônjuge. Abdicou, pela primeira vez, da felicidade ao lado de Pedro, o amor juvenil.
Mas Pedro volta à cena e pulamos, da Grécia antiga para um filme spagetti. Nossa heroína divide o coração entre três homens: o feio (Tony Ramos), o bruto (Pedro) e o belo (Edu). Quem vencerá?
É esta a crise básica de identidade em Laços de Família. Entre a Grécia antiga, a brasilidade de Machado de Assis e o exagero italiano... só resta o pastiche.