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Os 500 Anos do tédio

Não vejo muita diferença entre marketing religioso e marketing de vendas. Eu quero meu presente!

Sei que Páscoa e Natal um dia tiveram significado religioso até serem expropriadas por comerciantes e se tornarem o que hoje são... pretexto para vender. Sei de tudo isso e não me importo... quero meu chocolate e quero meu presente. Até porque, não vejo muita diferença entre marketing religioso e marketing de vendas.


Fiz este preâmbulo para deixar claro a meus leitores que não sou do tipo purista, que acredita na intocabilidade de ícones ou seja lá o que for. Acho inevitável que falsas manifestações populares sejam forjadas para que poucos se deleitem e locupletem. Considerando o grau de entorpecimento em que vive parcela considerável da humanidade, compreendo até que se deixe envolver por atmosferas criadas em determinadas circunstâncias.


Mas com o perdão dos termos, não encontro outros... puta que pariu... não agüento mais este papinho de 500 Anos de Descobrimento. É Especial 500 Anos... Seriado 500 Anos... Invasão 500 Anos... Flechada 500 Anos... 500 anos de Arte Brasileira... os 500 Anos no Cinema... Peninha (Eduardo Bueno) no Jô, na CBN... TV5 faz programa 500 Anos... RTPI... DW... que dor!!!


O mala do Hans Donner, não bastasse aquele relógio cretino, outro dia fez uma pintura 500 Anos em sua Globeleza. Qualquer semelhança com carnaval não é mera coincidência, basta ver o estilo do nosso mestre de cerimônias oficial, o Ministro Rafael Greca, dono de perfil e espírito que mais se aproximam ao de uma figura momesca.


E a coitada(*) da criança que inocentemente declama I-Juca Pirama é editada ao lado do igualmente coitado Pataxó. E a polícia baixa o cacete na galera para que os olhos das autoridades acomodadas nos palanques de Cabrália não fiquem conspurcados pela visão do outro lado da festa.


Vai faltar espaço no Fantástico para mostrar tantas genuínas promoções em comemoração aos 500 Anos. Ainda mais quando precisa reservar espaço para as Paixões de Cristo, Autos da Cruz e Lava-pés. Não esqueçamos que é, ou terá sido, Páscoa.


A coincidência das datas prova, inclusive, o que já sabemos. Que FHC e Roberto Marinho não são tão poderosos assim. Se fossem, teriam ligado para o Papa, com necessária antecedência, e dito:


-         “Karol, vê se adia a Páscoa por uma semana. Vamos perder muita grana deste jeito”.


(*) Nunca entendi o fato de ser feio escrever fodido, mas não ser feio escrever ou dizer coitado, até pesquisar e descobrir que a expressão coitado vem do termo latino coctare (afligir, desgraçar) e não do também termo latino coitu (coito, relação sexual). Sempre imaginei serem sinônimos.


P.S.: Na próxima semana não deixem de ler as 100 colunas de Telemania. Se eles podem... porque não eu? É verdade mesmo, esta é a coluna de número 99.